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Ela

Agora é a vez do Chile. O tradicionalmente estável país, tantas vezes elencado em primeiro lugar no rol do desenvolvimento social e econômico entre os latino-americanos, experimenta a convulsão social que toma suas ruas.

Nitidamente viabilizadas as manifestações populares pelo advento das redes sociais, que a tudo tem facilitado nos cotidianos dos comuns, do que é bom ao que é ruim, eis que emergida outra revolta expressada em ambiente público contra governo.

Aos que lemos, ouvimos ou assistimos se debruçar sobre o tema, na busca das razões para tanto, ali em solo chileno, como pelo que ocorreu e ocorre pelo continente americano e no mundo, parece ser só o instrumento de mobilização quem personifica identidade entre os protestos.

Claro, há a detecção (não unânime, mas maioral) de que se tratam de monções disformes, apócrifas, extrapartidárias e ideológicas, até espontâneas em certo grau, tanto quanto pulverizadas e de pautas esparsas ao ponto de ininteligíveis, no mesmo passo que transitórias.

Tal qual aquelas deflagradas aqui no Brasil, no ano 2013, para a nossa graça, sem o teor de violência e número de mortes que o movimento chileno já desgraçadamente contabiliza.

Já que há tantos tentando compreender de onde vêm, por quais razões, e para onde vão os que caminharam em brados e embates pelas cidades, como os que estão caminhando, eu também posso buscar por ao menos uma razão identificável.

E, por simplista que posso ser, pois leigo, vejo entre Chile e Brasil, neste aspecto, uma diferença de apenas 10 centavos, sem conversão entre as moedas pátrias, fiquemos assim.

Se aqui o gatilho disparado foi aumento de tarifas no transporte público em R$ 0,20, lá foi estopim a razão de $ 0,30. Aqui ainda se dizia não ser só por R$ 0,20, lá não sei se alguém gritou não ser só, por sua vez, pelos $ 30 centavos.

Mas é nítido que por trás das respectivas cifras, um sem número de inconformidades e irresignações ganhou oportunidade a alicerçar as insurgências.

Assim, é preciso notar que mesmo as migalhas pecuniárias ditas representam gotas derradeiras em copos que vem se enchendo em silêncio, por doses de desigualdade social seculares e esperas por atos governamentais que ao menos as dirimissem.

Os centavos trazem mais: em uma vida de dificuldades tantas, já encaradas com costume, agora em regime de cansaço, eles podem comprometer o ir e vir dos homens e mulheres, daqui e de lá. Sim, pois para ambos, brasileiros e chilenos, os tostões materializam mais uma dificuldade a ser enfrentada na mobilidade, na possibilidade de exercício de anseio (e direito) fundamental de cada indivíduo, logo, mover-se.

Sim, aí já é demasiado o açoite.

Como no resto do mundo, onde protestos emergem e emergiram, querendo livrar as nações de tiranos instaurando a democracia, de blocos geográficos econômicos buscando pela independência e exercício da soberania nacional diante do restante da Europa, por exemplo, o ato de se insurgir daqui e de acolá para poder andar por aí, me parece, tem mais que analogia ou similitude, um alicerce de identidade.

Ela: a liberdade.

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