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Deixe o dedão do pé em paz e raciocine com o cérebro



Quase que diariamente somos bombardeados com atitudes que nos fazem imaginar se algumas pessoas pensam com o cérebro ou com o dedão do pé. Pois, há alguns anos, os jornais de Porto Velho (RO) trouxeram a notícia de que a Câmara Municipal de Vereadores daquela cidade aprovou em primeiro turno o seguinte projeto: "Fica declarado, profeticamente, Jesus Cristo como o único senhor e salvador da cidade e que a cidade renuncia a toda obra realizada no passado de prostituição, impureza, lascívia, ruínas, homicídio, roubos, corrupção, idolatria, feitiçaria, tráfico de drogas, prostituição infantil e toda maldição de primeira, segunda, terceira e quarta geração". E mais, ainda. Para que não fosse arguida a sua inconstitucionalidade, recebeu uma parecer técnico-administrativo declarando-o "perfeito sob o ponto de vista da ótica jurídica".

É impressionante como, em pleno século XXI, há pessoas com mentes kit-nets, que tentam misturar coisas que não se misturam: política e religião, por exemplo. Ora, partindo do pressuposto que Jesus é o único salvador da cidade, como ficam aquelas pessoas honestas, benfeitoras, caridosas e bem intencionadas que professam a sua fé pela doutrina budista, ou aqueles que, ao invés de lerem e seguirem a Bíblia, seguem as mensagens da Torá, o livro sagrado dos judeus ou o Alcorão dos muçulmanos? Aliás, não creio, francamente, que você pense que o Alcorão incite a todo muçulmano ser um homem-bomba. Terroristas podem se tornar todos aqueles fanáticos que misturam política com radicalismo religioso (e como têm), confundindo, entravando e enferrujando a liberdade no exercício do pensamento racional, através da lógica e da razão. Ninguém ganha uma "cadeira no céu" porque professa esta ou aquela religião. O que vale, verdadeiramente, para que alguém tenha uma vida melhor após a chamada morte são duas coisas fundamentais e determinantes, independentes de ser religioso ou ateu: suas ações e suas obras aqui neste planeta-escola. Precisamos ter em mente que, assim como todos os outros livros, o evangelho de Jesus contido na Bíblia é um código comportamental e que decorá-lo e interpretá-lo ao pé da letra, como algumas religiões o fazem, pode nos levar a cometer disparates como esse proporcionado pelos políticos porto-velhenses.

Quem nos salvará não é Jesus, nem meu santo de devoção e muitos menos algum decreto religioso e muito menos legislativo, mas sim nós mesmos através do conjunto das nossas ações junto aos que nos rodeiam. Não nos esqueçamos que a moeda de troca na espiritualidade é a caridade nas suas mais infinitas formas de praticá-la. Quando chegarmos lá, (e todos chegaremos), não nos será perguntado "quem fomos?", e sim, "o que fizemos?". Lembre-se que fomos criados e dotados de inteligência e com capacidade de racionarmos logicamente. Por isso, deixe o dedão do pé em paz e raciocine com o cérebro.

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