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Alguns Coutos por aí!

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Meu avô Justino Ribeiro Couto está ao meu lado agora, em Tiradentes. Aqui onde permanecemos isolados, Tania e eu, por conta da pandemia de hoje em dia. Ele e vovó Hermínia conosco, rememorando episódios santa-marienses. Vovô sorri ao me ouvir relembrar que Tania nasceu exatamente no dia em que ele partiu para o céu, 1º de junho de 1946.

- Pois é, meu neto - ele diz. - Tu estás certo ao afirmar que o Tempo é ficção.

Sorrimos e passamos a rememorar o passado, o presente e o futuro. Eu a dizer-lhe que fiquei estupefato quando descobri a quantidade de pessoas com o sobrenome Couto que existem entre nós.

Começo por dois gaúchos como nós, os irmãos juristas Clóvis e Almiro do Couto e Silva. Meus amigos que já lá estão, no céu, mas cujas lições permanecem a iluminar advogados e juízes. Depois me dou conta de que os Couto são inúmeros cá entre nós. Por isso mesmo não sei como e por onde prosseguir. Figuras notáveis como Golbery do Couto e Silva, que nasceu dois dias depois, mas 39 anos antes de mim. Perdoem-me, mas é mesmo assim: o tempo é ficção, ele nasceu no dia 21, eu no dia 19 de agosto; ele em 1887, eu em 1940!

Há - e houve - muitos outros momentos. O presente é mais do que passado e futuro. Volto meus olhos, agora, para um livro aqui entre as minhas mãos, A cidade do Vício e da Graça, de Rui Ribeiro Couto! Edição de 1924, com um subtítulo, Vagabundagem pelo Rio Nocturno!. Com c mesmo - naquele tempo era assim! Uma vontade imensa, agora, de gritar "meine lieben Freunde" - em alemão, senhor revisor! - a vida não apenas pode ser, a vida é maravilhosa!

Por isso mesmo mais de uma vez senti vontade de contar, como se fosse a mim mesmo, um fato que um dia após meu nascimento conduziu à alteração do meu prenome. Meu pai tinha um grupo de amigos que sofreu uma ruptura. Dois deles romperam relações de amizade, um ameaçando esbofetear o outro e vice-versa. Jamais se encontraram desde então.

No dia 20 de agosto de 1940 um deles foi visitar meus pais onde nasci, na casa ao lado da do meu avô, na avenida Ipiranga. Ao sair, meu pai levando-o à porta, o outro chegava! Os dois frente a frente, meu pai explicou-lhes que eu viera ao mundo para que eles reconstruíssem a amizade! Abraçaram-se e meu pai naquele instante lhes disse que meu nome seria outro, não Roberto Couto Grau, mas Eros Roberto Grau! Por conta do deus grego da amizade e do amor!

Hoje, octogenário, sei que cá estamos, na Terra, para praticar a amizade, a simplicidade, a humildade. Um trecho de um poema de Alberto Caeiro - codinome de Fernando Pessoa - tudo diz e me ilumina: Quem me dera que eu fosse o pó da estrada / E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

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