colunistas do impresso

A inflação está de volta?

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Se há uma coisa que quase todos estão de acordo é que o Plano Real (lançado no governo Itamar Franco) foi o mais bem sucedido plano de estabilização da história do país. De fato, a inflação que se aproximava de 50%, em junho de 1994, caiu para cerca de 0,5%, em dezembro do mesmo ano. Isso se transformou em capital político que permitiu ao então ministro da Fazenda da época, Fernando Henrique Cardoso (FHC), lançar-se como candidato (vencedor) a presidente da República. Mais do que isso, deu lastro para que ele, inclusive, apresentasse uma proposta de emenda à Constituição que permitiu a sua própria reeleição. Um mal irreparável que, a partir daí, passou a contaminar o ambiente político do país. Cada novo governante assume já pensando na própria reeleição. Mas essa é outra história...

Fato é que, desde o governo FHC, ninguém se arriscou a perder o capital político da estabilização. Nem Lula pareceu disposto a correr o risco da volta da inflação. Tanto que o seu primeiro mandato, em termos de política econômica, é muito parecido com o de FHC. Preferiu manter o sistema de metas de inflação do governo anterior ao invés do crescimento econômico. Motivo, inclusive, de desgaste junto as suas próprias bases eleitorais. Lula só "destravou" a economia no segundo mandato, após a obtenção de sucessivos superávits fiscais.

Todavia, sob a administração Bolsonaro, a ameaça do retorno da inflação - após mais de um quarto de século de estabilidade - parece ser uma realidade. Os dados estão na internet para quem quiser ver. Segundo o portal de notícias G1, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial do país, acelerou de 0,89% em agosto para 1,14% em setembro.

Segundo o IBGE, "trata-se do maior resultado para o mês de setembro desde o início do Plano Real, em 1994, quando ficou em 1,63%", além de ser a maior taxa da série histórica do indicador desde fevereiro de 2016, quando ficou em 1,42%. No ano, o índice acumulou alta de 7,02% e, em 12 meses, o indicador superou os dois dígitos, ficando em 10,05%, quase o dobro do teto da meta estabelecida pelo governo para a inflação deste ano, que é de 5,25%.

Quem são os vilões da inflação? De acordo com o IBGE, a gasolina e a energia elétrica foram os itens que exerceram os maiores impactos individuais sobre o IPCA-15 de setembro, de 0,17 ponto percentual cada. O preço médio da gasolina subiu 2,85% entre agosto e setembro e acumulou alta de 33,37% no ano e de 39,05% nos últimos 12 meses. Já o preço médio da energia elétrica teve alta de 3,61% em setembro. No ano, a alta acumulada foi de 20,27%, enquanto nos últimos 12 meses o aumento acumulado foi de 25,26%.

Diante desse cenário, O Banco Central subiu de 5,8% para 8,5% sua estimativa de inflação para o ano de 2021, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para tentar controlar a alta dos preços, o único instrumento que a autoridade monetária possui é a taxa de juros. Quando as estimativas para a inflação estão abaixo da meta, o BC pode reduzir os juros. Quando previsões estão acima da meta, a taxa Selic é elevada. Em março, o BC promoveu a primeira elevação em quase seis anos e a taxa básica de juros foi aumentada para 2,75% ao ano. Em maio, o juro subiu para 3,5% ao ano e, em junho, a taxa passou para 4,25% ao ano.

Em agosto, a taxa subiu para 5,25% ao ano e, em setembro, foi elevada para 6,25% ao ano. O BC, na última reunião do Copom, sinalizou um novo aumento de um ponto percentual na taxa básica de juros no fim de outubro, o que levaria a Selic para 7,25% ao ano. A última previsão do mercado financeiro é que a Selic atinja 8,25% ao ano em 2021.

Até agora, usando a pandemia da Covid como "cortina de fumaça", o governo Bolsonaro conseguiu desviar a atenção da população do seu fracasso na condução da economia. Daqui para frente, isso não irá mais funcionar. A inflação é o pior imposto de todos, porque prejudica sobretudo os mais pobres. A alta dos juros, por outro lado, torna mais agudo o problema fiscal e freia o processo de retomada da economia. O governo Bolsonaro, infelizmente, é um pesadelo do qual muitos, agora, estão acordando. Espero que não seja tarde demais.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Outubro Rosa Anterior

Outubro Rosa

A feira, a praça e os livros Próximo

A feira, a praça e os livros

Colunistas do Impresso