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A deficiência de respeito

Platão, no livro "A República", e Aristóteles, no livro "A Política", descreveram o planejamento das cidades gregas indicando as pessoas nascidas "disformes" para a eliminação. A eliminação se dava por exposição, abandono ou, ainda, se permitia que fossem atiradas do aprisco de uma cadeia de montanhas chamada Taygetos, na Grécia. Essa descrição choca você?

Quando a analisamos não podemos negar a evolução humana no trato à pessoa com deficiência, especialmente as políticas governamentais de inclusão e acessibilidade. Mas elas funcionam efetivamente? Quem é deficiente ou tem um parente nessa condição sabe muito bem que a resposta a essa pergunta é "NÃO!". As falácias estão por toda a parte: no banheiro destinado a deficientes que está lotado de produtos de limpeza porque "ninguém usa", na ausência de rampas nas calçadas ou rampas absolutamente impróprias, nos degraus em instituições públicas, nos estacionamentos destinados a deficientes e ocupados por quem não o é, enfim... Se eu continuasse a narrar aqui todos os desrespeitos não evoluiremos neste texto.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, prevê, em seu Artigo 1º, que "todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade".

Que parte da expressão "todas as pessoas" temos dificuldade em entender? Em que grau de profundidade você compreende o "espírito de fraternidade"? Até quando seguiremos trilhando esse caminho de não enxergar o outro, de não respeitar suas peculiaridades?

O ser humano se distingue das demais espécies pela sua capacidade de discernimento e criação, mas parece que perde em solidariedade e compreensão. Os tempos modernos nos impõem um ritmo frenético : estudar, trabalhar, comprar, progredir, viajar... Temos pressa! Não podemos nos dar ao luxo de procurar um estacionamento mais adiante para ir ao banco e, afinal, é "só por um minuto" e o estacionamento para deficientes está "vago mesmo"... Só que, enquanto isso, o deficiente que não consegue estacionar na sua vaga vai para casa, porque ele não pode estacionar mais distante, porque alguém que podia andar uma quadra a mais achou isso muito trabalhoso.

Tenha em mente que o deficiente de hoje também é um estudante, um trabalhador, um arrimo de família. E para que essa condição perdure e progrida, ele precisa ter seus espaços respeitados, sob pena de vermos as ideias de inclusão social falidas.

Pare! Pense! Antes de estacionar em uma vaga destinada a pessoas deficientes coloque-se no lugar do outro, respeite suas limitações e valorize suas capacidades. Essa é uma verdadeira democracia, aquela fundada no que é importante para todos e não no que é prático e fácil para mim. Afinal, muito mais séria do que a deficiência física é a deficiência de respeito.

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