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À cata de boas notícias

Tenho me debruçado sobre jornais, ouvido com atenção noticiários de televisão e vasculhado sites especializados sem qualquer êxito em minha busca por boas notícias. Não fora eu um otimista empedernido, por certo, já teria desistido, já teria entregue os pontos, já me teria dado por irremediavelmente derrotado.

Por isso, quase me atrevo, qual Diógenes fora de época, a perambular por aí, pelado, com uma lamparina na mão, em busca não de um homem honesto, como, reza a lenda, fez o grego, mas da ansiada boa notícia, capaz de ter reflexos na vida de um grande número de pessoas. Todavia, assim agisse, com o frio que nos tem maltratado, nem a vacina contra a gripe me livraria de, ao fim de dois ou três dias, pegar uma "peste" braba ou, o que é pior, morrer enregelado, como tem acontecido com irmãos nossos que, à míngua de oportunidades - que não lhes oferecemos - vivem nas ruas de várias das nossas cidades.

Sei que, aqui e ali, surgirão informações sobre notícias auspiciosas que envolvem situações particularizadas e têm reflexo na vida de um número menor de pessoas. É claro que elas são bem-vindas e amenizarão as dores de meu velho e sempre esperançoso coração. Mas não é dessas notícias que falo.

Refiro-me a boas novas que impactem a vida de multidões, que signifiquem possibilidade de transformação de um país, de um povo, de uma nação, que tragam a perspectiva de renovação de ânimos e de sorrisos coletivos, por que é disso que minha gente precisa.

Estou (estamos?) cansado dos anúncios que não se transformam em realidade palpável, das promessas que não ultrapassam o campo das possibilidades retóricas, das falácias e das mentiras oficiais.

Estou (estamos?) cansado de semideuses, de demagogos oportunistas, de populistas que se julgam salvadores da pátria. Estou (estamos?) cansado do "neosebastianismo" que se retroalimenta da ignorância popular e de falsos líderes, que fazem do discurso raso, baldio de qualquer sustentação com mínima coerência, trampolim para o atingimento do poder, onde, encastelados, promessas à parte, querem se perpetuar. Estou (estamos?) cansado de discursos moralistas e de pautas governamentais que se esgotam na discussão de fatos relativos aos costumes. Estou (estamos?) cansado de um Estado, que é laico mas que quer impor aos seus nacionais sanções de ordem moral, fundamentadas em valores de ordem religiosa. E, por favor, não tenho nada contra a religiosidade, que, aliás, entendo fundamental na vida de todos nós, como opção pessoal. Tenho contra religiões que se dizem detentoras únicas da verdade divina, com a decorrente exclusão de todas as demais. Estou cansado dos falsos profetas e dos messias de araque.

Mas, a despeito de meu cansaço, continuarei atento, à espera das boas notícias, que, um dia, tenho certeza, chegarão. Tomara eu possa viver o suficiente para saudar esse dia, que virá depois, disso não tenho dúvida, de um presidente que acha normal o trabalho infantil e, não duvido, acabará por afirmar que o trabalho escravo é útil e deveria ser normal

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