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A casa está caindo no centro de Santa Maria


O teto do Caixeiral caiu. Recebi essa notícia a partir de uma mensagem enviada por minha mãe, em que dizia: "Fiquei triste, a festa do meu casamento foi neste clube há 42 anos". Meus respeitos aos associados, frequentadores e diretores do clube. Não creio que seja sua culpa o ocorrido, muito embora não possa dizer que a queda seja exatamente uma surpresa impactante.

Tenho comigo que a queda do telhado, na verdade, é sintoma de algo muito mais amplo e profundo. Não diz respeito apenas ao clube, mas à cidade, mais precisamente ao centro de Santa Maria.

Não é coincidência o fato de que, enquanto espaços para eventos retirados do Centro inflacionam seu valor de aluguel, salões localizados na área central da cidade, mesmo tradicionais, cheios de história, glamour e charme, enfrentam uma dura realidade para manter-se em pé. O problema é que o centro de Santa Maria passa por um processo acentuado e perceptível de degradação, culpa do poder público, mas também da iniciativa privada.

O poder público tem responsabilidade porque não provê iluminação adequada, limpeza correta do espaço público, ou mesmo manutenção mínima dos equipamentos urbanos, como placas, postes, canteiros, etc, mas principalmente porque não regulamenta e fiscaliza a atuação da iniciativa privada, a segunda, e na minha visão, maior responsável pela degradação do centro de Santa Maria.

A iniciativa privada tem culpa nesse processo por deliberadamente ter perdido a vaidade. Transformou um centro urbano que já foi agradável em algo grotesco. As bonitas fachadas dos antigos prédios, ao invés de mantidas e conservadas, deram lugar a ridículas e enferrujadas placas de farmácias, consultórios dentários, imobiliárias, lojas de departamentos e tudo o mais.

Aparelhos de ar-condicionado são instalados a esmo, sem qualquer preocupação com a arquitetura. Buracos nas paredes são fechados de improviso, com um pouco de tijolo e cimento, sem nem sequer um reboco para disfarçar o remendo. Instalações elétricas são feitas aparentemente na base da gambiarra, deixando à vista de todos um emaranhado de fios soltos. Tudo muito feio, muito desagradável.

É nesse centro da cidade feio, escuro e desprovido de charme que se encontram alguns dos clubes mais tradicionais da cidade e que, não coincidentemente, estão passando por sérias dificuldades financeiras. É compreensível, então, que suas dependências sejam preteridas em relação àquelas outras mais afastadas dessa decadência toda.

Tudo isso é sintoma da crise econômica? Não creio. Se fosse, essa deterioração não seria tão aguda justamente na área comercialmente mais valorizada de Santa Maria. A deterioração é, sim, sintoma de covardia do poder público e de um pragmatismo individualista e míope de parte da iniciativa privada. Reverter esse quadro é possível. Para ser valorizado, o próprio Centro precisa se valorizar, e isso deve começar por quem ali está instalado. Vaidade nem sempre é pecado.

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