vida e saúde

Os donos da razão


Estar 'sempre com a razão', esse procedimento é bem mais comum do que se imagina. O outro que é o errado, senão os outros. Essa conduta começa a aparecer já na adolescência, onde toma corpo e forma assumindo na prática uma dimensão bem maior nas relações interpessoais.

O peso que nossos filhos carregam nas costas

Na adolescência, até de certa forma, é esperado que o adolescente passe temporariamente alicerçado no discurso "os culpados são sempre os outros", já que o adolescente é egocêntrico, e fazer o papel de vítima é chamar a atenção para si, além de ser imaturo para não assumir que ele também pode ser o responsável pelo que se fez vitimar. Nessa percepção distorcida o caráter vai se fortalecendo muitas vezes encoberto pelos pais que, permissivos, não deixam os filhos assumirem as conseqüências do que fazem. 

Esse ego inflado de quem acha que é a ultima 'bolacha do pacote' como eles dizem, faz parte de uma fase de ajustes e de autoafirmação antes de passar para o mundo adulto. Tem a ver com assumir o que é seu e reconhecer o que pertence ao outro, nas causas e também nas consequências. 

Foto: Pixabay (divulgação)

Na vida adulta, muitas vezes essas características permanecem como uma forma permanente de se relacionarem com o mundo e com as pessoas e pode ser nociva e altamente patológica. 

Quem sabe bagunçar, sabe organizar!

Quando se constitui uma família, por exemplo, com o molde desse funcionamento patológico, onde um dos pais é o que tem sempre a razão e o outro é o errado, os filhos ficam no meio, sendo jogados como bolas de pingue pongue nessa disputa entre um ego disfuncional a serviço do seu egocentrismo e o outro ego enfraquecido, lutando desesperadamente para ser ouvido e levado a sério. 

De um lado, temos o que tem sempre a razão e, de outro, temos o que faz tudo errado, um culpado que não merece confiança e, portanto tem que obedecer e se submeter ao comando de quem tem sempre a razão. Um coadjuvante de marido ou esposa, de pai ou de mãe. Um relacionamento conjugal onde não existe afeto. O afeto é substituído pelo poder, pelo comando. 

A figura de autoridade de pai ou de mãe, de quem fica sob o comando daquele que se diz que sabe tudo perante os filhos, vira um fantoche sem voz, nem vez, dificultando o exercício da autoridade, pois a tendência é que os filhos não o validem. 

Relacionamentos baseados nesse tipo de exemplo estão fadados ao insucesso. O prazer na relação é de subjugar o outro, não de compartilhar ideias e objetivos. Não é somar e multiplicar e sim dividir e diminuir. Isso enfraquece os elos familiares. 

Com relação aos filhos, pais deste tipo, desde cedo, colaboram para estabelecer relações competitivas, aonde às crianças à medida que vão crescendo correm o risco de desenvolverem condutas agressivas onde à soberba acaba por entoar a frase: sabe com quem estás falando?

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