sociedade

Racismo, misoginia e Copa do Mundo

À primeira vista a Copa do Mundo de Futebol da FIFA é apenas um evento esportivo, porém, olhando mais atentamente, ela é também um evento profundamente cultural e político, sobretudo na medida em que nos mostra muito do que somos como sociedade, em particular nosso racismo e nossa misoginia.

O exílio da periferia

Um primeiro dado a pensar é que, embora muitos jogadores, torcedores e trabalhadores deste mundial tenham a pele escura, apenas um, entre os 32 treinadores das seleções, é negro. Embora as seleções de origem africana e aquelas com passado colonial escravocrata somem mais da metade das equipes do mundial, apenas Aliou Cissé, treinador do Senegal é negro. Isso reproduz a lógica geopolítica da dominação contemporânea, onde quem ocupa postos de comando é sempre um sujeito branco. O professor da Unicamp Hélio Santos chama de "racismo inercial" o movimento em que negros jogam futebol, são expoentes e craques em campo, mas não são vistos como capazes de pensar futebol. Treinar equipes, sugere racionalizar técnicas futebolísticas, e é nessa racionalização que fica evidente o racismo.


Foto: Fifa
Aliou Cissé, treinador do Senegal

Um segundo exemplo, é a nossa seleção. Dos nossos jogadores, sete deles foram criados apenas pelas mães. Convém destacar que quando um pai não cria ou mesmo não registra seu filho ele não só comete um crime, como também reforça a naturalização com que tratamos a questão. Em cada filho criado apenas pela mãe ou um documento de identidade em que o nome do pai está ausente, o que ocorre é uma certificação da sociedade de que o aborto é permitido e largamente praticado. Mas ele é masculino. Vivemos em uma sociedade onde, aos homens, é permitido todo tipo de apropriação sobre o corpo das mulheres. Inclusive a violência do abandono.

Estes dois dados evidenciam o quanto constituímos uma sociedade cujo padrão dominante é de uma referência branca e masculina. Mais do que isso, nos reproduzimos social e culturalmente com base na naturalização desse padrão social racista e misógino. Mais do que torcer nessa Copa por vitórias da nossa Seleção, convém também aproveitar a ocasião para pensar sobre o que o futebol pode dizer sobre nós!

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