sociedade

365 dias

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Faz 365 dias que estamos em quarentena, em razão da Covid-19 que tanto alterou nosso cotidiano, incluindo hábitos, normas de conduta e conversas sem fim... conversas até sobre morte, verbalização negada, embora seja a única certeza de nossa trajetória. Passamos a pensar e a verbalizar mais - como se a imprevisibilidade "da Indesejada" fosse algo novo e impossível...

Nestes 365 dias, nossas descobertas e nossos aprendizados foram dos mais óbvios e simples, como lavar as mãos frequentemente, aos mais complexos e assustadores, como pensar na transitoriedade da vida e no que fizemos ou deixamos de fazer com o tempo de que dispomos. Foi um tempo de revisão de vida - um tempo mais para a busca de autoconhecimento. Em algumas pessoas, entretanto, a soberba, o prepotência, os pensamentos rasos e a ganância afloraram de tal maneira que, de conhecidos que eram, desconhecidos passaram a ser.

Faz 365 dias que aqueles que estão se cuidando, que estão respeitando as normas sanitárias e de distanciamento social não vêem os que amam. Esse distanciamento, no entanto, salva vidas, preserva pessoas. Estão sendo, certamente, horas difíceis em que buscamos formas de conviver à distância, apoiados por valiosas contribuições da tecnologia e da ciência, de maneira a diminuir os espaços e amenizar a saudade.

Nestes 365 dias, sabemos que mais de 300 mil brasileiros perderem a vida - contribuindo para esse triste fato a negligência do Estado brasileiro, que preferiu seguir o caminho oposto ao da ciência. Perdemos amigos e familiares e ouvimos até deboches sobre esse grave problema. A dor do desrespeito também agrava as demais dores.

Nesses 365 dias, vimos o presidente da república negar a realidade e negar a gravidade da situação. Assistimos a declarações absurdas e nada empáticas sobre a morte de milhares de pessoas. O presidente da república fez tudo que não deveria ser feito por nenhum líder mundial e consegue, ainda, a cada dia surpreender a todos nós com mais declarações delirantes e desrespeitosas sobre o momento triste que vivemos.

Passaram-se já 365 dias, dias difíceis, dias em que tivemos medo, medo por não saber o que iria acontecer no dia seguinte e nas semanas seguintes, medo até do toque do telefone pela mensagem que se poderia receber. Neste tempo vivemos com medo do desconhecido, de não saber muito sobre esse vírus, suas mutações e suas condições de transmissão. Tivemos medo das perdas, das dores, das aflições.Estamos passando por dias difíceis, dias de muita solidão e tristeza.

Os 365 passados também nos trouxeram esperança. Em um trabalho sobre- humano, nos quatro cantos do planeta, os cientistas, em tempo recorde, produziram uma vacina para nos proteger e tentar de alguma forma trazer a vida à normalidade. Começamos a receber a vacina, processo que está lento, mas desejamos que se acelere cada vez mais e que logo todas as pessoas estejam vacinadas.

Que o período vivido durante esta pandemia nos faça crescer e amadurecer mais, que as experiências nos tornem mais humanos, mais conscientes da importância de cada um na coletividade, que se aprenda , ao menos um pouquinho, a respeitar o sofrimento do outro. Que. nos futuros 365, consigamos manter, ao menos, chispas de esperança em dias mais leves e mais solidários. 

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