sociedade

Político apolítico


Na política, legitimidade e credibilidade estão intimamente ligadas. Todo político que quer ser reconhecido como credível deve tentar responder a seguinte questão: como fazer para ser credível, de tal forma que os outros sejam levados a julgá-lo como digno de crédito? Evidente que para isso, o político deve fabricar uma imagem que corresponda a essa qualidade. Charaudeau afirma que "de maneira geral, uma pessoa pode ser julgada credível se for possível verificar que o que ela diz atende a certas condições: condição de sinceridade (o que ela diz corresponde sempre ao que ela pensa); condição de saber (ela sabe e pensa com razão); condição de desempenho (ela tem os meios de aplicar o que anuncia ou promete). Inversamente, revelar-se como mentiroso, incapaz de honrar suas promessas ou obter os objetivos almejados, só faz desacreditar o sujeito. Ou seja, a credibilidade depende, ao mesmo tempo, de uma maneira de ser, no que tange ao "dizer a verdade", de um saber, para demonstrar "razão", e de um saber fazer, para demonstrar "competência" e experiência, sendo esses os componentes da base sobre a qual se constrói a autoridade da pessoa. Aí está uma parte de seu ethos".

Desta forma, a legitimidade é adquirida quando o ator político já foi reconhecido como candidato a uma eleição ou como eleito. Para que ele preserve essa legitimidade, é fundamental o cultivo de um forte potencial de credibilidade. Ou seja, que ele é capaz de persuadir o povo e que ele é capaz de exercer o poder.

Na História política brasileira, tivemos um presidente que unia o moderno ao arcaico. Jovem político, elegante, atlético, dinâmico, moderno, "poliglota". No entanto, era membro da oligarquia alagoana, de velha família de políticos, começou sua carreira nas asas triunfantes dos governos militares, como prefeito biônico de Maceió, tendo sido depois deputado federal pelo PDS. Collor escondia - nos seus discursos - o político tradicional dado às piores formas do clientelismo brasileiro, da corrupção, à prevaricação e com certa predileção - quando contrariado - a usar os termos mais chulos que estariam mais adequados na boca de um ditador do chamado "Terceiro Mundo".

Collor assumiu a imagem - na campanha para a presidência - a imagem do "político apolítico". Quando presidente, ele excluiu dos seus ministérios os nomes mais significativos da política, da economia e da cultura brasileira. Collor foi eleito de um estado sem peso na política nacional, através de uma legenda "fantasma". O primeiro e segundo escalão era formado de figuras inexpressivas e inexperientes, nos quais (e fora deles) mandavam os amigos alagoanos. A ideia de muitos ali - como Renan Calheiros - é que poderiam governar e utilizar em benefício próprio às vantagens do poder. Como afirma Leôncio Martins Rodrigues, "o Brasil foi confundido com o estado de Alagoas. Imaginaram que a classe política, a tecnocracia e a alta burocracia, os empresários, as lideranças sindicais, a imprensa, a intelectualidade e todo o eleitorado (especialmente o do Sudeste) poderiam ser tratados do mesmo modo como a oligarquia alagoana costuma tratar a população pobre e inerme de seu Estado".

Por fim, apesar da queda de Collor - atualmente, ele é senador da República - os aventureiros, populistas e os "políticos apolíticos (com mais de 20 anos de carreira política)" aparecem e ressurgem a cada eleição. Às vezes, ganham como prêmio a presidência da República.

Referências

  • CHARAUDEAU, Patrick. A conquista da opinião pública: como o discurso manipula as escolhas políticas. Trad. Angela M.S. Corrêa. São Paulo: Contexto, 2016.
  • RODRIGUES, Leôncio Martins. Folha de São Paulo, 30/08/1992.
  • SILVEIRA, José Renato Ferraz da. Sob o Signo da Fênix. Bauru: Canal 6, 2009.

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