Toda vez que me coloco na condição de espectador/consumidor de alguma atividade artística ou musical, seja "espetáculo/show/peça/oficina/baile", ou até mesmo de um artista do bairro - desses que sonorizam nosso cotidiano entre as galerias de logomarcas urbanas do nosso "bom e velho" comércio - normalmente fico entusiasmado porque artista em movimento é sinal de gente trabalhando, embora guarde minhas reflexões e críticas sobre este universo!
Uma delas que me aborrece (ou emburrece) é quando visito aqueles bons e velhos palcos de lugares que continuam funcionando sem oferecer nada de luz para os músicos, com sistemas de som ruins a regulares (isso quando tem) e, no cenário uma TV ao fundo - que está ali acesa propositalmente atrás do(a) artista. Nestas TVs rodam imagens lindas, tipo aquelas do canal OFF contendo cenas de surfistas em cristas de ondas gigantes, tudo em 4k e full HD, feitas por mergulhadores californianos, bem atrás da figura que "peleia" arduamente de violão em punho a sonorizar o momento. Enquanto isso, as pessoas descansam, se reúnem, saboreiam cervejas e comidas boas, nesta atmosfera que foi movimentada e construída, em parte, pela importância de uma noite de "música ao vivo", como dizem nas campanhas de divulgação destes lugares.
Foto: Marcelo Brum/
Espectadores de um espetáculo que aconteceu dia 12 de Junho de 2013 no Theatro Treze de Maio./
O que acontece é que nestes ambientes só o músico parece estar ao vivo, pois as pessoas e a TV estão no OFF. Os espectadores seguem dispersos, olhando agora outra cena: um canal da National Geographic, com imagens de seres que vivem embaixo da terra; e o artista ali "suando o topete", como a gente costuma dizer quando alguém está empenhado em seu ofício.
Estou falando é claro, de casos específicos e de lugares que no fim de tudo isso, nem são tão importantes na cena musical enquanto força colaborativa para com a arte e seus operários. Afinal, a intenção de quem tem bar é vender cerveja, não é mesmo? Por isso, quando vou "consumir música", ouvir artistas ao vivo, ver performances, procuro lugares em que ela é tratada em primeiro plano. É uma questão de escolha e, definitivamente me agradam lugares que desligam suas televisões, acendam as luzes (no palco) e oferecem produtos que não competem e nem desmerecem o que a gente entende por respeito ao som e quem o faz, seja ele novo, velho, autoral, cover, pop, alternativo ou brega.
Para isso temos casas de shows exemplares e espaços culturais a reviria. Porém, eu ainda anseio em ver mais lugares que cuidam do palco e da música, da mesma maneira que seus freezers e banheiros bem limpos e iluminados. Afinal, palco escuro e som ruim não é bom e não conceitualiza em lugar nenhum, a não ser que eu tenha sido enganado até hoje!