cultura

Rastros


Não é mais novidade que este ano significou um dos maiores divisores de água na história da humanidade, sob diversos aspectos. E a pandemia, ou melhor, a pandemia do novo coronavírus ainda está longe de cessar o alargamento da capacidade de resiliência do ser humano, apesar de 2020 já estar quase no fim.

Outro fato que também não apresenta nada de diferente no horizonte é o impacto do uso das tecnologias digitais no cotidiano hoje. De um lado, não faltam reclamações quando o assunto é a qualidade das chamadas virtuais de áudio ou vídeo, além do tráfego de dados, a experiência do usuário, e assim por diante. O aplicativo E-Título e seu funcionamento sofrível no primeiro turno das eleições municipais brasileiras de 2020 é exemplo disso. 

Mas, por outro lado, é de se perguntar como seriam muitas de nossas atividades, até mesmo as da esfera mais íntima, sem a mediação de dispositivos digitais no presente. Ou seja, o que já existia, agora, é imprescindível. E, neste ano, demonstrou que veio para ficar. 

Porém, ainda é preciso haver uma consciência digital ou, como afirma a artista e pesquisadora brasileira Giselle Beiguelman, um letramento digital no Brasil. Para, à medida que as tecnologias de Inteligência Artificial, Redes Neurais Artificiais, Internet 5 G, entre outras avançarem, os sujeitos possam fazer o melhor e mais prudente e responsável uso de tais aparelhos. Ou, minimamente, que tenham consciência de tais processamentos sobre seus hábitos, relações, conexões, corpos. 

É uma conjuntura que não pode e nem há o porquê e como ser revertida. O volume de tráfego e de armazenamento de dados tem crescido vertiginosamente mas, já que estamos falando em dados, temos que entender seus rastros. Realizar uma leitura deles, suas implicações e como faremos nossas escolhas diante das alternativas direcionadas por eles, por empresas, por entidades que ainda agem deliberadamente sem uma mínima verificação ética. 

Buscar olhares mais relativos, ultrapassar as previsíveis dicotomias entre real e virtual, falso e verdadeiro e, tão importante quanto, questionar, não se acomodar, buscar saber, sempre. Ainda tem muito faro a seguir na trilha do rastro digital, a ser bastante desbravado por pesquisadores, artistas, instâncias políticas e a socidade civil. É apenas o começo. 

O que está em jogo é ter um entendimento, atenção à velocidade das mudanças e como podemos analisá-las sem nos entregarmos totalmente ao seu fluxo. Sem esquecermos onde estamos, de onde viemos e dos lugares das nossas memórias. Quem conhece a história e consegue ler os sinais do presente, pode intuir e analisar melhor o que virá adiante. Encorajando-se e encarando, assim, não apenas um, mas muitos rastros.

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