cultura

As relações afetivas dos festivais

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Foto: Arquivo Pessoal/rodrigo Ricordi

No último final de semana, eu flutuei pelo mundo da música nativista, em função da Tertúlia. Já havia feito outras coberturas do festival, umas quatro ou cinco nesse tempo todo de jornalismo. Mas essa teve algo a mais. Talvez, o clima de felicidade trazido pela volta do público a um evento desse porte. Talvez não. Com certeza. Isso foi o que permitiu que compositores, intérpretes e instrumentistas pudessem se reunir. E foi numa dessas reuniões que eu fiquei admirado e curioso sobre os laços de amizade criados em festivais.

Estive em um churrasco no último sábado na casa do músico Diogo Matos. A função iniciou após as apresentações da fase geral da Tertúlia no Theatro Treze de Maio. Publiquei o texto no site do jornal e, por volta das 23h, cheguei no local. Haviam chegado ainda poucos convidados. Mas foi piscar os olhos e lá estavam quase todos os músicos e compositores concorrentes. Todos amigos, deixando a "competição" de lado, tomando uma cervejinha e comendo um belo assado. E teve até pedido de casamento e anúncio de gravidez, para alegria e emoção de todos.

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Foto: Ronald Mendes/Divulgação/Tertúlia

- Esse convívio é o principal de tudo. Esse amor é verdadeiro, e é disso que nossa arte flui. Senão, nem teria sentido. E viveste um momento ainda mais profundo, pois foi nosso reencontro. Há tempos não nos víamos pessoalmente por causa da pandemia. Mas o mais importante de tudo é esse encontro de almas, que se reflete nas canções. Este é o grande prêmio: passar nossas mensagens para o mundo. E essas mensagens advêm desse amor fraterno. Somos uma família - poetizou Carlos Omar Villela Gomes, compositor da música Por Ser Livre, vencedora e melhor letra da Tertúlia.

O anfitrião da reunião comentou que os festivais têm o poder de reunir grandes músicos de vários lugares do estado e até fora dele no mesmo lugar. E é assim que os artistas vão nutrindo essas amizades, essas parcerias: por causa dos reencontros.

- Com o passar do tempo, essas afinidades vão se fortalecendo. São amizades que ficam para a vida toda. Quando sai a data do festival, a gente já se combina, se encontra, fala de música, da vida. E isso acaba transcendendo o evento. Como participo de festivais há mais de 20 anos, tenho amizades de longa data que se formaram nesse cenário - conta o compositor.

Nicole Carrion, que, aos 24 anos, estreou no palco da Tertúlia interpretando a canção De Flor e Sabre, com letra de Vaine Darde e melodia de Diogo Matos, que ficou em terceiro lugar geral, já compõe a nova geração de festivais. Mas ela conta que desde os 7 anos já cantou por muitas cidades do Rio Grande do Sul e carrega muitos afetos e amizades.

Foto: Ronald Mendes/Divulgação/Tertúlia

- A maior parte dos meus amigos é desse ambiente. São parceiros que a música nos proporciona. Conheci tanta gente legal nesses anos todos, muita gente que apoia o trabalho do outro, que dá oportunidade, como é o meu caso, que vim dos festivais mirins para ingressar na carreira profissional. Esse ambiente de amizade é uma das melhores coisas que os festivais nos proporcionam.

Em pouco mais de uma década acompanhando a cena cultural, poucas vezes vi algo parecido. Não estou sugerindo que não existam esse laços de amizade em outros estilos e tribos culturais, sei que existem. Quem sabe se houvesse outros festivais de música autoral de rock, samba, pop, rap, espalhados e com frequência por aí, teríamos muitos outros poemas, melodias e, de repente, um mundo um pouco melhor, nutrido pela arte, pela amizade e pela cultura.

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