cultura

Para enfrentar as máscaras

Camila Vermelho


"Boa noite, pais de família do Brasil! Protejam seus filhos, porque o Super Homem vem aí! O Super Homem vem aí, para enfrentar as máscaras do terror imperialista. Do terror tecnológico. É preciso usar as máscaras da macumba brasileira. É o artesanato contra a tecnologia. Realmente, Severino. Esse é o Severino. Tire a máscara, Severino. É o Severino, outra vez aqui. O sertanejo é, antes de tudo, um forte (...)." Glauber Rocha (1939-1981), Programa Abertura, TV Tupi, final da década de 1970.


Corram para os morros! Protejam-se! Pois chegou o oitavo mês do ano! Para alguns e algumas, um mês dramático. Para outros e outras, mais um ínterim que desliza sobre o fio anavalhado do tempo. Um ponto de passagem do presente rumo ao futuro, que se consome tão logo em passado. Tudo e nada juntos, sob a pressão cerrada dos punhos da história!

E a história vem aí, sim! Inevitavelmente! Com seu corpo arqueado por séculos pesados. E a missão de acertar contas, com seu toque perspicaz e impiedoso. E ela chega sem máscara!

Na história, um momento pode durar muito. E séculos podem passar tão rápido. Mas ela está aí, algumas vezes tardando, noutras mais veloz do que a luz. Mas ela nunca falta!

Por isso, protejam-se, mais uma vez! Não custa avisar! A história, com seus autos, observa o Brasil de 2019. Ao passo de oito meses de acontecimentos, anedotas e quiprocós. Haja Super Homem para salvar o povo brasileiro!

Nesta história, que mais parece feita para quadrinhos absurdos, até forasteiro com máscara imperialista desembarcou por aqui, com a mala cheia de bugigangas. Tentando trocar o futuro de Santa Maria por um punhado de quinquilharias frágeis e inúteis. Rumo ao future-se para o nada!

Protejam-se! Protejam-se! E protejam-se mais ainda! Para enfrentar as máscaras que querem enfiar na nossa história! Mas... ela não usa máscara!

Feitas algumas apropriações das palavras e das ironias de Glauber Rocha, antológico autor de cinema do Brasil, agosto pode não estar completamente perdido. Com ou sem suco do RU! Com ou sem Super Homem! Diante de uma terra em transe e de uma legião perigosa de bots!

Agosto é o engrenar do segundo semestre do ano. Para os e as artistas e agentes culturais, os projetos, as urgências, as necessidades, as contas para pagar e as realizações continuam. A sociedade e seu clamor por arte e cultura continuam, mais do que nunca. Quanto mais se nega a importância da arte, mais ela é essencial. É tudo ou nada. Mas melhor ser tudo!

Este mês também é feito de abertura e fechamento de ciclos, quem sabe de desvelar de máscaras. Ainda mais que agosto marca mais um ano de Santa Maria, Cidade Cultura, ao longo dos últimos 51 anos. Afinal, qual é a verdadeira face da cidade?

Agosto, ainda, é o mês em que acontece mais uma Conferência Municipal de Cultura, espaço de debates e deliberações sobre a arte e a cultura em Santa Maria. Num momento no qual a história clama pela manifestação dos seus e das suas, tanto local quanto nacionalmente.

Por isso, mais uma vez: protejam-se! Mas também desçam o morro e enfrentem! As máscaras, as pressões cotidianas, a ignorância, a estupidez, a insensatez!

Ouçam, saiam do obscurantismo, utilizem as tecnologias de forma produtiva, conectem-se, abandonem as limitações. Participem da construção, não da destruição de uma sociedade!

A arte e a história estão aqui. Continuarão. E também cobrarão respostas ao que se faz ou se deixa de fazer hoje. E assim sempre será, no movimento de colocar e tirar de máscaras, sobre um palco hoje sem luzes.

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