Fotos: Renan Mattos (Diário)
"Nós estamos trabalhando dentro da nossa realidade hoje e em cima de prioridades.?
No início deste mês, o governo Jorge Pozzobom (PSDB) anunciou o engenheiro civil Francisco Severo como o novo secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, uma das pastas mais complexas, principalmente por cuidar das ruas, hoje repletas de buracos. Funcionário do quadro há 33 anos e com um trabalho voltado para a infraestrutura urbana, Severo, que não tem partido, falou, em entrevista ao Diário, sobre a prioridade da sua gestão na pasta e a recuperação das ruas com os R$ 28 milhões do financiamento que a prefeitura fez com a Caixa Econômica Federal, além de melhorias em estradas do interior esse recurso.
Confira os principais trechos da entrevista do secretário:
Diário de Santa Maria - Neste primeiro momento, a recuperação das ruas será a prioridade da sua gestão?
Francisco Severo - Em um primeiro momento, sim. Porque o grande anseio da comunidade é ver solucionada a questão dos buracos nas vias. A gente já começou em Três Barras, depois veio para a cidade, na Rua Antônio Gonçalves do Amaral (Bairro São José), tem a João Franciscatto (São José). Em seguida, nós iniciaremos na Francisco Fagundes da Cunha (Boi Morto).
Diário - O asfalto fresado, que vai ser utilizado, é uma "sobra" do asfalto, ou um "asfalto reciclado"? Qual a efetividade do material? Ele realmente vai funcionar?
Severo - Com certeza, vai, porque nós temos todo ele retirado da Avenida Dores e da Avenida Walter Jobim e estocado no pátio da secretaria. A gente faz um controle rigoroso disso. Saíram, na semana passada, algumas cargas daqui para fazer a recuperação da Rua Antônio D'Ávila Prado, no Bairro São José. Então, já colocamos esse material de fresa ali. Esse material é nobre, porque ele dá um maior conforto na rodagem, ele agrega mais um material e elimina consideravelmente a quantidade de pó, que é o grande inimigo das pessoas que moram em locais de chão batido.
Diário - Mas a durabilidade pode, guardadas as proporções, ser comparada ao asfalto comum?
Severo - Não, ele não tem a durabilidade de um asfalto, até porque ele é jogado in natura no chão batido. Porém, ele dá uma boa resposta para o que ele custa. Isso é um produto que nós estamos "reciclando" ou, na verdade, reaproveitando. Ele nos dá um custo muito baixo, porque é só o custo do transporte e espalhamento e dá um retorno muito grande em termos de conforto para quem transita e pela eliminação do pó.
Diário - Há uma lista de ruas definidas? A prefeitura vai acrescentar novas vias?
Severo - A possibilidade de acrescentar existe, mas nós somos limitados nos valores. São R$ 28 milhões. Quer dizer, até esse valor, o prefeito tem a liberdade de inserir vias. Nós iniciamos nas vias que têm um maior número de tráfego de veículos. A prioridade é essa. A partir daí, é que nós vamos continuar atendendo as ruas. Os recursos são parcelados, nós recebemos uma parte a cada 90 dias. Então, nós estamos trabalhando dentro da nossa realidade hoje e em cima de prioridades. Nós temos um registro de preço (tipo de licitação) que está limitado nas suas quantidades e logo nós pretendemos colocar novos em licitação. Isso vai nos possibilitar abrir mais frentes de trabalho. Estamos usando o nosso registro para dar uma resposta imediata à população e para aproveitar o baixo movimento de veículos que temos em função das férias.
Diário - Dentre as avenidas, será feita uma recuperação completa ou algumas serão apenas parciais?
Severo - Avenida Dores, Avenida Walter Jobim e Avenida Rio Branco serão completas. Depois, nós temos a Avenida Presidente Vargas, Avenida Medianeira. A Medianeira, apesar do alto tráfego que ela tem, é uma via que ainda não está nas piores condições, se comparada com as outras. Vamos fazer, assim como a Avenida João Luiz Pozzobon. Depois disso, vamos para as ruas.
Diário - Quais são as etapas de recuperação das ruas?
Severo - Nós temos três tipos de serviços com pavimento feitos nessas vias. O primeiro é a fresagem nos pontos onde o dano é superficial. Então, a máquina vai lá, tira o asfalto deteriorado e a gente recompõe esse quadro. Depois, existem os reparos profundos, ou seja, onde o dano atingiu a base do pavimento. A fresa tira apenas cinco centímetros, então quando temos buracos maiores, a gente faz um reparo profundo. Nós vamos na base e recompomos. Essa etapa está sendo feita, apesar de em menor quantidade. Em paradas de ônibus é comum esse tipo de dano em função do esforço que o veículo exerce. E um terceiro serviço que a gente fez foi uma capa asfáltica nova em toda a via, por cima do pavimento existente e do recomposto. Essa capa nos dá a sobrevida da duração que a gente tem falado, que é de cinco anos para mais de duração.
Diário - No interior, há muitos problemas de infraestrutura. Essa verba também será destinada para as estradas e pontes do interior?
Severo - A fresa não vai ser utilizada nos distritos. Nós estamos priorizando o material de fresa dentro da cidade pra diminuir o pó das ruas. Já no interior, como as residências estão mais espaçadas, incomoda menos. Nos distritos, faremos um trabalho de empedramento e compactação. Também, para substituir a drenagem, faremos valetas nas vias.
A Avenida Dores foi uma das primeiras vias a receber melhorias no asfalto com o recurso de R$ 28 milhões
Diário - Quanto tempo devem durar as obras realizadas com os R$ 28 milhões?
Severo - Imagino que 15 meses. Apesar de as empresas estarem dando uma resposta rápida, a verba está vindo parcelada. Então, estipulo esse tempo.
Diário - Entre as ruas que não são asfaltadas, existem muitas com problemas, como as da Vila Belga. Uma das justificativas é de que não há calceteiros para fazer a manutenção. Como a prefeitura vai fazer para arrumar essas vias?
Severo - Dentro dos R$ 28 milhões, tem uma parte dos recursos que contempla a recomposição de ruas com pavimentação de pedra irregular e nós vamos iniciar um trabalho nesse sentido. Criou-se uma mística errada. Na realidade, não faltam calceteiros na cidade. Falta, na verdade, a pessoa que quebra, que extrai a pedra para calçamento. Qualquer uma das pedreiras que nós formos aqui na região, tem vagas sobrando para essa função. O problema é que as pessoas antigas, que antigamente cortavam pedra, foram envelhecendo, e isso era uma arte de ofício que era repassada de pai pra filho. Então, hoje nós temos carência de quem produza a pedra para o calçamento.
Diário - Em vez de asfaltar ruas novas em locais de pouco movimento, a prefeitura não deveria ter um investimento maior em obras de manutenção das avenidas e ruas mais importantes para evitar gastos maiores no futuro? Qual sua visão sobre isso?
Severo - Não existe isso de guardar o dinheiro, quando você tem uma necessidade. O dinheiro está aí, é um financiamento. Quero dizer, pagar por um dinheiro e deixar ele guardado não me faz muito sentido. No momento em que as vias recebem um asfaltamento novo, o custo de manutenção vai abaixo. Eu entendo que a gente tem que atender à comunidade. Ela vinha se queixando bastante da administração municipal, porque não aguentava mais os buracos nas ruas. Claro que existem as vias principais, com maior fluxo de veículos, mas a tendência é nós utilizarmos esses recursos para atender o maior número de ruas possível.
Diário - O número de funcionários, hoje, na secretaria é o suficiente? E de equipamentos?
Severo - As pessoas são suficientes, elas têm trabalhado. Nossa dificuldade maior é o equipamento. Nós temos uma demanda muito grande para uma quantidade muito pequena de equipamento. Nós precisávamos duplicar ou triplicar a quantidade de caminhões. Nós precisávamos de mais equipamentos pesados para poder aumentar as frentes de trabalho.