Risco de conflito

“É difícil adivinhar a cabeça de um ditador populista”, diz ex-ministro Sérgio Etchegoyen sobre impasse entre Venezuela e Guiana

“É difícil adivinhar a cabeça de um ditador populista”, diz ex-ministro Sérgio Etchegoyen sobre impasse entre Venezuela e Guiana

Foto: Wilson Dias, Agência Brasil, 25/05/2018

General da reserva e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, o gaúcho Sergio Etchegoyen diz ser imprevisível saber se o presidente da Venezuela, Nícolas Maduro, vai mesmo invadir ou não a região de Essequibo, na Guiana, o que poderia provocar uma guerra na fronteira do Brasil. 


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Na terça-feira, Maduro divulgou novo mapa da Venezuela que já incluía Essequibo, enquanto a Guiana se prepara para se defender. Em entrevista à Rádio CDN, Etchegoyen afirmou que Maduro provavelmente esteja usando esse referendo de anexação de Essequibo, que teve 96% dos votos favoráveis, para buscar apoio dos venezuelanos para a eleição presidencial de 2024. A descoberta recente de 11 bilhões de barris de petróleo na costa da Guiana, equivalente a 75% de toda a reserva do Brasil, é outro fator que pode ser um dos motivos de Maduro.

 
– A grande pergunta que tem de fazer é o que o Maduro fará com o resultado. Ele fez um plebiscito para não fazer nada? E aí ele se desmoraliza mais ainda? Ou ele fará alguma coisa e corre o risco de trazer uma instabilidade para uma região que ainda tinha alguma estabilidade, a América do Sul? Mas é muito difícil adivinhar a cabeça de um ditador populista, porque não funciona na mesma lógica da democracia, em que tem de prestar contas ao sistema de pesos e contrapesos – afirmou o general da reserva, que foi comandante da 3ª Divisão do Exército, em Santa Maria e hoje mora em Novo Hamburgo.

 
Além de divulgar o novo mapa da Venezuela incluindo a região da Guiana, Maduro disse que a “Venezuela vai conseguir recuperar Essequibo”, enquanto o vice-presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, afirmou que o país precisa estar preparado para se defender. 


Etchegoyen lembrou que a Guiana tem 800 mil habitantes e que seu Exército tem pouco mais de 20 mil militares, não fazendo frente ao poderio 50 vezes maior do Exército da Venezuela. Ele lembrou que a fronteira entre os dois países é só de selva, e que a única passagem com boas condições para as tropas venezuelanas invadirem a Guiana seria pelo norte de Roraima. Mas ele acredita que seria remota a chance de Maduro invadir o Brasil para chegar a Essequibo. Ontem, o ministro da Defesa do Brasil, José Múcio, disse que não deixará tropas venezuelanas passarem pelo território brasileiro.

 
Questionado se o conflito pode forçar o Brasil a enviar mais tropas para Roraima, Etchegoyen lembrou que uma brigada inteira, com várias unidades do Rio Grande do Sul, foi transferida há mais de 10 anos para Boa Vista (RR), devido ao vazio de defesa na região. Agora, mais militares brasileiros e blindados foram para Roraima, e um eventual conflito poderia forçar o Exército a mandar mais tropas ou unidades para proteger a fronteira.

– Não precisa que a Venezuela cruze a fronteira. Começa em ações diplomáticas e políticas. O referendo do Maduro já é uma ação política. Depois, começa uma concentração militar. Basta que se inicie uma preparação militar da Venezuela e uma concentração militar que indique a intenção agressiva da Venezuela para que outros países intervenham – diz ele, citando que EUA e Inglaterra, com interesses na região, poderiam mandar tropas para proteger a Guiana.

Etchegoyen destacou que o Brasil é o maior país da América do Sul e que precisa manter sua posição de liderança regional e seu interesse de evitar a guerra.

– O governo brasileiro pode ter simpatia por Maduro, e tem simpatia muito estranha por ditaduras, como a de Maduro, Irã, Rússia, mas nenhum governo brasileiro que contrariou o interesse nacional sobreviveu politicamente. Qual o interesse nacional? É ter paz em seu entorno, para ter prosperidade, para não ter de investir tanto em coisas que prejudicariam investimentos em questões sociais. É atrair empresas, capital. E o capital não vai para onde o risco político e militar recomenda que não vá. Eu não tenho procuração para falar em nome do governo, mas acho que o governo brasileiro ponderará muito em relação a isso, pode tergiversar, fazer as manobras políticas que os populistas têm uma linguagem própria entre eles. Mas eu não acredito que o governo brasileiro apoiaria uma invasão de uma nação soberana para tomada de um território que a diplomacia brasileira reconhece há tanto tempo e que essa invasão ocorre por território brasileiro. É uma possibilidade tanto remota – diz Etchegoyen.

Guerra longa?

Por fim, ele alertou que o pior cenário seria uma invasão seguida de intervenção militar de países que apoiam a Guiana, levando a uma guerra maior e longa.

– O Brasil tem uma responsabilidade geopolítica irrenunciável, que é a estabilidade política da América do Sul. O Brasil é o maior país da América do Sul em tamanho, população. E nosso PIB é maior que todo o PIB da população do resto da América do Sul somada. E o pior cenário que poderia acontecer para a gente não é só a invasão militar da Guiana, mas é a agressão militar da Venezuela à Guiana seguida da intervenção militar de países quem apoiam a Guiana, como EUA e Inglaterra. Esses países verão seus interesses contrariados, e eles não só têm histórico de intervenção, como no caso das Malvinas, como os dois países pertencem à maior aliança militar do mundo que é a Otan, cujo estatuto prevê a defesa dos interesses dos seus integrantes, quando agredidos. Pior ainda que a ação militar, é a intervenção de outros países. Então, é importante que o Brasil exerça essa liderança na região para que não perca o papel que tem, de assegurar a paz nessa região – declarou.


OUTRAS DECLARAÇÕES DE ETCHEGOYEN

“É como se nós fizéssemos um plebiscito para anexar o Uruguai, levando em conta o exemplo do Brasil com a Província Cisplatina. Não faz nenhum sentido. O Uruguai, assim como a região de Essequibo, é resultado de uma mediação internacional e do tempo. Acabou, transitou em julgado, como dizem os juristas. Ainda que o direito internacional não seja hoje um modelo de equilíbrio, existem algumas regras que não podem ser rompidas.”

“A Guiana é um país pequeno de 800 mil habitantes, com um Exército de 20 mil homens e incapaz de fazer frente ao Exército Venezuelano. Isso abre outra questão: da mesma forma que o governo brasileiro vem alertando a Venezuela, o presidente vem falando para o Maduro não fazer besteira, não basta alertar a Venezuela, é preciso ser bem claro o apoio ao status quo, que é ao atual território da Guiana. É uma posição brasileira antiga.”


“Ali existe outra questão: Roraima é a única região que oferece condições de passagem ideais da Venezuela para a Guiana, pois a fronteira entre elas é selva. Já o norte de Roraima é região de campo e cerrado, onde emprego de tropas e logística são extremamente favoráveis. Então, uma preocupação que se tem é que a Venezuela, num arroubo populista e de valentia descabida, queira fazer essa manobra pelo Brasil. Ou que ela seja impelida, pelas condições, a fazer uma manobra pelo Brasil. Do ponto de vista do planejamento, isso existe. É só ver o mapa e que o mais fácil é fazer isso pelo Brasil. Mas daí tem de dizer, não, essa terra tem dono.”

“O próprio Hugo Chavez, que é o grande mentor do Maduro, reconheceu tempos atrás que Essequibo é da Guiana e ponto final.”

“Maduro quer turbinar sua candidatura”

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