Foto: Pedro Piegas (Diário)
A partir do valor apresentado no Conselho Municipal de Transportes (CMT) de possível reajuste da tarifa de ônibus para R$ 4,25, o Diário fez um levantamento dos preços nas 10 principais cidades do Estado para fazer um comparativo. Se o novo valor for aprovado, Santa Maria ficará entre as cinco cidades com a passagem mais cara do Rio Grande do Sul (veja abaixo).
Para o presidente da Associação dos Transportadores Urbanos (ATU), Luiz Fernando Maffini, é preciso comparar muito mais do que apenas o valor da passagem para entender os motivos dos reajustes. Ele diz que, entre as 10 cidades comparadas, Santa Maria é a com maior população estudantil, lembrando que alunos pagam meia-passagem (hoje equivalente a R$ 1,95).
- São muitos fatores que fazem parte do cálculo, e ter muitos estudantes é levado em consideração, já que eles pagam meia-passagem. A tarifa é a única receita que as empresas de ônibus têm para pagar salários dos funcionários e manter as operações - explica Maffini.
Além disso, ele salienta que Santa Maria utiliza o sistema integrado para o transporte público, enquanto em outras cidades, isso não existe. Assim, se um passageiro cadastrado para o benefício usar duas conduções para chegar ao trabalho, a segunda viagem é de graça aqui. O mesmo ocorre para um estudante, que já paga meia-passagem e tem registro da integração.
OUTROS IMPACTOS
Uma das representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSM no CMT, Isadora Barrios, entende a questão das meias-passagens dos estudantes e das gratuidades influenciar no valor final da tarifa, porém, destaca que a Lei Orgânica Municipal pontua que "é necessário levar em consideração o poder aquisitivo da população no cálculo" e reforça que essa norma não é seguida na revisão da planilha.
- Fazer o cálculo do poder aquisitivo é complicado, mas não é impossível. Nós (do DCE) contatamos um economista que vai fazer o estudo, para termos uma ideia se a tarifa é condizente com o que a população pode pagar - diz Isadora.
Outro questionamento dela é sobre os itens da planilha (pneus, parafusos, etc.) serem avaliados com valor unitários, sendo que os empresários compram em grandes quantidades, o que modifica o valor por unidade na compra.
O CMT se reúne hoje, às 8h, na sede da ATU para debater o parecer sobre a planilha de custos, elaborado pelo relator, Renan Menezes. Mas a votação deve ser feita só na segunda-feira. Porém, o prefeito tem total autonomia para definir o valor da tarifa.
O VALOR DA PASSAGEM NO ESTADO
A lista apresenta o último reajuste no valor da passagem (em R$):
Cidade/quanto era/quanto é/último reajuste
Porto Alegre | 4,30 | 4,70 | Fevereiro/2019
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Canoas | 4,20 | 4,60 | Março/2019 |
Gravataí | 4,10 | 4,40 | Junho/2018
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Santa Cruz do Sul | 4 | 4,25 | Fevereiro/2019
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Caxias do Sul | 3,95 | 4,25 | Março/2019
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Santa Maria | 3,65 | 3,90* | Maio/2018
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Passo Fundo | 3,65 | 3,90 | Abril/2019
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Rio Grande | 3,70 | 3,85 | Fevereiro/2019
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Novo Hamburgo | 3,60 | 3,85 | Março/2019
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Pelotas | 3,35 | 3,70 | Novembro/2018 |
A VELHA POLÊMICA DO REAJUSTE DA TARIFA
Como o transporte coletivo é um serviço concedido pelo município, as empresas de ônibus não têm autonomia para definir os valores da passagem. O preço da tarifa é calculado conforme uma tabela utilizada em todo o país e que leva em conta todos os custos médios de todos os itens do transporte coletivo e o total de passageiros pagantes. Veja abaixo um resumo de como se chega ao valor da passagem e uma comparação entre os anos de 2003, 2018 e 2019
Alguns custos dos ônibus urbanos, segundo a planilha da prefeitura
Custos (principais) | 2003 | 2018 | 2019 | Variação 18/19 |
Diesel (litro) | R$ 1,30 | R$ 3,16 | R$ 3,21 | +1,6% |
Pneu (unidade) | R$ 1.003 | R$ 1.472 | R$ 1.650 | +12,1% |
Salário básico motorista | R$ 1.003 | R$ 2.743 | R$ 2.850 | +3,9% |
Salário básico cobrador | R$ 502,70 | R$ 1.559 | R$ 1.610 | +3,2% |
Para se chegar ao valor da passagem
Cálculo do gasto para percorrer um quilômetro: custo total mensal/quilometragem mensal = custo por quilômetro
2003 | 2018 | 2019 | Variação 18/19 | |
Custo total mensal | R$ 3,34 milhões | R$ 7,19 milhões | R$ 7,51 milhões | +4,3% |
Quilômetros rodados ao mês | 1.117.801 | 1.031.224 | 1.011.037 | -1,9% |
Gasto por km rodado | R$ 2,99 | R$ 6,98 | R$ 7,42 | +6,3% |
Cálculo do índice de passageiros por km rodado (IPK)
Número de passageiros mensal/quilometragem mensal = IPK
2003 | 2018 | 2019 | Variação 2018/2019 |
2.468.735 /1.117.801 = 2,2085 | 1.831.385 /1.031.224 = 1,7759 | 1.765.371 /1.011.037 = 1,7460 | -1,68% |
Custo final da tarifa
Custo do km rodado/IPK = valor da tarifa
2003 | 2018 | 2019 | Variação 2018/2019 |
R$ 2,99/2,2085 = R$ 1,35 | R$ 6,98 /1,7759 = R$ 2,93 | R$ 7,42 /1,7460 = R$ 4,25 | +8,1%* |
*Em relação aos R$ 3,90 da tarifa atual, o reajuste seria de 8,9% se for aprovado
Qual o peso de cada item na tarifa de ônibus
Item | Percentual | Valor |
Salários e encargos | 56,3% | R$ 2,39 |
Combustíveis e lubrificantes | 18,5% | R$ 0,78 |
Peças e acessórios | 6,5% | R$ 0,27 |
Remuneração de capital | 4,8% | R$ 0,20 |
Impostos e previdência | 4,5% | R$ 0,19 |
Depreciação | 4,19%
| R$ 0,17 |
Despesas administrativas | 3,23% | R$ 0,13 |
Pneus | 1,79% | R$ 0,07 |
TOTAL | 100% | R$ 4,25 |