O quanto as experiências da infância podem refletir na maneira como lidamos com as emoções na fase adulta? Esse foi o tema do Faz Sentido do último domingo, com a jornalista Fabiana Sparremberger e o psicólogo Patrick Camargo. É na infância que se constrói a identidade de uma pessoa. Nessa fase, o indivíduo é como uma “esponja” que absorve o que recebe da família, dos amigos e da escola.
Conforme a Declaração Universal dos Direitos da Criança, aprovada pela ONU em 1959, toda criança deve ter acesso a direitos como: saúde, alimentação, educação, dignidade, segurança, bem-estar e convívio familiar e social. No entanto, nem sempre é assim. Nos primeiros anos de vida, em muitas famílias, as crianças são expostas a situações que marcam a vida toda, como abandono, abuso emocional, entre outras.
Negligência
Conforme Fabiana, durante a infância e a adolescência, as emoções, como afetos e tristezas são sentidas com mais intensidade. Isso se agrava quando tais sentimentos são negligenciados pelos adultos. Em contrapartida, a superproteção também pode gerar consequências nocivas.– Nestes casos, evidencia-se, também, o quanto os pais projetam a própria infância na criação dos filhos – alerta a jornalista.
De acordo com o psicólogo, o distanciamento afetivo é um exemplo de negligência:– Crianças que não têm suporte ou rede de apoio podem tornarem-se adultos inseguros. Já a superproteção não supre carências, como a maioria dos familiares pode acreditar. As frustrações são pedagógicas, mas isso é diferente de negligência – explica Patrick.
A superproteção ocorre de diversas formas. Muitos acreditam que suprir todos os desejos de uma criança irá preencher a vida dela.– Não é bem assim. A superproteção leva o adulto a ser dependente de relações não benéficas ou consideradas tóxicas – acrescenta Patrick.
Desconfiança
Desconfiar das intenções de tudo e de todos e medo de abandono são consequências da falta de afeto na infância, assim como a culpabilidade:– Por sentir-se responsável pelo sentimentos dos outros, a pessoa carrega culpa constante e age sempre para agradar quem está na volta. É o que chamamos de dependência afetiva. É preciso estar bem consigo mesmo e colocar em prática atitudes e comportamentos que priorizem o próprio bem-estar também.
Fabiana lembra o quanto a falta de aprovação da figura paterna ou materna pode influenciar no desenvolvimento de uma criança:– Quando adulto, ela vai tornar-se aquela pessoa que precisa se superar para compensar aquilo que sentiu na infância. Sempre vai procurar dar o melhor de si em tudo, mas para evitar fracassos e não por autorrealização.
Excessos
As emoções da infância também influenciam nas escolhas das relações afetivas da vida adulta. Em alguns casos, os envolvimentos começam para suprir ausências.– Alguns desses relacionamentos são como uma fuga do que precisa ser tratado. Exemplo disso é viver no “automático” ou na autossabotagem constante, afinal, a qualquer momento, na percepção dessa pessoa, o “abandono vai ocorrer mesmo”.
Para Patrick, todo excesso de sentimento esconde uma falta.– Pode ser devido à privação emocional de figuras maternas ou paternas, de um relacionamento que se foi, de um luto ou de uma relação mal resolvida. É importante buscar ajuda para que tudo isso não seja passado a diante, na criação dos filhos, por exemplo.
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