Revista Mix: a tradição dos cineclubes em Santa Maria

Bernardo Abbad

Revista Mix: a tradição dos cineclubes em Santa Maria

Cineclube é uma associação sem fins lucrativos que estimula os seus membros a ver, discutir e refletir sobre o cinema. Essa é a definição do espaço, que surgiu no século 20 na França. No Brasil, o primeiro cineclube nasceu em 1928, no Rio de Janeiro e chamava-se Chaplin Club. Já São Paulo, só ganhou um cineclube oficialmente em 1940, momento em que outras cidades brasileiras também começaram a ganhar os espaços, aos poucos.

Santa Maria não ficou atrás: de 1951 a 1962, funcionou o Clube de Cinema, fundado por Edmundo Cardoso e considerado o início do cineclubismo na cidade. Além dele, a Ação Católica organizava outros espaços de exibição e discussão, no Colégio Santa Maria e no Seminário São José. Nos anos 2000, surgiu o Cineclube Unifra. Criado no ano de 2003 com a finalidade de discutir cinema e contribuir para a formação de um público crítico, o espaço já não está mais ativo. Em 2015, o espaço encerrou as atividades. Mas a cidade que inclusive já sediou a 26ª Jornada Nacional de Cineclubes, em 2006, ainda mantém vivo esse costume secular.

PARCEIROS

Um dos objetivos do Cineclube D+, iniciativa do Diário que vai exibir filmes no Auditório da sede do jornal, é, justamente, valorizar os cineclubes de Santa Maria, promovendo mais um espaço para exibição de filmes, que atenda às expectativas do público para além das opções do cinema convencional. Por isso, o Madrugadão do Terror ocorre em parceria com o Lanterninha Aurélio e Cineclube Da Boca, dois exemplos da manutenção dessa tradição cineclubista de Santa Maria.O Cineclube da Boca, que já está chegando à centésima sessão presencial, existe desde 2016 e é um projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Os encontros ocorrem às quartas-feiras no auditório do prédio 67. As exibições de outubro, inclusive, obedeceram à critérios de escolha de uma curadoria de filmes regionais ou locais, com a participação efetiva dos produtores e realizadores. Já a Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma) fundou o cineclube Lanterninha Aurélio em 1978 com o objetivo de popularizar e facilitar aos santa-marienses o acesso ao cinema, à informação e à cultura em geral. Conforme Lúcio Hiko, cineclubista integrante do Lanterninha Aurélio há oito anos, no início da pandemia o cineclube foi paralisado:– Com o refreamento do isolamento, não houve ainda um retomada oficial com as sessões todo mês, como era antes. Porém, houve algumas sessões esporádicas.

O Cineclube da Boca realiza sessões na UFSM, desde 2016, onde cinéfilos se reúnem para assistir e discutir obras audiovisuais

CINECLUBISMO: TRADIÇÃO E HISTÓRIA

MARILICE DARONCO, jornalista e especialista em cinema

“É interessante pensar como uma fase interessantíssima da produção de cinema de Santa Maria, o período do super-8, começou com a integração daqueles que faziam parte do Clube de Cinema, em meados dos anos de 1960, e se apaixonaram tanto pela sétima arte que acabaram se apropriando de equipamentos amadores para poderem fazer seus próprios filmes. Os cineclubes fazem pulsar não somente o cinema, mas a cultura em geral e fomentam debates muito importantes, o que é fundamental, ainda mais em tempos tão sombrios como os que vivemos”

LUIZ ALBERTO CASSOL, cineasta e cineclubista

“Em cineclubes e espaços como esse que o Diário está promovendo, as pessoas passam do lugar de espectadoras para o lugar de público. Existe essa busca porque as pessoas compreendem que vão socializar, dialogar e debater o que estão assistindo. Portanto vão ser protagonistas das obras que acabaram de assistir, é isso que diferencia o cineclube, a cinemateca e espaços culturais como esse do Diário, dos cinemas comerciais tradicionais, então é fundamental essa diferenciação. No momento que o público sabe que vai ter vez, voz e seu lugar valorizado, isso é transformador”

GILVAN DOCKHORN, professor e coordenador do Cineclube da Boca

“O cineclube dá vazão a uma demanda que o cinema convencional não dá conta. Tem muitos documentários, curtas, filmes experimentais, produções de jovens realizadores, que não chegam a Santa Maria e não têm espaço no cinema. O cineclube segue a tradição do Cinema do Povo, que é divertir, instruir e emancipar. É um espaço onde a discussão gera mecanismos de empoderamento, de problematização da cidadania e da política; e a emancipação, quando o público se apropria de produções culturais. O cineclube proporciona esse conteúdo cultural às pessoas”

BIANCA ZASSO, jornalista e crítica de cinema

“Cineclubismo é tudo para mim, se sou jornalista e crítica de cinema, devo à minha passagem pelo Cineclube Unifra, que inclusive se tornou meu tema de pesquisa. Um cineclube é um local muito importante, principalmente em cidades do interior, para se ter acesso a outras cinematografias. A formação de púbico ocorre não só pela exibição dos filmes, mas também pelo debate, pela troca. Esse é o ponto que diferencia o cineclube do cinema convencional. Santa Maria não pode ser considerada uma Cidade Cultura se não pensamos a arte que está sendo produzida. É essencial um cineclube em uma cidade com universitários, isso torna a comunidade pensante sobre si e sobre o outro. Em tempos de streaming, essa experiência coletiva é diferente. Quanto mais iniciativas cineclubistas surgirem, mais nos tornaremos uma sociedade melhor”

JAIR ALAN, jornalista e crítico de cinema

“Nos anos 70 reunimos uma turma que amava cinema em Santa Maria e criaos o Cineclube da Biblioteca Pública. Até que me convidaram para criar o cineclube Lanterninha Aurélio, que inclusive fui eu quem deu o nome. Depois fui para o Rio de Janeiro e participei ativamente do cineclube Otelo. Estou um pouco afastado do cineclubismo, mas sempre debato na Semana Francesa e no Ciclo de Filmes Italianos no cineclube Lanterninha Aurélio quando me convidam. É através dos cineclubes que você vê as culturas do mundo inteiro, como vivem os povos e, principalmente, participa de debates. A pessoa que frequenta cineclubes acaba aprimorando o seu dia a dia e também a sua vida em comunidade. Às vezes, as pessoas até mudam de ideias e convicções após assistir um filme no cineclube”

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