PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

O vírus corre solto

Neila Baldi
Professora universitária

A variante Ômicron está varrendo o mundo, provocando uma nova onda de contaminação de Covid e esfregando na nossa cara que, sem vacinação mundial uniforme, outras variantes tão contagiosas poderão surgir. Com mais de 50 mutações na proteína spike, foi declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no final de novembro, como variante de preocupação - com alta velocidade de propagação.

Diante desse quadro, no dia 15 de dezembro, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que "a Ômicron está se propagando a um ritmo que não vimos com nenhuma variante anterior". Países começaram a anunciar restrições devido às festas de final de ano.

O VÍRUS NÃO TIRA FÉRIAS

E por aqui? Cidades cancelaram as festas de réveillon e, algumas, anunciaram o cancelamento do Carnaval. É pouco. Com o período de festas e férias, sem maiores restrições, o vírus correu solto. Resultado: alta nos casos com recordes semelhantes à onda anterior. Na terça desta semana foram 73.617 novos casos em 24 horas. Com isso, a média móvel de casos nos últimos sete dias foi a maior desde 29 de julho de 2021. Alguns especialistas dizem que ainda em janeiro o país terá 1 milhão de casos novos diários!

A diferença, em relação à onda anterior, é que, com a vacinação, a letalidade está baixa. E, talvez por isso, nenhuma medida nacional, nem estadual ou municipal foi anunciada para diminuir a contaminação. O vírus do negacionismo também corre solto.

Desde que a pandemia foi decretada, sabemos como conter a propagação: diminuindo a circulação das pessoas, usando máscaras e vacinando. Ocorre que, com a vacinação, tem gente que acha que não precisa mais usar máscara.

ECONOMIA

Diante da propagação desenfreada do vírus o que o governo faz? Diminui o tempo de isolamento, alegando que com a ômicron não são mais necessários 7 a 10 dias - estudos internacionais não atestam isso. O que está por trás disso? A falta de trabalhadores e trabalhadoras em diversos setores da economia, que estão contaminados. Empresas aéreas estão cancelando voos por isso. Não dá pra ficar sem mão de obra, né? Então o melhor é reduzir o tempo que o funcionário ou funcionária fica de atestado. Pronto, resolvido o problema!

Se continuarmos nesta expansão de casos, mesmo com o jeitinho brasileiro do isolamento menor, teremos um apagão econômico: empresas fechando por falta de pessoal. Mas, como tenho dito desde o início da pandemia, o desgoverno que diz pensar na economia (e não nas vidas das pessoas) não entende que sem CPF não há CNPJ.

De economia, já vimos - e a inflação acima de 10% não me deixa mentir - que, de fato, não entendem. Mas de extermínio do povo, parece que sim.

Dêem ao povo pão e circo

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

Quando fui acadêmica da UFSM nas três faculdades que cursei, fazia parte do currículo a cadeira de Educação Física para os jovens da minha época, situação normal, pois, na época, esse curso era tão importante e essencial como o português e a matemática. Posteriormente, vi ser banida do Ensino Superior e, agora, deparei-me com a retirada da Educação Física do ensino de nossas crianças e adolescentes, surtei?. como isso pode acontecer? Isso é um retrocesso, um comportamento em desacordo com o mundo, quando é obrigatório nos currículos de quase todo o mundo a atividade física; aliás, nos EUA o esporte é uma das portas de entrada para as universidades.

Michelle Obama, enquanto primeira dama, criou uma campanha para estimular as crianças a se mexerem, por entender que era essencial para a saúde, o bem estar e para evitar o aumento da obesidade nos EUA. Como sabemos, na Educação Física o professor trabalha as habilidades cognitivas das crianças, o equilíbrio, a disciplina e a concentração, fatores que vão influenciar suas vidas em todas as faixas etárias. Além do mais, através da Educação Física ocorre o desenvolvimento físico, motor, cognitivo e social; no jovem, ocorre ainda, o desenvolvimento da capacidade de viver em coletividade, ao trabalhar o respeito mútuo e a cooperação.

Hodiernamente, estamos vivendo a era da desconstrução de tradições e valores, como se o mundo moderno optasse por passar uma borracha no passado. Independentemente da justificativa utilizada para justificar a não necessidade da atividade física para nossas crianças e jovens, não podemos ignorar que tal comportamento vai de encontro a famosa citação latina "mens sana in corpore sano", derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal, cuja frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida, e conclui dizendo que "certamente, o único caminho de uma vida tranquila, passa pela virtude." Não se sabe ao certo a data do poema, presume-se que tenha sido produzido entre 509 e 27 a.C., entretanto, não restam dúvidas que é válida para o mundo atual, pois reflete num elemento essencial para compor qualidade de vida.

Para os menos desatentos, não é apenas a educação física que foi banida de nossas crianças e adolescentes. Como foi a comemoração do dia dos pais e das mães na escola de seu filho!? A resposta é não foi, pois isso também foi tirado deles abruptamente, sem que nós pais pudéssemos participar dessa decisão, simplesmente baniram essa tradição.

Os pais mais jovens não sabem o que é um adesivo no carro com a foto do filho dizendo "te amo Papai" eu "te amo mamãe", ou uma simples apresentação na escola, onde chorávamos copiosamente ao ver as declarações de amor de nossas crianças. Que, em 2022, sejamos mais atentos com nossas tradições e costumes, pois tudo que nos é tirado, tem uma consequência, e nem sempre esta será reversível.

PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Conteúdo exclusivo!