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PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Sessentona
Neila Baldi 
Professora universitária

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Diz a Organização Mundial da Saúde (OMS) que, quando chegamos aos 60 anos, somos idosos ou idosas. Algumas pessoas nesta idade já estão aposentadas - aquelas que não pegaram a maldita reforma do Temer - curtindo a vida. Outras ainda estão trabalhando. Para ambas, infelizmente, ainda há uma pressão social relativa ao modo de se vestir ou de se comportar. Como se a velhice significasse caretice. De minha parte, quero chegar aos 60 anos dançando todas as danças que eu desejar, ter meus cabelos coloridos e meu figurino diferenciado. Careta? Jamais. Assim como seguirei sendo uma mulher de esquerda, que luta por um país melhor.

Nesta semana, a nossa universidade passou dos 60. Para uma instituição de Ensino Superior, é quase uma criança, de tão jovem. Fomos a primeira universidade federal criada no interior, fora de uma capital brasileira. Esse fato representou um marco importante na interiorização do ensino universitário público no país.

Atualmente, o país tem 69 universidades federais em todas as unidades da federação. Minas Gerais é o Estado que conta com mais universidades federais, são 11, seguido do Rio Grande do Sul, com 7. A expansão e interiorização das universidades federais ampliaram-se no governo Lula, tendo como principal marco o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). De 2003 a 2010, houve um aumento de 45 para 59 universidades federais, e de 148 campi para 274 campi/unidades. Um governo de esquerda.

CRIAÇÃO

A UFSM foi criada a partir da luta de José Mariano da Rocha, defensor da democratização do Ensino Superior público. Para isso, em 1947, liderou um movimento no interior do Estado que transformou a Universidade de Porto Alegre em Universidade do Rio Grande do Sul, anexando as faculdades de Farmácia, de Santa Maria, e de Direito, de Pelotas. Posteriormente, pela lei federal 3.834-C, de 14 de dezembro de 1960, criou a Universidade de Santa Maria, transformada, em 1965, em UFSM.

Como reitor, instalou, em 1969, o primeiro curso de pós-graduação em educação do país, também enquanto estava no cargo que professores petebistas e comunistas foram presos e expurgados, durante a ditadura militar.

FUTURO

Em tempos sombrios como os de hoje, como se comportará essa sessentona? Nos próximos dias, a gestão da UFSM muda - termina o mandato do professor Paulo Burmann. Se a lista tríplice for respeitada, o atual vice-reitor, professor Luciano Schuch, assume. Nossa sessentona é machista: nunca elegeu uma mulher. Mas, se a lista tríplice for seguida, teremos uma vice-reitora.

De minha parte, como professora desta instituição, continuará uma universidade de referência no ensino, pesquisa e extensão. Será mais inclusiva e diversa: não apenas entre estudantes, mas também entre servidores e servidoras. E feminista..

Enforque-se com a corda da liberdade

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Dezembro para Santa Maria, e porque não dizer para o mundo, está sendo bastante atípico em razão do julgamento da Kiss. Lágrimas de tristeza têm sido vista nas mais diferentes motivações; pais, pela tristeza, saudade, revolta e, também, pelo alívio de ver o julgamento acontecer depois de oito anos. Nos réus, lágrimas pelo desespero do julgamento, incerteza, repercussão negativa e, porque não dizer, pelo medo de represália para com familiares. 

Houve, ainda, lágrimas da comunidade, já que se trata de um sofrimento coletivo, pois não há quem consiga ficar alheio a tamanho sofrimento, inclusive, os próprios operadores do direito presentes no ato. Para os acadêmicos do Direito, além da aula de júri excelente que tiveram a oportunidade de presenciar, também aprenderam e passaram a conhecer manifestações pitorescas de seus partícipes. 

FALAS INUSITADAS

Quem não ouviu a fala do advogado de defesa Dr. Jean Severo quando no fervor da sua defesa disse ao promotor de Justiça Dr. Davi: "Essa gelatina não se afirma, Excelência. Parece prego em polenta." Para muitos, a expressão é desconhecida. Já, para o homem do campo, é muito utilizada para indicar pessoa que não sabe o que quer, que não se posiciona, o que era inconcebível para o momento. 

O cansaço produzido em todos que participaram do júri provocou situações inusitadas, como a fala do juiz Orlando para a promotora de justiça Dra. Lúcia: "Vai lá doutora, é como dizem, enforque-se com a corda da liberdade?", parafraseando o pensador Antônio Abujamra. Ou seja, todos temos a liberdade de falar, porém, em determinados momentos, a fala deve ser produzida pelo silêncio, pois, neste tipo de pronunciamento, não tem erro. 

O certo é que nossa cidade jamais irá esquecer e fechar essa ferida chamada Kiss. O júri trouxe um certo alento, mas não restabeleceu o status quo, isto é, as vítimas e seus familiares, independentemente do resultado do júri, não irão curar suas dores, não trarão seus entes queridos de volta. Apenas viram o cumprimento de um rito processual. 

O capítulo não se encerrou, mas uma etapa foi vencida, permitindo que 2021, junto ao fim da Covid-19, seja concluído com superação. Que 2022 venha com esperança e forças renovadas, revestido de resiliência.

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