Levantei, listei o que deveria fazer, peguei o carro e saí. No Centro, entrei num estacionamento, e, no ingresso, meu trajeto é parado por um carro sendo manobrado por um funcionário que me faz esperar 12 minutos. Ao sair, perguntei a quem registrava a entrada e a saída dos carros se aqueles minutos seriam descontados do meu tempo. A resposta foi ¿não¿. Quando me virei para sair, ela completou: ¿mas a senhora pode tirar seu carro daqui agora sem pagar¿. Eu tentei explicar que não era o pagamento que estava em jogo e que a questão era consideração. Ela não entendeu.
OPINIÃO: Diretas não é garantia de solução
Saí desolada, entrei numa livraria, fui atendida por um jovem simpático e perguntei se tinha o livro que me interessava. Ele franziu a testa, perguntou-me quem era o autor e de onde era a obra. Respondi que era de Santa Maria e escrito por um santa-mariense. Ele me olhou e me explicou: ¿Desculpe, mas, aqui, só vendemos livros bons!¿. Eu olhei para ele, sem conter o queixo caído, e emiti o som: ¿É!¿.
OPINIÃO: Precisamos falar sobre ISTs
Deixei a livraria e lembrei do ditado que os colegas da Universidade de Milão usavam frequentemente: ¿Non c¿è due senza tre¿, ou seja, ¿não tem dois sem três¿. Pensei: ¿Meu Deus! Depois destas, será que terei outra bordoada?¿. E não tardou a chegar. Tive a brilhante ideia de entrar numa loja na mesma calçada e perguntar se havia uma blusa como a da vitrine, mas na cor azul. Aí, chegou o três. A balconista olhou-me dos pés à cabeça e respondeu: ¿Mas, aqui, nós só vendemos moda jovem!¿. Para esta colocação, não tive resposta. Saí da loja.
Segui meu caminho cabisbaixa, relativamente conformada com os desencontros, falando comigo: ¿Bem, se já me aconteceram três impropérios, agora, tudo será lucro, estou pronta para o que vier¿. Eu não estava pronta! Disto, certifiquei-me ao chegar na farmácia para comprar um medicamento injetável. Enquanto a farmacêutica consultava o preço, perguntei a ela: ¿A senhora sabe se esta injeção é dolorida?¿. Ela me olhou, franziu a testa, não respondeu e comentou em baixo tom de voz: ¿Quanto mais velhos, mais covardes!¿.
Quatro pauladas em meia hora me tontearam. Para me refazer, sentei-me num banco do Calçadão. Vi excentricidades de todos os matizes, conversei com (des)conhecidos, recordei antigas lojas como Paris, Globo, Lang, Roth, Pernambucana, Dânia, Salin, observei transeuntes e lembrei do texto de Rui Barbosa: ¿De tanto ver triunfar...¿.
Ali, ri da minha impotência, inércia e vergonha de ter passado pelas situações constrangedoras. Como professora, pensei na educação formal, no processo de ensinar e de aprender, no desencontro destes dois movimentos, e fiquei com a certeza no valor da educação. É! Continuo acreditando nela. Acredito na educação dada por pais e professores de Santa Maria. Acredito no treinamento que nossos empresários oportunizam aos funcionários, mas não posso desacreditar que vivo numa cidade de gente bem-ensinada e mal aprendida.