“Invisíveis da sociedade”, pessoas em situação de rua de Santa Maria contarão com dois novos projetos assistenciais

Denzel Valiente

“Invisíveis da sociedade”, pessoas em situação de rua de Santa Maria contarão com dois novos projetos assistenciais
Por Denzel Valiente, [email protected]

Na ausência de casas ou por conta de problemas pessoais, ruas são refúgio para dezenas de pessoas. Foto: Renan Mattos (Arquivo Diário)

Dados defasados apontam que, só em Santa Maria, ao menos 170 pessoas fazem das ruas sua moradia e forma de sustento. Essa população, que vive à margem da sociedade, pode ser ainda maior. E é por isso que um projeto da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desenvolverá um levantamento censitário que deve apontar quem são essas pessoas e como elas foram parar nas ruas e calçadas da cidade. Essa é mais uma das iniciativas que buscam dar assistência às pessoas em situação de rua. Outro projeto que chegará ao município nos próximos meses é a fraternidade O Caminho, uma nova congregação católica que realizará um trabalho social voltado para pessoas que estão em situação de rua e que fazem uso de drogas.

O CAMINHO

A fraternidade, de ordem franciscana, surgiu em São Paulo no ano de 2001. Atualmente, o grupo atua em 16 Estados brasileiros e 14 países diferentes. As tratativas com a Arquidiocese de Santa Maria começaram ainda em 2021. Durante o processo encabeçado pelo arcebispo dom Leomar Antônio Brustolin, Santa Maria concorreu com o México. A confirmação da escolha do local para as ações da fraternidade ocorreu no final de abril. 

Na cidade, a congregação atuará em um espaço denominado Casa Papa Francisco e tem lançamento oficial previsto para o dia 16 de junho, feriado de Corpus Christi. No dia 21 de abril, dom Leomar anunciou, com exclusividade ao Diário, a instalação da fraternidade no município.

– Vai ser um marco histórico. Virá uma congregação franciscana para cuidar principalmente dos moradores de rua. Vai se chamar Casa Papa Francisco. Nós vamos ter as mesmas intuições do papa para cuidar das pessoas daqui – completou o arcebispo de Santa Maria.

Ainda não foi divulgado o endereço onde será sediada a Casa Papa Francisco. Conforme a arquidiocese, o trabalho realizado pela fraternidade irá além da distribuição de alimento para os moradores de rua. A congregação buscará o convívio e o apoio junto às pessoas em situação de rua e drogadição, oferecendo oportunidade para que elas mudem de realidade.

A fraternidade O Caminho atua em quatro pilares, denominados de Missão Anawin, Missão Dimas, Sede Sóbrios e Missão Madalena.

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AS MISSÕES DA FRATERNIDADE: 

Missão Anawin: essa missão tem duas frentes de serviços, a ida às ruas, às cracolândias e às periferias e o acolhimento nas casas de passagem. Missão Dimas: consiste na criação de laços de amizade, momentos de oração, preparação de Santa Missa, na preparação para os Sacramentos, na viabilização de algumas necessidades dos presos na área jurídica, da saúde ou familiar. Missão Sede Sóbrios: envolve o tratamento terapêutico, o acompanhamento pós-tratamento e o acompanhamento das famílias dos acolhidos.Missão Madalena: voltada para mulheres que se encontram em situação de prostituição.

TRABALHO EM CONJUNTO 

A Casa Papa Francisco será mais uma das instituições que trabalham em Santa Maria com a população de rua. A fraternidade desenvolverá o projeto, também, com o apoio da prefeitura. Conforme o secretário de Desenvolvimento Social, João Chaves, os trâmites por parte do Executivo já estão em andamento:

– Nós temos conversado com pessoas que fazem parte deste momento. O prefeito também já conversou comigo sobre a congregação e o trabalho com as pessoas em situação de rua. 

O secretário também ressaltou a importância do conhecimento da fraternidade nos processos que envolvem moradores de rua e dependentes químicos. Conforme João Chaves, a troca de experiências fará a diferença:

– Com certeza, vai somar com o que a gente tem aqui, e também para os vários grupos que nós temos hoje na cidade e que fazem trabalho com os moradores de rua. Vem só para acrescentar.

QUEM SÃO AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA

Considerada uma questão de saúde pública, a moradia de rua em Santa Maria conta, hoje, com cerca de 170 pessoas em no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚníco). O levantamento é aproximado, já que muitas dessas pessoas estão em constante migração entre municípios, além de várias não estarem cadastradas no sistema.

– Muitos não acessam nossos serviços, por vários motivos, uns não concordam com as regras das casas de passagem – afirma João Chaves como sendo alguns dos motivos para a defasagem dos dados.

Para se ter um panorama mais fiel sobre esses públicos, a prefeitura, o Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) estão desenvolvendo, em conjunto com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), um diagnóstico. O documento trará informações detalhadas para que políticas públicas sejam pensadas.

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– Queremos saber quem são essas pessoas, se elas são de Santa Maria, por que elas estão aqui, se elas têm interesse em retornar para suas cidades, entre outros aspectos – completa o secretário do Desenvolvimento Social.

O levantamento deve estar disponível em aproximadamente três meses, segundo prevê Daniele Lang Baratto, presidente do Conselho de Assistência Social.

– Nós fizemos reuniões preparatórias e finalizamos a elaboração do instrumento de pesquisa. Estamos na fase de seleção de entrevistadores/alunos da UFSM que irão participar em conjunto com os profissionais dos serviços na realização das entrevistas – explica Daniele.

UFSM NAS RUAS

A pesquisa é desenvolvida pelo curso de Serviço Social e pelo projeto UFSM nas Ruas, proposto pelo curso de Terapia Ocupacional e que existe desde 2018. O projeto que trabalha na fomentação de políticas públicas voltadas para as pessoas em situação de rua, busca junto a prefeitura, a criação de um Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop). 

Esses espaços são pensados para pessoas que fazem das ruas local de moradia ou sustento. Neles, os usuários podem acessar serviços básicos como alimentação, lavagem de roupas, higiene pessoal e guarda de pertences. 

Conforme a coordenadora do UFSM nas Ruas, professora Amara Battistel, para que seja possível a implementação de um Centro Pop em Santa Maria, é necessária a existência de um levantamento acerca de quantos são e quem são os moradores de rua.

– Fomos fazer um levantamento censitário de quem são essas pessoas, como elas vivem, onde dormem, qual é a rede de apoio delas. É um questionário bem extenso, nós utilizamos dois modelos, um já usado em Porto Alegre e outro que foi usado em São Carlos – SP – informa a professora da UFSM.

O levantamento ainda está em fase inicial, os pesquisadores, que são alunos da UFSM, vão trabalhar juntos com os assistentes sociais nas casas de passagem para adultos (Mundo Novo e Maria Madalena). Já em uma segunda fase, o grupo sairá às ruas para aplicar o questionário.

– Não basta nós pensarmos o que a pessoa em situação de rua precisa. É necessário escutá-los, ouvir aquilo que vem da percepção deles – completa Amara Battistel.

Em último momento, os integrantes do grupo de pesquisa farão a análise dos dados obtidos. Se cumprido o prazo previsto, o levantamento estará finalizado até julho deste ano, possibilitando a execução do Centro Pop e demais políticas públicas.

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