Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Não há distância, previsão do tempo ou período histórico que impeçam Esther Huske Giuliani de ir às urnas. E sejam elas de madeira, à época do voto impresso, ou as eletrônicas, vigentes desde 1996 e atestadas como modelo mais seguro do voto informatizado mundial, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É que o voto eletrônico desperta ceticismo à eleitora que teme que por meio deste método “possam fazer sujeira”, segundo o que tem ouvido por aí. Mas ela, aos 94 anos, vota. E é pelo voto que a aposentada sustenta fazer valer a democracia e não aceita argumentos de quem se ausentar no dia 2 de outubro.
Santa-mariense filha do Bairro Itararé, Esther nasceu no dia 5 de abril de 1928. Na juventude, mudou-se para o município de Restinga Sêca, e foi lá que votou pela primeira vez:
– Eu era nova, mas tinha mais de 18 anos, que era a idade mínima. Votei lá no Clube Seco, de Restinga. Depois, voltei para Santa Maria, e meu local de votação sempre foi o Clube Comercial, no Centro, que é onde sempre morei.
Sempre com postura firme, ela jura que nunca foi influenciada. Até admite que errou em algumas escolhas, frustrou-se com a postura de alguns políticos e nem sempre seus favoritos foram eleitos:
–Sempre tive candidato e não me convenciam a trocar. Lembro que um tio queria que eu votasse no candidato dele e teimei e votei no meu.
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Esther nasceu quando mulheres não tinham o direito de votar. Mas ela foi antecedida por Leolinda Dautro, Bertha Lutz, Elvira Komel e Natércia da Cunha Silveira que estiveram à frente de partidos, associações e movimentos que se fizeram ouvir no espaço público e incidiram no direito para que as mulheres brasileiras pudessem votar em 24 de fevereiro de 1932, por meio do decreto 21.076, que instituiu o Código Eleitoral. A propósito, os 90 anos do voto feminino no Brasil figuraram diversas celebrações ao longo de 2022.
Enquanto mulher, cidadã e incentivadora do voto para toda família (ela tem quatro filhos, oito netos e 17 bisnetos), a aposentada tem bem claros os motivos que a fizeram sair de casa em 11 eleições presidenciais.
– Voto porque amo meu Brasil, sempre fui patriota, adorava desfilar no 7 de Setembro. Quero um futuro melhor para o país e para os meus filhos e netos. Eu não entendo muito de política, digo que sou apolítica, é isso? Mas tenho meus candidatos. E não só na Presidência, vou votar para governo (do Estado), deputados, todos… levando minha colinha. Me sinto no dever a na obrigação de votar e ver se as coisas melhorarem, e para o Brasil chegar a uma grande potência. Espero que essa gurizada sinta esse patriotismo e a vontade de ajudar o país. Se eu vou, eles que também vão votando consciente, para pessoa certa. E sobre o voto feminino, foi um espetáculo. Mulher tem de participar de tudo. Viva a mulher! Temos os mesmos direitos. Não sei se ainda tem mulher que ganha menos fazendo o mesmo trabalho. Tem? Espero que não – enfatiza.
DEMOCRACIA E HISTÓRIA
Entre mudanças, da ascensão à queda de ícones da política nacional, Esther acompanhou muito da história do país. Getúlio Vargas é um dos nomes mais lembrados pela idosa. Ela, inclusive, atribui a Vargas o que para ela foi uma das maiores contribuições já feitas por um presidente: a criação do salário mínimo (com lei promulgada em 1936 e decretado em abril de 1938). Outro fato que a marca foi ter vivido quando o mundo enfrentava uma guerra (1939-1945), mas, principalmente o fim dela:
– Eu era mocinha e sou de família de origem italiana. Lembro que aqui em Santa Maria teve lojas assaltadas porque os donos eram italianos. Entravam e quebravam tudo. À época, nossa distração e meio de informação era o rádio, e o que marcou foi ouvir o programa Repórter Esso. Na rádio, dava uma musiquinha e, quando tocou aquela vez, em 1945, todos perguntaram: o que houve? E ele disse: acabou a Guerra. Todos saíram às ruas gritando de felicidade. Nunca esqueci.
A mesma mulher que comemorou o fim da 2ª Guerra, em 1945, diz que pouco lembra sobre a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Ao longo das décadas, diz ter presenciado altos e baixos da economia, da segurança pública e do dia a dia da educação e da saúde. Contudo, conforme Esther, hoje está pior que anos anteriores, pois nunca houve tanta corrupção e políticos corruptos – e que é preciso honrar a democracia.
Questionada sobre o que é democracia, e se os escândalos não vieram à tona, propositalmente, em decorrência da transparência de investigações e do Estado democrático, ela responde:
– A política bem exercida e os políticos fazendo o papel deles com decência, o Brasil vai melhorar e muito. Voto com convicção e espero que todos votem. E democracia? O que vou te dizer? Para mim, democracia é liberdade.
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Eleitorado de Santa Maria
Com recorde de eleitores aptos a votar nesta eleição – 208.727, Santa Maria tem um perfil semelhante ao do país: as mulheres predominam: são 113.161 do total dos 208.727 votantes, o equivalente a 54%. Já o número de homens alcança 95.566, correspondente a 46%.O número maior de eleitores se concentra na faixa etária de 35 a 39 anos: 20.102. De acordo com o perfil disponibilizado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), chama a atenção a parcela de eleitores acima de 70 anos no município, idade a partir da qual o voto é facultativo, e reflete o cenário gaúcho. Recentemente, dados do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE) apontaram um aumento na expectativa de vida da população. Somente entre a faixa de 95 e 99 anos, são 1.118 votantes e, acima de 100 anos, 434. Já na faixa de 70 até 79 anos, são 16.596 eleitores.
Ao total, a partir de 70 anos, Santa Maria registra 26.764 eleitores, um percentual bem considerado e que pode fazer a diferença para os candidatos. Isso porque, nas eleições de 2018, 10 dos 55 deputados eleitos à Assembleia Legislativa obtiveram menos de 26.764.
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