Após quase um mês de produção, um mural foi inaugurado na manhã de terça-feira (26) na Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Coser, no Bairro Lorenzi. Idealizada no âmbito de um projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a obra contou com a participação de 30 alunos da escola, refletindo sobre a importância do Setembro Azul.
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Processo
Para produzir o mural de arte surda, os alunos passaram por uma série de atividades, sendo a primeira em 29 de agosto deste ano. Na oportunidade, eles acompanharam uma palestra sobre muralismo ministrada pelo artista e ex-professor da UFSM, Juan Amoretti. Conversas em libras sobre as referências de arte surda e imagens que os alunos estão acostumados a ver foram alguns dos pontos trabalhados durante o processo, que contou com aulas sobre o uso de diferentes formatos de pincéis, mistura de cores, entendimento de matizes e tons, mistura de cores primárias e secundárias, composição formal e construção de planos pictóricos para originar desenhos autorais.
Segundo a artista visual e educadora, Cica Ereno, 49 anos, que coordenou a parte técnica do projeto, a maioria dos estudantes trabalhou a inserção de imagens interpretativas de mãos e olhos remetendo à linguagem de sinais. Para a profissional, o resultado exemplifica a importância da arte para a autonomia e identidade de diversos grupos sociais.
– No caso dos estudantes, o maior aprendizado que se fez presente neste projeto é o respeito à diversidade cultural, pois cada estudante traz uma história de vida e vivências pessoais capaz de modificar a forma de pensar dos outros. Cada pessoa é capaz de expressar de sua maneira as realidades percebidas e explorar novas formas de compreender o outro. A arte é uma ferramenta de inclusão, pois possibilita que uma ideia seja compreendida em diversos contextos sob variadas interpretações – analisa.
A ação faz parte do projeto “Murais da UFSM: interlocuções sobre arte, cultura e patrimônio”, que busca ampliar o conhecimento e suscitar um sentido de pertencimento na comunidade santa-mariense sobre arquivos fotográficos como patrimônio documental e pintura mural. Segundo a coordenadora do projeto de extensão e a arquivista do Departamento de Arquivo Geral da UFSM, Cristina Strohschoen dos Santos, 52, a oficina de muralismo ocorreu em seis encontros. Inaugurado no Dia Nacional do Surdo, o mural encontra-se no mini-auditório da escola.
– A educação patrimonial que realizamos leva os alunos a valorizarem o patrimônio cultural, e o reconhecerem. Nesta ação, destacamos o patrimônio artístico de Santa Maria. Além disso, os alunos tornaram-se artistas e deixaram seu registro na memória dos 21 anos da escola – destaca Cristina.
Nos últimos anos, o projeto da UFSM produziu quatro murais em escolas públicas municipais e estaduais de Santa Maria.
Resultado
Atualmente, 68 alunos estudam na Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Coser. Na produção do mural, estiveram envolvidos 30 estudantes, com idades entre 14 e 60 anos, oriundos do Ensino Fundamental, Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Para o diretor da instituição, Jeferson de Oliveira Miranda, 61 anos, a iniciativa superou as expectativas:
– Foi muito importante a participação destes alunos, que criaram sua arte surda com artefatos culturais próprios e suas trajetórias. A história foi mostrada com pinturas e desenhos que são magníficos.
O que é o Setembro Azul?
Com o objetivo de dar visibilidade à comunidade surda e seus direitos no Brasil, o Setembro Azul carrega uma programação ampla, que busca especialmente conscientizar sobre a importância e necessidade de acessibilidade em suas diversas instâncias.
O movimento ganhou força em 2011, mantendo viva a língua de sinais e a cultura surda. Entre outras datas importantes, a campanha faz alusão a 26 de setembro de 1857, quando foi inaugurada a primeira Escola de Surdos no país, renomeada como Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). Desde 2008, a data também é reconhecida como o Dia Nacional do Surdo.