Enchentes no RS: dia a dia, a evolução do número de mortos, desaparecidos e de cidades afetadas; veja gráfico

Thais Immig

As enchentes no Rio Grande do Sul atingem 450 municípios gaúchos e deixam rastros por onde passam. Pelo menos 149 pessoas morreram, mais de cem estão desaparecidas, paisagens foram transformadas, famílias saíram de casa e bairros inteiros ficaram debaixo d'água nas duas últimas semanas. Desde o dia 29 de abril, quando alertas foram reforçados, já foram mais de 2 milhões de pessoas fora de casa e 538 mil desalojados - conforme o último boletim divulgado pela Defesa Civil nesta quarta (15). As cenas de destruição e a avalanche de informações são tão impactantes que fica difícil acompanhar tudo. Por isso, o Diário fez um Raio-X, dia após dia, da evolução do número de mortes, desaparecidos e cidades afetadas no Estado (veja abaixo).


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As fortes chuvas, que nos primeiros dias foram registradas com mais intensidade na Região Central e no Vale do Taquari, já afetam 90% dos municípios gaúchos. Diariamente, também cresce o número de óbitos e desaparecidos no estado (veja gráfico). 


Segundo o meteorologista Gustavo Verardo, um bloqueio atmosférico no centro do país impediu o avanço de frentes frias, que ficaram concentradas no Rio Grande do Sul e ocasionaram chuvas históricas no estado:

Tudo começou com o estabelecimento de um bloqueio atmosférico no centro do país. Em consequência, no final de abril, houve a intensificação da chuva na região central porque um sistema que a gente conhece como jato de altos níveis, ou seja, uma grande esteira de ventos, estava sob a região de Santa Maria.

Com as fortes chuvas registradas em diversas regiões do Estado, o cenário se agravou na Região Metropolitana porque o Guaíba recebe água dos principais rios como Jacuí, Caí, Sinos e Taquari. Verardo explica que é como se ele funcionasse como uma bacia coletora. Em consequência, toda a água está sendo despejada na Lagoa dos Patos, que tem ligação com o Oceano Atlântico.

Por isso, fala-se em enchentes, no plural, que caracterizam a tragédia histórica no Rio Grande do Sul:

É um efeito cascata. Essa chuva extrema ocasionou a elevação em níveis recordes dos rios. Por isso, hoje falamos em enchentes, no plural, que afetam diversos municípios em todas as regiões. Todas as bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul tiveram cheias. Essa chuva é histórica, nunca aconteceu – explica Verardo.


29 de abril: O alerta

Com previsão de chuva volumosa, autoridades reforçam alertas. Em 29 de abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu o primeiro alerta vermelho de volume elevado de chuva.

A elevação dos rios também preocupava famílias que residem próximas a córregos. No distrito Passo do Verde, próximo ao Rio Vacacaí, o diálogo “Já viu o nível do rio hoje?” era comum entre moradores que subiam móveis e eletrodomésticos das casas com o risco de novas enchentes


30 de abril: Primeiras mortes 

No dia seguinte, as primeiras mortes foram registradas. Foram duas na cidade de Paverama, uma em Pantano Grande, uma em Encantado e uma em Santa Maria. A chuva, que agravava a cada hora, derrubou pontes, obrigou moradores a sair de casa e bloqueou o trânsito em diversos pontos. Já eram 77 municípios afetados e outro número também chamava atenção: 18 gaúchos estavam desaparecidos. No mesmo dia, a Defesa Civil do Estado alertou para inundações dos rios Jacuí e Taquari. Já a serra gaúcha enfrentava bloqueios nas estradas, transbordamentos de rios e deslizamentos de terra.


1º de maio: Deslizamentos deixam mortos, feridos e desalojados

No dia em que o Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade pública, deslizamentos de terra na Região Central deixaram mortos, feridos e desalojados. Em Santa Maria, foram duas vítimas, no deslizamento do Morro Cechella, na Rua Canário. Em São João do Polêsine, um deslizamento de terra causou uma morte.

Diante de um cenário em que 14 municípios afetados, intensifica-se o resgate de pessoas seja por terra, seja por ar. Além da atuação da Defesa Civil das cidades e do Corpo de Bombeiros, a Força Aérea também auxiliou no resgate de pessoas ilhadas em localidades onde, pela falta de acesso, nem barcos davam conta de chegar.

No Vale do Taquari, centenas de pessoas saíram de casa pela forte chuva e risco de rompimento de barragens. Só no município de Putinga, 800 moradores precisaram deixar as residências. No mesmo dia, o Rio Taquari passava dos 30 metros e atingia o maior nível da história em Lajeado e Estrela.

Deslizamento de terra no Morro Cechella, em Santa Maria, deixa duas vítimasFoto: Gabriel Haesbaert


2 de maio: Famílias ilhadas 

A partir de quinta-feira, dia 2 de maio, o número de vítimas fatais disparou, com 19 novas mortes registradas em 24 horas. Ao todo, o boletim já confirmava 29 óbitos e 60 desaparecidos. Além disso, mais de 4500 pessoas já estavam em abrigos em todo o Estado. Operações foram montadas para o resgate de famílias ilhadas em diversas localidades gaúchas. Só em Agudo, município da Região Central, eram mais de 600 pessoas sem comunicação e sem conseguir sair de casa. Em Porto Alegre, a Defesa Civil alertou que o Guaíba estava prestes a transbordar de modo "significativo".

Em visita a Santa Maria, o presidente Lula avaliou a situação dos municípios da região e afirmou que não faltariam recursos para reparar os danos causados pela chuva:

- Não vamos permitir que faltem recursos para reparar os danos pela chuva. O governo federal está 100% à disposição do Rio Grande do Sul para atender com material humano e recursos para reparar os prejuízos. No primeiro momento, temos que salvar vidas. No segundo, vamos fazer uma avaliação dos danos e, a partir disso, pensar em como encontrar dinheiro. Não faltará dinheiro para cuidar da saúde, transporte e alimentos.


3 de maio: No Guaíba, uma marca histórica

No dia 3 de maio, conforme boletim divulgado pela Defesa Civil, mais da metade das cidades gaúchas foram afetadas pelas chuvas. Em Porto Alegre, uma marca histórica: a cheia no Guaíba bateu o recorde da enchente histórica de 1941. Na sexta-feira (3), as medições apontavam para um nível de 4,77 metros, um centímetro a mais do que há 83 anos, quando o nível chegou a 4,76 metros.

Em outros locais da Região Metropolitana, a situação também se agravava. O Rio Caí transbordou e deixou municípios inteiros sem energia elétrica e rodovias danificadas. Já no Vale do Taquari, a redução da chuva e do nível do rio deixou rastros de destruição e as famílias passaram a avaliar os prejuízos. 


4 de maio: O resgate que chega pelo telhado

No sábado, 4 de maio, o número de mortos ultrapassou o da tragédia de setembro de 2023 no Estado, quando 54 pessoas morreram em enchentes. Naquele momento, a estatística chegava a 57, com 67 desaparecidos e 300 municípios afetados.

Na data, já eram mais de 400 mil pontos sem energia elétrica e pelo menos 186 municípios sem sinal de internet e telefone. Além dos danos a casas e prédios, a infraestrutura pública também havia sido atingida. Na Região Metropolitana, pontes sobre o Guaíba são interditadas e o aeroporto Salgado Filho suspende as operações. No início da noite, os aviões ATR-72 da Azul e VoePassa chegaram a Santa Maria vindos de Porto Alegre. Como não podiam voltar à Capital, foram vazios para Curitiba e Florianópolis. Em Canoas, moradores tiveram que sair de casa após cheia no Rio Jacuí, enquanto outras se refugiam em cima dos telhados de casas à espera de salvamento.

Em 4 de maio, a história de um bebê salvo pelo telhado no Vale do Taquari ganha comoção nacional após vídeo divulgado pelo Exército Brasileiro.


5 de maio: Cresce o número de mortes 

O número de municípios afetados cresce: já são 341 em todo o Estado. Em Eldorado do Sul, o prefeito afirma que 100% da cidade, que conta com 40 mil habitantes, foi atingida. Não havia água, comunicação e energia elétrica. Situação dramática que se repetia em outros municípios. Em Canoas, correntes humanitárias são feitas no resgate aos moradores ilhados. Ou seja, voluntários cruzam os braços uns com os outros, em uma espécie de cordão humano, com o objetivo de fazer força para puxar os barcos que voltam com os resgatados.

Com o número de óbitos em 78 e o número de desaparecidos em 105, o governador Eduardo Leite resume a situação dos municípios gaúchos como “catastrófica”:

É a maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul. A extensão em locais muito populosos do Estado traz uma iminência de colapso em diversos serviços.


6 de maio: Na Região Central, o início da reconstrução

Em Porto Alegre, centenas de famílias estão ilhadas à espera de salvamento. A prefeitura pede que moradores dos bairros Cidade Baixa e Menino Deus saiam imediatamente de suas casas por risco de alagamento. Outras cidades como São Leopoldo vivem uma situação caótica. Sem acesso a serviços básicos e com acesso bloqueado a cidades vizinhas, o município que fica próximo ao Rio dos Sinos, tem mais de 180 pessoas desalojadas.

Enquanto isso, o número de municípios afetados chega a 385. No mesmo dia, um novo alerta foi emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), dessa vez, para os municípios da Região Sul e da Campanha.

Na Região Central, em municípios como Santa Maria, o momento é de reconstrução. Moradores começam a limpar as casas e tentar recuperar o que sobrou após as chuvas:

Eu perdi tudo dentro de casa, não sobrou nada. Mas me conforta ver toda essa solidariedade. Amigos e pessoas que eu nem conheço, ajudando na limpeza e oferecendo lanche. É uma corrente enorme, fora do sério – afirma Henrique Borba Maciel, morador do Bairro Passo das Tropas. 


7 de maio: As doações que não param de chegar

Em 7 de maio, o número de óbitos chegou a 95 e mais de 1,4 milhões de gaúchos foram afetados pela chuva. Diante disso, crescia cada vez mais a rede de solidariedade para ajudar as pessoas atingidas pelas enchentes. Voluntários anônimos ou famosos doam tempo, dinheiro e mantimentos para ajudar na reconstrução das famílias. Entre as ações estão campanhas de arrecadação coletiva, envio de mantimentos aos municípios gaúchos e até a organização de shows beneficentes, com o valor dos ingressos revertido para as pessoas atingidas.

Ao mesmo tempo, municípios como Canoas enfrentam problemas de saques, em que relatos de assaltos têm sido constantes. Assaltantes têm roubado barcos de quem chega para ajudar. Em Rio Grande, a água da Lagoa dos Patos avança pelas ruas e deixa casas alagadas. Ainda há pessoas ilhadas em outras regiões como a Quarta Colônia.

Cresce o número de voluntários diante das doações que não param de chegar no RSFoto: Beto Albert


8 de maio: Estado chega à marca de 100 mortes 

Em 8 de maio, o Rio Grande do Sul chegava à marca de 100 mortes. Já eram 425 municípios afetados em um cenário que se agravava na zona sul do Estado. Em Rio Grande, famílias que moram próximas à Lagoa dos Patos precisam deixar as residências.


9 de maio: Ajuda de R$ 50,9 bilhões 

O Estado chegava à marca de 431 municípios atingidos, 107 óbitos confirmados e 134 desaparecidos. Neste dia, o governo federal anunciou uma ajuda de R$ 50,9 bilhões ao Rio Grande do Sul a partir de uma série de medidas como a antecipação de pagamentos do Bolsa Família, do auxílio gás, e da restituição do Imposto de Renda aos moradores afetados pela chuva.

Na quinta-feira (9), o Brasil acompanhou, em rede nacional, o resgate do cavalo Caramelo. Ele ficou ilhado por dias no telhado de uma casa em Canoas. Para muitos, ele se tornou o símbolo de resistência do povo gaúcho e representa milhares de animais que também precisaram ser resgatados devido às fortes chuvas.


10 de maio: Enchentes correspondem a sete vezes Porto Alegre 

Segundo dados de um grupo formado por pesquisadores das áreas de hidrologia e urbanismo da UFRGS, a enchente atingiu uma área que corresponde a sete vezes o município de Porto Alegre. Até o dia 10 de maio, a água atingia 3,8 mil quilômetros quadrados. Na data, o número de municípios aumentava para 441 e o número de mortes confirmados estava em 126


11 de maio: Tornado em Cambará do Sul 

Um tornado em Cambará do Sul se somou à tragédia do Rio Grande do Sul. Na tarde de sábado (11), os moradores foram surpreendidos com o fenômeno meteorológico que, conforme a prefeitura, provocou ventos de até 140 km/h e deixou um rastro de destruição. Residências, escolas e postos de saúde foram danificados. No Estado, o número de municípios afetados já chegava a 446.


12 de maio: Cresce o número de gaúchos fora de casa 

Em todo o Estado cresce o número de gaúchos fora de casa. Segundo boletim divulgado pela Defesa Civil, 538 mil pessoas estavam desalojadas. Em Gramado, o número chegou a mil. No município, a água infiltrou ruas do e, com isso, o solo começou a ceder.

Em Santa Maria, a prefeitura ampliou o número de vagas em abrigos para acolhimento de pessoas afetadas como medida preventiva diante das chuvas marcadas para o fim de semana.


13 de maio: Tremores de terra em Caxias

Em 13 de maio, o governo anunciou a suspensão do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União por três anos. Por ano, o valor das parcelas totaliza R$ 3,5 bilhões. O montante será encaminhado para um fundo que terá como principal objetivo medidas que minimizem o impacto das enchentes. No mesmo dia, o governo também confirmou um auxílio emergencial de R$ 2 mil para 45 mil famílias afetadas pelas fortes chuvas que atingem o estado desde o final de abril.

Na madrugada de segunda-feira, moradores de Caxias do Sul se assustaram ao ouvir tremores de terra. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a suspeita é que a chuva dos últimos dias seja a responsável: com a terra molhada, aumentam os riscos de deslizamento de terra.


14 de maio: Número de mortes não para de subir

De acordo com boletim da Defesa Civil, o número de óbitos cresceu para 149. Na data, eram 112 desaparecidos. Moradores e animais seguem ilhados nos municípios gaúchos como Porto Alegre e São Leopoldo. Em outras cidades, uma força-tarefa é montada para auxiliar as famílias atingidas pelas enchentes. Em Santa Maria, alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) consertam eletrodomésticos de forma gratuita

Alunos consertam eletrodomésticos de forma gratuita para atingidos pelas chuvas em Santa MariaFoto: Letícia Almansa Klusener


15 de maio: Mais auxílios do governo 

Na data em que a Defesa Civil confirmou 149 óbitos e 108 desaparecidos, o governo federal anunciou que vai pagar R$ 5,1 mil por endereço afetado pelas enchentes. Até o momento, 452 municípios foram afetados pelas enchentes históricas no Rio Grande do Sul. 


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