Encerrada a fase de acusação no processo criminal da Kiss

A fase de testemunhas de acusação do principal processo criminal sobre o incêndio da boate Kiss foi encerrada nesta sexta-feira com o último depoimento previsto, o do engenheiro civil Miguel Ângelo Pedroso. Ele é considerado um dos mais importantes desta etapa. Tanto que foi a primeira audiência fora de Santa Maria que teve a presença dos dois promotores criminais que atuam no caso.

Pedroso foi ouvido pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada no Fórum de Alegrete no começo desta tarde, dia em que a tragédia completou um ano e cinco meses. Quatro mães de vítimas da cidade de Manoel Viana assistiram à audiência. Em Santa Maria, a data foi marcada mais uma vez pelo minuto do barulho e celebração religiosa.

O engenheiro Miguel Pedroso foi o responsável técnico pelo projeto de isolamento acústico da casa noturna entre novembro e dezembro de 2011. A obra, que seguiu até meados de 2012, foi uma tentativa de acabar com o ruído que incomodava os vizinhos da danceteria e culminou com a colocação de espuma no entorno do palco. Material que ao queimar liberou gás tóxico que levou a morte 242 pessoas por asfixia em 27 de janeiro de 2013.

O engenheiro reforçou o que já havia dito à polícia que "nunca indicou a colocação de espuma no local" (veja o que disse o engenheiro abaixo).

O depoimento do engenheiro encerrou a fase de acusação. A próxima etapa será de audiências para ouvir as pessoas indicadas pela defesa, o que deve ocorrer em setembro.

O QUE DISSE A TESTEMUNHA

Miguel Ângelo Pedroso, engenheiro civil

- Que foi indicado pelo engenheiro Samir Samara por ser especialista na área para fazer o projeto de isolamento acústico da Kiss. Foi contratado pelo sócio da danceteria, Elissandro Spohr, o Kiko, e elaborou o projeto entre novembro e dezembro de 2011, ao custo de R$ 6 mil
- Avaliou o local, inicialmente, e mandou Kiko tirar espumas que haviam na parede lateral esquerda (de quem olha de frente para a boate) porque não serviam para isolamento acústico e sugeriu isolar todo o prédio com paredes de tijolo e no forro, gesso acartonado com lã de vidro
- Sugestões foram aceitas parcialmente por Kiko que achou alto o valor da obra. Em vez de parede de alvenaria no fundo do prédio onde foi colocado o palco, na época, Kiko preferiu parede de madeira
- Não foi contratado para executar a obra, mas mesmo assim, acompanhou a execução que foi feita por parentes de Kiko. Ia na boate todos os dias
- Cerca de dois meses depois do fim da obra, Kiko ligou para ele dizendo que reclamações dos vizinhos dos fundos permaneciam. Ele indicou construir parede de alvenaria, como havia dito antes (não chegou a ser feita)
- Acompanhou vistoria feita no local por representantes do Ministério Público, onde foram tiradas fotos. Ele explicou o que havia sido feito na obra
- Chegou a fazer uma medição sonora no local, que apontou 52 decibéis, quando o máximo permitido era 35 decibéis
- Kiko teria perguntado: "quem sabe eu boto espuma aqui?". Eu disse que não adiantaria nada
- Engenheiro Samir Samara ligou para ele, que já estava morando em Alegrete, mas estava em férias em Recife, dizendo que Kiko precisava do documento que atestava que a obra tinha sido executada conforme o projeto para entregar ao Ministério Público. Ele disse que Samara fosse ao local, verificasse e fizesse a declaração, que não significa que o problema tivesse sido resolvido
- Esteve na boate duas ou três vezes para fazer medições de som, mas não encontrou Kiko e acabou não fazendo. Até a última ida, não tinha espuma nenhuma no local
- Falou com Mauro Hoffmann, que sabia ser sócio da Kiss, sobre o problema, mas Mauro não teria lhe dado atenção
- Depois de abril de 2012 não teria ido mais à boate
- Os prédios onde funcionam as boates, em geral, não tem estrutura para serem usados para esta finalidade
- Em geral, desde que não haja mudança estrutural, acréscimo de área ou demolição de alvenaria, n"