Não há dúvida que a vitória de Lula, ontem, é muito simbólica. Significa sua volta por cima depois de não poder concorrer em 2018 e ficar preso por mais de 500 dias.
A conquista nas urnas tem a ver, em parte, com deméritos do governo Jair Bolsonaro (PL), que, não raras vezes, tinha arroubos de ditador, ameaçando não cumprir decisões judiciais, além de participar e incitar, indiretamente, atos que incentivavam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e até do Congresso. Mesmo que esses poderes tenham problemas, jamais se pode sugerir ou pregar o fechamento em um país democrático de direito.
Por conta dessa postura de Bolsonaro, muitos políticos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a ex-candidata Simone Tebet (MDB), e figuras importantes de diferentes segmentos se uniram à candidatura de Lula, entre eles o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que julgou o mensalão e condenou petistas por corrupção. Em condições normais de temperatura e pressão, muitas lideranças não estariam do lado do PT, seja por divergências ideológicas, seja por condenar alguns malfeitos ocorridos em governos petistas, embora os avanços sociais.
Já do ponto de vista do eleitor mais pobre, pesou o bolso para a escolha de Lula, principalmente pelos preços dos alimentos no mercado, que, no dia a dia, refletem nas dificuldades do sustento das famílias. O petista, inclusive, apostou no saudosismo de seu governo em que a economia desfrutava de um bom momento, e isso impactava na vida da população mais carente.
Lula terá muitos desafios pela frente. Primeiro, pacificar o país pela divisão comprovada no pleito. e propiciar uma maior estabilidade. Em segundo, cumprir promessas de avanços sociais diante de uma economia fragilizada pela pandemia. Terceiro, não cometer erros dos seus governos anteriores que resultaram em desvios de recursos públicos e respeitar a imprensa livre. E sem regulamentação. Por último, ter muito diálogo para tratar com um Congresso amplamente de direita conservadora.