
Em Santa Maria, cinco bairros estão com obras em andamento para implantação de uma rede de esgoto: João Goulart, Km 3, Nossa Senhora das Dores, Caturrita e Diácono João Luiz Pozzobom, o que deve beneficiar cerca de 10,9 mil pessoas. O trabalho é feito pela Companhia Riograndense de Saneamento, a Corsan. Conforme a instituição, além destes, outros bairros também na lista ainda este ano – como São João e Chácara das Flores. Com isso, até o final de 2025, a previsão é que 77% das residências santa-marienses tenham rede de esgoto.
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Na tarde desta quinta-feira (25), a reportagem do Diário acompanhou os trabalhos no Bairro João Goulart para entender como vivem e o que fazem as equipes no campo de obras. Antes, atenção para a sinalização e as marcações na via – que vão orientar e garantir a segurança de trabalhadores e pedestres. Tudo pronto, as máquinas são colocadas na via. Lá, o ponto de partida é um corte no asfalto. É ele que abre espaço para as máquinas que realizam as escavações necessárias para receber a tubulação.
De perto, o gerente de Engenharia da Corsan, Adriano Palhares, explica como funciona essa fase. Foi ele que guiou a reportagem na visita pela obra:
– Uma máquina faz a extração da camada de pavimento. Após, a escavação do material é feita até chegar no fundo do terreno em que será colocado o tubo.
Na área de uma quadra na Rua Prof. Fontoura Ilha é possível ver os “buracos” simétricos no chão que vão de uma esquina a outra. A profundidade pode variar de 1m10cm a 3 metros. Uma vez colocada a tubulação, o trabalho é de compactação e recomposição da via. Nessa etapa, máquinas trazem um novo solo para preencher, e nivelar com a rua, o buraco deixado pelas escavações.
Outro passo importante são os ramais de ligação, que conectam a rede de esgoto com as residências. É como se a rede coletora fosse duas linhas verticais e os ramais fossem as ligações na horizontal, que chegam a cada uma das residências. São nesses pontos que o esgoto entra na rede coletora. No final da rua, os canos encontram o que o engenheiro chama de Estação de Bombeamento de Esgoto (EBE).
– Quando chega nas partes mais baixas da região, existe uma estrutura que denominamos de EBE. Ela é composta por bombas, que pegam o esgoto que chega na parte mais baixa e bombeia ele para a parte mais alta, até a estação de tratamento. Lá, o esgoto é tratado e devolvido à fluente para a natureza sem danos para a natureza – afirmou Palhares.
Ainda conforme o engenheiro, nesse tipo de obras, são utilizados dois tipos de cano. O liso e o corrugado – que é composto por uma sequência de anéis. O liso é um tubo menor utilizado nos ramais de ligação. Já o corrugado, que tem o diâmetro maior, é indicado para as redes coletoras por ser mais resistente.
O último passo é a recomposição do pavimento. Todo esse processo descrito leva de 15 a 20 dias, a depender de questões climáticas que podem influenciar no trabalho. Para explicar a condução das obras, Palhares faz analogia com a construção de uma casa. Conforme ele, a implantação de uma rede de esgoto funciona de uma forma bem similar: é composta de fases que vão desde o planejamento até o acabamento final.
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No processo de implantação de uma rede de esgoto, o abastecimento de água não é interrompido. O que pode acontecer é, durante o processo de escavação, alguma rede que não está mapeada ser atingida. Nesses casos, conforme a Corsan, uma equipe técnica é enviada para o local. Ainda de acordo com a Corsan, a equipe trabalha por sequência, ou seja, a próxima área sempre se conecta com a anterior. No caso da Rua Prof. Fontoura Ilha, no Bairro João Goulart, a quadra seguinte já era preparada para receber as obras.
Quem acompanhou de perto a movimentação das máquinas e da equipe foi Vilson Kuhlmann, 70 anos. Há uma vida no bairro, ele conta que recebe as obras com satisfação – tanto que, entre uma escavação e outra, ofereceu refrigerante aos trabalhadores. Era uma tarde ensolarada em que as temperaturas chegavam na casa dos 30ºC.

– Uma obra como essa é desenvolvimento, é progresso. Já temos a rede pluvial e agora está vindo a cloacal. Tudo melhora e faz bem ao bairro. E claro que também faz bem ao mesmo ambiente – afirma o motorista.
Efeitos da ausência de uma rede coletora
Com a falta de uma rede de esgoto, o que acontece em bairros como João Goulart é a destinação incorreta dos rejeitos. Em alguns casos, conforme a gerente institucional da Corsan, é a ligação com a rede pluvial – instalada apenas para receber e destinar de volta aos rios e córregos, a água da chuva. Em outros, é destinado para uma fossa.
– A não implantação do saneamento pode trazer poluição de mananciais, arroios e rios porque, na medida que não tem a rede cloacal implantada, esse esgoto não está sendo adequadamente tratado. Por isso, a implementação de toda essa estrutura – que passa pela questão da implantação das redes coletoras, da conexão dos ramais e do transporte desse esgoto até uma estação de tratamento. Assim, vamos manter a vida de todo o circuito hídrico que cerca as cidades.
Como medida para frear ligações irregulares e danosas ao meio ambiente, a Corsan tem usado uma técnica chamada fumacê – uma nuvem de fumaça que se espalha pelos canos e sai por bueiros e pelas caixas de esgoto de prédios e casas. É com ela que os técnicos conseguem identificar, por exemplo, se uma residência está largando o esgoto sanitário na rede pluvial, ou se o imóvel está com o cano da água da chuva conectado na rede cloacal, o que também gera problemas.
Como utilizar o sistema de esgoto doméstico corretamente:
- Não jogue lixo (cabelo, plástico, absorvente, camisinha, cigarro, fio dental, cotonetes, embalagens) no vaso sanitário, pia ou caixas de esgoto
- Limpe periodicamente as caixas de gordura
- Mantenha as caixas de inspeção tampadas, mas acessíveis
- Não descarte o óleo de cozinha em pia, vaso sanitário ou tanque de lavar roupas. Quando vai para o esgoto, o óleo se acumula nos encanamentos, forma camadas espessas de gordura e entope as tubulações. Junte o resto de óleo em garrafas pet e entregue em locais de doação para reciclagem
- Nunca conecte a rede pluvial da casa ou prédio (que recebe água de chuva) à rede de esgoto cloacal. A ligação indevida provoca transbordamento nas vias públicas e até nas residências, com esgoto voltando para as casas ou provocando rompimentos. Isso também eleva muito o gasto com tratamento de esgoto na estação, pois em dias de chuva, aumenta o volume de esgoto por conta da água que entra irregularmente à rede cloacal
- Se o esgoto doméstico (dos banheiros, por exemplo) vai para a rede pluvial, em vez de ser conduzido para a estação de tratamento, ele é lançado diretamente em rios, lagos e mares, causando a poluição desses mananciais. Isso provoca também mau cheiro na rua.
Tratamento de esgoto eficaz passa pela educação ambiental, afirma especialista
É na destinação incorreta do esgoto que a Lei de Saneamento Básico entra em cena. A lei, atualizada em 2020, estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico, que inclui o esgoto sanitário e manejo de águas pluviais urbanas. De acordo com o engenheiro ambiental, Jalan Biondo Pagani, responsável por elaborar planos de saneamento básico para cidades na região noroeste do Estado, a obrigatoriedade de uma rede de esgoto é importante, principalmente, para a saúde pública. Segundo Pagari, o tratamento adequado evita a transmissão de doenças pela água, como a leptospirose. Mais do que isso, para ele, o serviço passa pela educação ambiental:
– A atual geração já vem muito mais educada e conscientizada, mas existe uma parte da população que não se preocupa tanto com a questão do saneamento. Tanto que muitas vezes pegam uma doença e não relacionam com as condições do entorno. Então, é um processo longo, que começa em casa. No meu trabalho, já tive contato com muitas pessoas que não se importavam sobre a destinação do esgoto.
Ainda de acordo com o especialista, o ganho com a destinação correta do esgoto também é econômico:
– A rede de esgoto em municípios que funcionam de forma eficaz, diminui muito os custos porque você trata o afluente (água) separado dos efluentes (resíduo líquido gerado por atividades humanas, como esgoto). Então, no momento que se trata somente o esgoto, diminui os custos da companhia de abastecimento porque o tratamento de um rio limpo, digamos assim, se torna mais barato do que um rio contaminado.
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