Adeus, Madiba

David Coimbra: Morre o herói da tolerância

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Nelson Rolihlahla Mandela foi o maior gênio político da história da humanidade. Ninguém o superou, nem os conquistadores bélicos Júlio César, Alexandre e Napoleão, nem os campeões da democracia Churchill e Lincoln. Ninguém. Porque Nelson Rolihlahla Mandela conseguiu algo que nenhum desses líderes mundiais conseguiu: sem dar um tiro, sem erguer a mão ou a voz, apenas com a inteligência e o poder de argumentação, Mandela pacificou uma nação inteira.

Foi uma façanha única, porque o regime racista da África do Sul era único. Jamais houve um lugar no planeta em que não existisse racismo, verdade, mas, no caso da África do Sul, o racismo era o núcleo do Estado. O nazismo e o fascismo eram dogmaticamente racistas, mas, sob esses regimes, ainda havia um pouco de hipocrisia pública, uma farsa legal. Na África do Sul, não. Nunca a segregação racial foi tão aberta, tão oficial, quanto na África do Sul. Uma segregação com nome próprio: apartheid.

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Mandela foi, ele próprio, vítima do apartheid. Quando jovem, Mandela fez por merecer seu nome do meio. Rolihlahla, em xhosa, significa "encrenqueiro". Mandela era um encrenqueiro a favor dos direitos dos negros. Um militante da luta armada. Por isso, foi preso em 1962. Passou 27 anos isolado em uma ilha, vivendo numa pequena cela do tamanho de um banheiro. Nesse tempo, conheceu seus carcereiros, aprendeu com eles e se transformou. Quando saiu da cadeia, Mandela não pregava mais a luta; pregava a paz. Pela paz, venceu.

Conheci Mandela nessa época. Em 1991, estava preparando uma reportagem sobre os 30 anos da Campanha da Legalidade e fui ao Rio para entrevistar o então governador do Estado, Leonel Brizola. Mandela também se encontrava no Rio, e também queria falar com Brizola. Um ano antes, fora libertado; três anos depois, seria eleito presidente. O encontro dele com Brizola estava marcado. O meu, não. Brizola não aceitava falar sobre a Legalidade, talvez para não irritar os militares, ele que ainda aspirava ser presidente do Brasil. Fiquei dois dias e duas noites de plantão na antessala do gabinete dele, insistindo com a entrevista, e nada. Nesse ínterim, os secretários de Estado do Rio se sensibilizaram com meu drama. Um deles contou que Brizola se reuniria no fim da tarde com Mandela, no Copacabana Palace. A entrada da imprensa seria proibida na primeira parte do encontro, mas o secretário se dispôs a furar o bloqueio e me colocar diante de Brizola. A partir daí, tudo comigo.

De fato, no fim da tarde, lá estava eu, no saguão do Copacabana Palace, em frente a Nelson Mandela e a Leonel Brizola. Olhei para Mandela, um homem muito alto, de aparência serena. Ele me olhava e sorria com candura, decerto surpreso com aquele jornalista que tanto"

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