caso Kiss

Confira os destaques dos depoimentos dos primeiros dias do júri da Kiss

Gustavo Martinez

Com o início do júri da Kiss na última quarta-feira, começaram os testemunhos e depoimentos do que deve ser o maior júri popular da história do Rio Grande do Sul. Nos dois primeiros dias, seis pessoas foram ouvidas, cinco vítimas e uma testemunha - esta última sendo o engenheiro responsável pelo projeto acústico da boate.

Confira abaixo os destaques das falas nos dois primeiros dias de julgamento:

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Foto: Reprodução (TJRS)

Kátia Giane Pacheco Siqueira é ex-funcionária da boate e trabalhava no bar na noite da tragédia. Ela foi a primeira a falar e seu depoimento durou cerca de quatro horas e meia.

  • - Era um labirinto. Eu mesma, que trabalhava lá, não consegui sair - ao ser questionada sobre a estrutura da boate. 
  • - Quanto mais pessoas tivessem dentro da boate, melhor. Tanto pela parte da casa, de querer ter mais movimento, quanto da parte dos adolescentes. Se estava lotada, era sinal de que a festa estava boa. - sobre a lotação dentro da casa noturna.
  • - Eu estava na cozinha e a luz caiu. Eu escutava gente gritando "fogo" e gente gritando que era briga. Na hora, eu não enxergava nada. Quando senti que era fogo, eu me desesperei. Eu estava com outra menina, a Janaiana, que acabou morrendo. Eu tentava sair pela porta da frente, e as pessoas ficavam empurrando no sentido contrário. - sobre o momento que o incêndio iniciou.
  • - Mas, toda vez que ia na consulta, me perguntavam sobre o acidente. Só que, em vez de melhorar, eu regredia. Coloquei na cabeça que não iria pensar no assunto, não assistia mais reportagens da boate. Quando me perguntavam das queimaduras (ela teve 40% do corpo queimado), eu falava que era só um acidente. O que me preocupou mesmo foi ter que testemunhar agora, relembrar tudo de novo. Eu estou aqui chorando e pensando na minha filha, que está na barriga, e que está sentindo toda a minha dor - sobre o tratamento psicológico e psiquiátrico que realizou.


style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Foto: Pedro Piegas (Diário)

Kelen Giovana Leite Ferreira é uma das sobreviventes da tragédia e a segunda testemunha ouvida no julgamento. A fala durou duas horas. As defesas dos réus não fizeram nenhuma pergunta para ela.

  • - Correr eu não consigo mais. A última vez que eu corri foi para tentar me salvar da morte - sobre limitações quanto ao movimento. Ela teve o pé direito amputado em decorrência das queimaduras.
  • - Para conseguir uma prótese para fazer caminhada, atividade física, eu entrei na Justiça, fiquei esperando três anos. E toda vez que eu preciso de um componente, custam R$ 3 mil, R$ 5 mil - sobre a prótese que usa para caminhar.
  • - Nessa viagem, acabou o oxigênio e revezaram entre um e outro (paciente). Podia ter morrido ali. A segunda vez - sobre a transferência hospitalar para Porto Alegre, após ser intubada.
  • - Dor não é fazer um vídeo e chorar. Dor é quando eu me olhei muito tempo no espelho e chorei por ter ficado assim - sobre o documentário feito pela defesa de Elissandro Spohr, sem citar o nome do réu, e as marcas de queimaduras que tem nos braços.
  • - Não aceito nenhuma solidariedade dos advogados. Não aceito. (Não fizeram perguntas) talvez porque eu fosse incriminar mais ainda os clientes deles - ao Diário, após o testemunho, sobre os advogados de defesa não realizarem questionamentos "em respeito à vítima".


style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Foto: Reprodução (TJRS)

Emanuel de Almeida Pastl virou engenheiro de segurança após o incêndio. Ele é a terceira vítima a ser ouvida e a primeira pessoa a falar no segundo dia de julgamento. Seu depoimento durou cerca de uma hora e meia.

  • - Quando deu o princípio de incêndio não soou nenhum alarme, não tinha claridade na rota de saída de emergência e também não tinha iluminação - sobre a estrutura da boate.
  • - Quando saí estava com os olhos queimados, então eu via fumaça em todos os lugares, até comentei isso no hospital com o meu colega de quarto - sobre a situação ao sair da boate.
  • - No hospital, deitei na última maca disponível, e lembro de chegar mais e mais pessoas, bastante machucadas. Também lembro, do hospital, que um dos funcionários estava em estado de choque - sobre a chegada ao hospital.
  • - A fiscalização é um conjunto de órgãos. Não sei a quem se aplicava essa legislação na época, mas alguém da prefeitura deveria ter esse controle em conjunto ou não com Corpo de Bombeiros. O CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) também tem dever de fiscalizar - sobre os responsáveis pela fiscalização.


style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Foto: Reprodução (TJRS)

Jéssica Montardo Rosado foi a quarta vítima ouvida, e o segundo depoimento desta quinta-feira. O seu irmão, Vinícius, morreu após salvar 14 pessoas do incêndio. Ela falou durante cinco horas.

  • - Estava quase colada no palco. Começou a tocar um funk, e foi daí que aconteceu tudo. Eu vi a hora que ele botou a luva (com o artefato pirotécnico). Eu vi tudo, vi acenderem o fogo. Primeiro o Luciano pegou a luva, colocou no braço do Marcelo, e depois ele (o Marcelo) ergueu - sobre o momento que o fogo de artifício foi aceso.
  • - Eu vi que o Marcelo colocou o microfone no chão e gritou. Ele olhou bem no meu olho e gritou: "sai!". Virei as costas, saí de onde estava e me direcionei para a porta. Tentei procurar o meu irmão, mas tinha muita gente. Alguém me empurrou e disse para eu sair. Eu só segui o fluxo. - sobre quando percebeu o incêndio.
  • - Não sei quem contou, nem o porquê, mas relatos de bombeiros e outras pessoas dizem que meu irmão salvou cerca de 14 pessoas, porque cada vez que ele ia (dentro da boate), voltava com dois. Ele voltou várias vezes e salvou várias pessoas- sobre o irmão.
  • - Para nós, o que existe é responsabilidade da prefeitura, não culpa - sobre a fiscalização dos órgãos públicos.


style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Foto: Reprodução (TJRS)

O terceiro depoimento da quinta-feira foi do engenheiro responsável pelo projeto acústico da boate, Miguel Ângelo Teixeira Pedroso. Por conta da idade, ele teve prioridade e pôde ser chamado antes das demais testemunhas e vítimas.

  • - Na primeira vez que fui fazer isso, o local mais crítico era onde tinha a parede de madeira. No quarto da pessoa que reclamava, o volume estava em 52 (decibéis). Eu disse que tinha que colocar alvenaria no fundo, e ele disse (Kiko) que queria colocar espuma. Eu disse que espuma não adiantaria. Só um leigo poderia achar que espuma seria conveniente dentro de uma boate - sobre materiais utilizados para o isolamento acústico.
  • - Eu acompanhei também a execução da obra quase diariamente. Depois de finalizada, no início de 2012, o Elissandro entregou uma cópia para a promotoria, que tinha firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Passado um mês, fiquei sabendo que o Ministério Público queria fazer uma visitação na obra para ver se foi feito tudo como previsto. Acompanhei a equipe do promotor, que foi lá, tirou fotografias, fiscalizou e estava tudo de acordo com o que estava previsto no projeto, sem nenhuma espuma - sobre as obras do projeto acústico que desenvolveu.
  • - Em nenhum momento, pelo que acredito em termos técnicos em relação ao isolamento acústico, já que não é eficiente - ao ser questionado se recomendou o uso de espuma acústica.


style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Foto: Reprodução (TJRS)

Lucas Cauduro Peranzoni, era o DJ que iria tocar na Kiss na noite do incêndio. Foi a quinta vítima a ser ouvida, e o último a falar na quinta-feira.

  • - Quando tocou a música, ele (Marcelo) colocou a luva. Eu percebi o que estava acontecendo quando tentaram apagar. Tentaram o extintor e não conseguiram. Meu colega veio pedir o extintor que estaria onde eu fico, mas não deu tempo - sobre o início do incêndio. Ele afirmou não se lembrar se havia de fato um extintor ali.
  • - Porque eu conhecia ela - quando perguntado se ele conseguiu sair do incêndio por sorte ou por ser familiarizado com a boate.
  • - "Perdi muitos colegas, perdi muitos amigos, perdi conhecidos de casa", sobre as outras vítimas.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

'Sempre correto, tranquilo e profissional', diz juiz aposentado que foi chefe do ex-vocalista da banda

Próximo

Saiba quem são os advogados que representam Mauro Hoffmann

Geral