com a palavra

Artesão que produz ferramentas em cobre conta como aprendeu a técnica passada de geração a geração

Thays Ceretta

Fotos: arquivo pessoal

Como bom descendente de italiano, ele gosta de mesa farta e cultiva os costumes da colonização. Antônio Dal Forno, 87 anos, mantém vivo os hábitos dos seus antepassados produzindo artefatos em cobre, atividade que aprendeu com seu avô e seu pai. Ele nasceu e mora até hoje na pequena cidade de Silveira Martins, município da Quarta Colônia que é um pedacinho da Itália. Casado com Iolanda Izaguirry Dal Forno, 83 anos, eles tiveram três filhos, Margareth Dal Forno Cervi, Stevan Yzaguirry e Marco Antônio Dal Forno, os dois já falecidos. A filha mais velha é quem cuida e dá assistência ao casal de idosos. Mesmo de longe, os netos mantem contato por meio de ligação telefônica e de visitas. A técnica de produção e as próprias ferramentas utilizada pelo artesão foram trazidas pelo seu bisavô, vindo da Itália em 1877, e passadas de geração em geração.

Diário - Quais suas lembranças de infância? 
Antônio Dal Forno - Eu não tinha muito tempo para brincar, só trabalhava. Comecei estudando, desde pequeno, lá pelos 6 anos. À tarde, eu ia na aula e, de manhã, trabalhava. Estudei até a 5ª série. Minha vida não foi muito fácil, trabalhei bastante, não tinha muito tempo para o lazer e para as brincadeiras de criança. Na foto ao lado, Dal Forno criança

Diário - Há anos o senhor trabalha com produtos feitos em cobre. Como aprendeu?
Antônio - Comecei a trabalhar com artefato de lata e cobre, desde pequeno. Eu sou a quarta e última geração de artista de cobre. Meu bisavô, meu avô e meu pai me ensinaram. Tinha bastante encomenda para todos os lugares da região da Quarta Colônia. Faço alambiques, tachos, bacias, tudo feito de cobre. É um material importante porque ele não tem fim, eu tenho peças aqui com mais de 100 anos. Na minha casa, tenho vários produtos decorativos e na da minha filha, em Faxinal do Soturno, também. Em 2012, sofri um acidente, um cabelo da escova de aço saltou e furou meu olho. Perdi a visão do olho esquerdo. Mesmo assim, ainda faço o que posso.  



Diário - O senhor e sua esposa estão casados há 63 anos. Como se conheceram?
Antônio - A gente se conheceu em 1952. Ela era interna do Colégio Bom Conselho, um dos maiores internatos do Rio Grande do Sul, tinha cerca de 100 meninas. Ela morava em Rosário do Sul e veio morar aqui com a família. Eu esperava ela sair do colégio para a gente poder conversar. Era proibido as gurias do colégio namorarem, mas eu era privilegiado, porque eu era muito amigo da madre Elenita, por causa dos serviços de funilaria que prestávamos para o colégio com solda de panelas, reforma de fogão, etc. Em 25 de novembro de 1953, a gente casou na Igreja Santo Antônio de Pádua, erguida há cerca de 100 anos, pelos imigrantes italianos, símbolo da nossa cidade.  

Diário - Depois do casamento vocês foram morar em Santa Maria. Quais eram as suas atividades?
Antônio - Fomos morar em Santa Maria logo depois que casamos. Eu fui trabalhar na revenda de carros da Uglione. Como eu trabalhava na funilaria com meu pai e avô tinha experiência, então, assumi como chefe da sessão de funilaria e pintura. Eu desamassava carros, pintava, fazia todo tipo de serviço na oficina. Nas horas vagas, raramente a gente ia ao cinema de noite, no Imperial, Independência e Cine Glória. Depois de seis anos, voltamos para Silveira Martins para trabalhar por conta. Construí um pavilhão e coloquei a oficina em casa para seguir trabalhando com funilaria e pintura e também com os produtos em cobre. Por causa da saúde, tive que parar de trabalhar na oficina, porque o ácido úrico me atacou e me agredia, tive que parar porque me intoxiquei com metal pesado, isso em 1960. 

Produtos em cobre fabricados por Dal Forno

Diário - O senhor sempre foi engajado com as atividades na cidade, inclusive recebeu convite para ser secretário municipal. O que lembra da sua gestão?
Antônio - Sim, fui Secretário de Obras na gestão do prefeito Carlos Alberto Brandão durante quatro anos. Nesse período, recebi o prêmio destaque de todos os municípios do Estado como quem tinha as melhores estradas da região em 1998. Tinha o compromisso com a iluminação pública, limpeza de ruas, construção de ruas, sinalização, prestava serviço para a Quarta Colônia, fizemos bueiros, pontes. Além disso, fui o fundador do CTG Liberdade e do Sporte Clube Liberdade. Hoje em dia, gosto de jogar baralho todos os domingos. Acompanho o futebol, mas era um péssimo jogador.  

Diário - A casa de vocês sempre esteve cheia de amigos e familiares. Hoje em dia não é diferente? 
Antônio - Não, sempre recebemos visitas. Aqui, eu construí balanço, roda gigante, trapézio para fazer ginástica, jardim, piscina, principalmente para meus netos, eles viviam aqui quando era crianças. Ainda temos tudo isso em casa. Estou muito feliz que vou ser bisavô, pela primeira vez, de uma menina. Agora, com menos saúde, temos uma vida mais calma e tranquila. Eu e minha companheira lembramos as histórias do passado. Nós gostávamos de dançar nos bailes. Meus netos moram longe, mas tenho contato permanente, eles sempre me visitam ou me ligam. 

Diário - De que o senhor tem saudade?
Antônio - Antigamente, não tinha tempo de fazer muita coisa a não ser trabalhar. Eu era entusiasmado com o futebol, gostava de incentivar os outros, mas era um péssimo jogador. Se eu fosse voltar a ser jovem eu faria tudo de novo, trabalharia com o cobre, fundaria o CTG e o time de futebol. Gosto de contar histórias e piadas, joguei bastante bocha. Tenho uma vida rodeada de amigos que regulam de idade comigo, são meus companheiros de baralho, todos lúcidos e que, ainda agora, me visitam. Tenho saudade dos meus filhos e dos meus netos. A maioria mora longe.

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