Região

Apoio de comunidade será essencial para manter o selo de geoparque da Unesco

Apoio de comunidade será essencial para manter o selo de geoparque da Unesco

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Na busca por desenvolver e celebrar as conexões existentes entre patrimônios geológico, naturais, culturais e imateriais pelo mundo, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) criou a Rede Global de Geoparques em 2004. Atualmente, 195 locais em 48 países do mundo são certificados e fazem parte desta iniciativa. Deste quantitativo, cinco são no Brasil.
Certificado em 2006, o geoparque Araripe (CE) foi primeiro reconhecido em solo brasileiro. 16 anos depois, vieram os geoparques Seridó (RN) e Caminhos dos Cânions do Sul (RS-SC), ambos com certificação em abril de 2022. Recentemente, o Rio Grande do Sul vibrou com o reconhecimento de outros dois geoparques no final de maio deste ano: Quarta Colônia e Caçapava do Sul.

Com um número maior de geoparques brasileiros criados e reconhecidos mundialmente, um novo passo foi dado: a criação da Rede Nacional de Geoparques Mundiais da Unesco. A iniciativa, que possibilitará o fortalecimento dos locais já existentes e a orientação de projetos aspirantes rumo ao reconhecimento, foi oficializada durante o segundo dia do 1º Encontro Brasileiro de Geoparques, que ocorreu na última segunda-feira na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O encontro, que deve se repetir em 2024 em Seridó, também propiciou a troca de experiências e conhecimentos entre as equipes dos cinco geoparques sobre a manutenção do título nos locais. A concessão dada pela Unesco tem validade de quatro anos e a reavaliação dependerá de uma nova visita da organização para examinar o funcionamento e outros critérios do território. Caso o geoparque não cumpra com as normas, ele terá dois anos para se readequar e permanecer com o certificado.

Na reportagem, saiba quais foram as estratégias adotadas pelos geoparques Araripe, Seridó e Caminhos dos Cânions do Sul para manter a certificação e de que formas os dois geoparques da região podem aprender com estas experiências.


Certificado

Localizado no sul do Ceará, o geoparque Araripe é formado por seis municípios com contribuições dos índios kariris em suas formações. Em setembro de 2006, ele se tornou o primeiro em solo brasileiro a ser chancelado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). De acordo com o advogado e coordenador do geoparque Araripe, José Patrício Pereira Melo, a conquista trouxe a missão de fomentar a criação de outros geoparques no país e na América Latina. Nestes quase 17 anos, Melo tem visto a relação da população, dos gestores públicos e empresários com o geoparque avançar, gerando um processo de inclusão de diversos perfis e realidades em prol de um bem maior.

 
– A principal estratégia foi a educação ambiental permanente, porque levamos isso para a comunidade e quando ela percebe o patrimônio que está no entorno, gera uma agenda natural de defesa deste patrimônio. Então, o projeto, a chancela e o selo Unesco ficam protegidos, porque a população entendeu e passou a ser aliada. Isso faz com que os gestores públicos e a iniciativa privada vejam ali um potencial de crescimento e desenvolvimento social sustentável, que no caso de Araripe, foi fundamental – reflete.


Território

Foi a partir de um inventário de patrimônio territorial em Rio Grande do Norte que surgiu a candidatura de um dos dois geoparques brasileiros reconhecidos pela Unesco no ano passado. Ao Diário, o professor e coordenador científico do geoparque Seridó, Marcos Antonio Leite do Nascimento, relata que a equipe trabalhou durante 10 anos para obter a certificação.

 
O reconhecimento veio em 13 de abril de 2022. Atualmente, a comissão busca promover o desenvolvimento territorial sustentável com base na conservação, educação e turismo nos últimos meses. Neste processo, o empoderamento da população é uma das estratégias encontradas pelo geoparque Seridó para preservar o selo concedido pela Unesco.


– Na medida em que a população se inteirou da realidade do geoparque e se beneficiou vendo esse desenvolvimento territorial, ela passou a trabalhar em uma perspectiva. É a população que faz com que os prefeitos, políticos e gestores sempre vejam o geoparque como uma forma de gestão territorial que vai favorecer o local – comenta Nascimento.



Geoparques da Quarta Colônia e Caçapava do Sul terão muito trabalho pela frente

Desde o anúncio da certificação, em 24 de maio deste ano, os geoparques da Quarta Colônia e Caçapava do Sul buscam ampliar o potencial do que foi apresentado aos avaliadores da Unesco no final de 2022. Os territórios selecionados neste ano para integrar a rede mundial receberão o certificado internacional no dia 10 de setembro, em Marrakesh, no Marrocos.


Para a geógrafa e diretora do geoparque Quarta Colônia, Jaciele Sell, há muito trabalho pela frente:

– Estamos há mais de 10 dias com a certificação, então, ainda é tudo muito recente. O que recebemos, inclusive, dos colegas de outros geoparques é a lembrança de que o trabalho parece que inicia agora. Estamos com uma expectativa muito alta de melhorar os nossos territórios, a qualidade de vida, a geração de renda, a conservação do nosso patrimônio, mas também cientes que o trabalho continua e precisa ser mantido.

As ações também contam com o apoio da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que liderou os projetos e ajudou a impulsionar os territórios.

Enquanto os nove municípios que compõem o geoparque (Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Sêca, São João do Polêsine e Silveira Martins) criam estratégias, Caçapava do Sul deve fortalecer os projetos voltados a educação. Em entrevista anterior ao Diário, a coordenadora geral do Geoparque Caçapava, Alizandra da Silva Danzmann, descreveu o trabalho desenvolvido com as crianças nas escolas como essencial para disseminar o conhecimento e preservar os aspectos que fazem de Caçapava do Sul um geoparque.

 
– Compreendo que o povo tem que ter pertencimento do território. Para que o turista seja bem-vindo, temos que ter o reconhecimento do que somos – disse a coordenadora.

Na região, um novo parque aspira pelo reconhecimento da Unesco. Composto pelos municípios de Jaguari, Mata, Nova Esperança do Sul, São Francisco de Assis, São Pedro do Sul e São Vicente do Sul, o Geoparque Raízes de Pedra já deu os primeiros passos para mobilizar a população. No final de março deste ano, ocorreu 1º Fórum de Empresários Parceiros do Geoparque em São Pedro do Sul. Durante o evento, um edital foi lançado para garantir o apoio e pensar nas próximas etapas.

Desde 2021, a comissão local desenvolve diversas atividades e trabalhos com foco na consolidação da iniciativa e futura avaliação da Unesco.

 
Em outubro do ano passado, São Pedro do Sul e Jaguari foram os primeiros municípios a receberem visitas técnicas da equipe do Geoparque. O processo seguiu no início de 2023 nos outras quatro cidades. Além das prefeituras, o aspirante geoparque Raízes de Pedra conta com o apoio do Instituto Federal Farroupilha (IFF), da UFSM e Universidade Federal do Pampa (Unipampa).


Rio Grande do Sul tem três geoparques na Rede Mundial da Unesco

Além dos geoparques Quarta Colônia e Caçapava, o Rio Grande do Sul conta com o geoparque Caminhos dos Cânions do Sul. Em 2019, a comissão encaminhou à Unesco um dossiê com mais de 50 pontos, distribuídos em sete municípios na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Após a visita dos avaliadores em 2021, o parque recebeu a certificação em 13 de abril de 2022, junto com o geoparque Seridó.

Segundo a geóloga e coordenadora científica do geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, Beth Rocha, o último ano tem sido de investimento em educação, resultando no entendimento e na valorização da conquista por parte de pessoas ligadas ao turismo, empreendedores e população em geral.

– Hoje temos uma busca grande no sentido de “vamos fazer parte” e isso é muito forte. Na educação, começamos todo o processo de convencimento e de mostrar para a população a importância desse programa da Unesco junto com a Educação Básica. Então, começamos pelos pequenos e desta forma, a população começou a entender e a gostar da ideia – explica.

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