Saiba como Santa Maria se prepara para um possível cenário de estiagem provocado pelo fenômeno La Niña

Saiba como Santa Maria se prepara para um possível cenário de estiagem provocado pelo fenômeno La Niña

Foto: Eduardo Ramos (Arquivo Diário)

Em Itaara, plantação de soja foi prejudicada pela seca em 2022

Após um ano de 2023 marcado por eventos de chuva acima da média, 2024 deverá ser de estiagem. O fenômeno El Niño, responsável pelas enchentes e inundações no último ano, dará espaço ao La Niña, lembrado por períodos de seca históricos no Rio Grande do Sul. 


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O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê o enfraquecimento do fenômeno climático El Niño nos próximos meses e, na sequência, um período de neutralidade entre abril e junho. Já no segundo semestre do ano, entre junho e agosto, há 55% de chance do La Niña se estabelecer. As projeções foram divulgadas em relatório mensal do Inmet, realizado em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastre (Cenad).


Os fenômenos   

Ambos os fenômenos atmosféricos são caracterizados, principalmente, pelas condições de temperatura no Oceano Pacífico em sua região equatorial. Enquanto o El Niño corresponde ao aquecimento da temperatura das águas acima da condição média histórica, o La Niña corresponde ao resfriamento também acima do normal. 


No Rio Grande do Sul, o fenômeno El Niño tem como marca o aumento da temperatura e precipitações, podendo causar problemas como enchentes e inundações. Em 2023, a chuva acima da média gerou prejuízos em Santa Maria e em cidades da região com constantes registros de alagamentos e deslizamentos. Em oposição, o La Niña traz para o Estado a estiagem, já que diminui a frequência e o volume de chuva. Em 2022 e nos dois anos anteriores, o fenômeno influenciou no clima e fez com que municípios da Região Central enfrentassem os impactos da seca, como o desabastecimento de água em propriedades rurais e perdas na agricultura. 


De acordo com o meteorologista da BaroClima, Gustavo Verardo, os efeitos mais intensos do La Niña serão percebidos a partir da primavera deste ano. 


– O que podemos dizer, hoje, é que existe uma alta probabilidade de um segundo semestre seco no Rio Grande do Sul e verão de 2025 com chuvas irregulares. Entre as principais características do fenômeno estão a umidade baixa, solo seco e ondas de calor intensas. A tendência é de forte calor no próximo verão – afirma.



Produtores rurais em alerta   

Com previsão de volume de chuva abaixo da média, estima-se que a condição climática possa trazer complicações para os produtores rurais. De acordo com o engenheiro agrônomo e gerente regional da Emater, Guilherme Passamani, o último ano já foi marcado por desafios para o campo em função do excesso de chuva registrado. Os altos acumulados prejudicaram a plantação das principais culturas, como arroz, soja e milho, dos municípios da região.


– Além disso, nos meses de janeiro e fevereiro, tivemos chuvas não tão bem espaçadas, o que acabou acarretando em alguns prejuízos nas lavouras, principalmente de soja, pelo fato de que as chuvas não coincidiam com período da floração e enchimento de grãos. Então, estimamos haver perdas na região, não tão significativas quanto nos últimos anos, em que houve quase uma falta total de chuva nesses meses, mas, ainda assim, agricultores terão dificuldades – afirma.



Uma das estratégias para enfrentar o problema é garantir a plantação das lavouras em períodos adequados, para que a chuva coincida com as etapas do desenvolvimento das culturas. Além disso, o agrônomo destaca a importância de os produtores rurais investirem em sistemas de irrigação e armazenamento de água. 


– Isso tem trazido bons resultados aqui na região. Temos conseguido ampliar o acesso à água de qualidade e, por consequência, melhorar bastante a produção. Claro que ainda estamos distantes de um mundo ideal em que toda lavoura seja irrigada, é um desafio muito grande. Mas temos observado em produtores com lavouras de hortaliças e fruticultura, por exemplo, um avanço bem importante nessa questão, com bons resultados – destaca. 


O investimento em irrigação foi o que contribuiu para que a estiagem não provocasse ainda mais danos na propriedade de Maurício Simon, 29 anos, em Agudo. O produtor irrigou 50% do plantio de milho – a outra metade acabou sendo perdida por conta da chuva irregular nos primeiros meses de 2024.


– No ano passado, na última estiagem forte, nós adquirimos um carretel de irrigação que facilitou muito. Acredito que se não fosse o sistema, neste ano, não teríamos colhido nada. Então, esse foi o maior investimento que fizemos na propriedade, porque se não fosse a irrigação não estaríamos produzindo  – relata.


Cerca de 70% da produção de Simon é vendida, e o restante utilizado para o consumo da própria propriedade, principalmente para silagem, usada para preservar o pasto para o gado.

Na propriedade de Maurício Simon, em Agudo, 50% do plantio de milho foi irrigado e a outra metade ficou com a qualidade inferior


Alta no preço dos alimentos

Outro impacto da estiagem também poderá ser percebido no alimento que chega à mesa do consumidor. Passamani lembra que, nos últimos anos em que a região enfrentou períodos de estiagem, as hortaliças sofreram aumento nos preços e baixa na qualidade. Os motivos foram a indisponibilidade do produto no mercado local e a necessidade de que ele viesse de outras regiões do Estado e até do país. Nesse cenário, o valor da logística se soma ao dos alimentos e tende a pesar no bolso do consumidor.



Ações previstas pelo município

Os períodos de seca já vivenciados por produtores rurais de Santa Maria em outros momentos da história deixaram lições sobre a necessidade de desenvolver estratégias a longo prazo que possam minimizar os impactos na produção. 

Em abril de 2023, a barragem do DNOS evidenciava os impactos da estiagemFoto: Nathália Schneider (Arquivo Diário)


Em 2022, Santa Maria criou o Programa Irriga-SM para auxiliar os agricultores familiares a enfrentar a estiagem severa que assolou o município naquele período. A iniciativa prevê a construção ou reforma de microaçudes para captação e armazenamento de água em propriedades rurais destinadas à produção agropecuária e piscicultura. Neste ano, o município já dispõe de recursos para construir mais 100 estruturas com investimentos de R$ 1,6 milhão. Agricultores que se enquadram nos critérios que constam no edital já podem se inscrever no programa. 


– A questão da seca que vem ao longo dos anos, seja em períodos maiores ou menores, é algo que acontece no Rio Grande do Sul e a gente sabe disso. Então, a prefeitura já definiu políticas públicas para amenizar essa situação. E a principal forma de é através da reserva de água, por isso, a gente vem investindo anualmente na construção de reservatórios para as propriedades da agricultura familiar assistidas pelo município – afirma o secretário de Desenvolvimento Rural, Rodrigo Menna Barreto.


Conforme a prefeitura, outras ações como a construção de bebedouros para animais e distribuição de caixas d’água também serão realizadas. 


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