Em 2023, Santa Maria registrou chuva acima da média anual de 1.777 mm em todas as estações meteorológicas da cidade. Na estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em Camobi, foram registrados 318,6 mm acima da média; na do do Bairro Perpétuo Socorro, 987,7 mm; e a estação meteorológica do Tecnoparque registrou 878,3 mm de chuva acima da média anual (confira detalhes nos gráficos abaixo).
Os números foram impulsionados pelos mais de 600 mm de chuva registrados pelas estações do Perpétuo Socorro e do Tecnoparque no mês de setembro. É um dos maiores acumulados mensais de precipitação da história de Santa Maria, bem como o setembro mais chuvoso.
Chama a atenção a diferença do acumulado de chuva entre diferentes regiões da cidade. Com 2.764,7 mm ao longo de 2023, a estação do Bairro Perpétuo Socorro, na região Norte de Santa Maria, registrou 700 mm a mais que no Bairro Camobi, na região Leste, por exemplo. A distância entre as estações é de cerca de 15 km.
Conforme o meteorologista Gustavo Verardo, da BaroClima, essa é uma diferença muito expressiva e mostra que a chuva não é uniforme em Santa Maria. Ele aponta que o relevo é um fator importante que ajuda a explicar esses números, sobretudo nas chamadas “chuvas de verão”, nos meses de setembro, outubro e novembro, quando o calor e a umidade estão em alta:
– Quando temos um relevo muito acidentado, como por exemplo na região Norte de Santa Maria, os morros influenciam na quantidade e na intensidade da chuva. Eles funcionam como uma espécie de barreira, impedindo que a chuva caia com mais volume em outras áreas e se intensifique ali. Foi o que aconteceu no Perpétuo Socorro em todos os meses de 2023. Em Camobi, por exemplo, é o contrário, porque é uma região aberta e não há interferência do relevo.
Estragos
A chuva acima da média em 2023 gerou prejuízos em Santa Maria e região. Em setembro, ruas da cidade ficaram alagadas e cerca de 30 famílias precisaram deixar suas casas no distrito de Passo do Verde, devido à cheia do Rio Vacacaí.
No mesmo mês, um forte temporal com granizo deixou cerca de 500 casas alagadas e destelhadas em Faxinal do Soturno. As fortes chuvas também causaram deslizamentos de terra na BR-158, entre Santa Maria e Itaara, em outubro, e causaram a interdição da via em várias ocasiões.
Relembre:
- Chuva, frio e mais de 500 casas destelhadas: o cenário de Faxinal do Soturno após a queda de granizo durante a madrugada
- BR-158, entre Santa Maria e Itaara, tem novos deslizamentos de terra durante a madrugada; trecho da rodovia continua bloqueado
- VÍDEO: cidade da região registra alagamentos em ruas por conta da grande quantidade de chuva
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Estiagem no segundo semestre de 2024
Segundo Gustavo Verardo, 2024 vai ser um ano atípico em termos de clima, pois ele começa ainda sob influência do fenômeno El Niño e termina com a La Niña, ao contrário de 2023. Ele explica ainda que a tendência para o inverno é de uma neutralidade climática, ou seja, sem a influência dos dois fenômenos a partir de junho.
O meteorologista afirma que, devido à influência da La Niña, pode se esperar um cenário de estiagem no Rio Grande do Sul a partir da primavera de 2024. O fenômeno, que consiste no resfriamento das águas do Oceano Pacifico, é responsável pelas históricas secas na região Sul do Brasil.
– O inverno será bastante típico, sem temperaturas acima da média, e o verão mais seco. Mas quanta às chuvas, o cenário se inverte. Não teremos condições de enchentes, como vimos no ano passado, provocadas pelas chuvas do El Niño. É preciso economizar água, pois será uma seca muito grande que pode impactar na agricultura e no abastecimento.