entrevista

'Não iremos deixar nenhum setor sozinho', garante chefe da Casa Civil da prefeitura

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: reprodução
Guilherme Cortez concedeu entrevista à repórter Jaiana Garcia, no programa Direto da Redação

Em entrevista ao Diário, o chefe da Casa Civil da prefeitura de Santa Maria, Guilherme Cortez, falou sobre as articulações do Executivo em relação às decisões necessárias durante a pandemia do novo coronavírus. Além disso, no programa Direto da Redação, nesta quinta-feira, ele projetou a expansão da estrutura de saúde e, também, como a cidade irá se reorganizar a curto, médio e longo prazo na retomada das atividades após paralisações.

Diário - Como a prefeitura tem se organizado para tomar as decisões relativas ao combate à propagação do novo coronavírus?

Guilherme Cortez - Desde o primeiro momento, a prefeitura de Santa Maria criou um comitê interno, formado pelas secretarias de Educação, Gestão e Desenvolvimento Econômico. Em primeiro lugar, consideramos a preservação da vida. No último sábado, criamos um conselho estratégico de acompanhamento e gerenciamento dessa crise, formado pela prefeitura, instituições de saúde, toda a rede de hospitais, UFN, UFSM, Ministério Público Federal e Estadual, Poder Judiciário Federal e Estadual, Ministério Público do Trabalho, Defesa Civil. Esse conselho auxilia na tomada de todas as decisões. Dentro desse conselho, temos cinco médicos, especialistas locais, Jane Costa, Thiego Cavalheiro, Claudio Azevedo, Fábio Lopes Pedro e Alexandre Schwarzbold. É momento de ouvi-los. Eles estudaram uma vida toda para nos orientar. Não significa estarmos alheios à saúde. Porém, pessoas com saúde reflete na economia. As decisões precisam ser compreendidas pela população, especialmente o isolamento social. Analisando experiências bem sucedidas de combate ao coronavírus, está comprovado que ficar em casa é uma excelente decisão.

Diário - Mesmo após o pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, a prefeitura pretende manter as restrições?

Cortez - Sim. Seguimos orientações técnicas. É a postura dos 27 governadores. A declaração do presidente, na nossa visão, foi irresponsável. Vamos continuar dialogando com os nossos médicos. O Ministério da Saúde tem trabalhado nesse sentido. Não nos omitiremos. Iremos compatibilizar saúde e economia. A falta de saúde prejudica ainda mais a economia. A crise é para todo mundo. O poder público também vai pagar esse preço. Não vamos ter arrecadação o suficiente. Somente com diálogo, conseguiremos vencer tudo isso. Em 27 de fevereiro, autoridades da Itália declararam que não eram a favor do isolamento. Temos acompanhado o resultado disso. Não podemos permitir que nos tornemos uma Itália. Quanto mais rápido nos recolhermos, mais cedo poderemos voltar a nos abraçar.

Diário - O poder público já pensa em medidas a médio e longo prazo?

Cortez - Sim. Estamos analisando algumas situações junto a lideranças empresariais. Estamos discutindo a questão dos idosos, que são os mais vulneráveis. Teremos uma necessidade de leitos clínicos. Temos um quantitativo para vacinar apenas 50% do público alvo, idosos e profissionais da saúde. Pedimos que a população se informe por locais seguros, como o site da prefeitura e do Diário. Estamos estudando mais medidas em relação aos idosos, que precisam ficar em casa. Estamos abertos a sugestões. O clima está ajudando. Se nós tivermos queda na temperatura, teremos problemas. Ainda temos muitas pessoas na rua. O momento é de orientação. A intensão não é fazer repressão, mas orientar.

Diário - A prefeitura constata um aumento no número de carros e pessoas circulando nas ruas?

Cortez - Já conversamos até mesmo com o Exército, analisando medidas nesse sentido. Pensamos nos idosos que moram sozinhos. Como eles irão ao mercado? Em uma medida ainda mais restritiva, como poderemos suprir a necessidade deles? É legal salientarmos a solidariedade relativa a pessoas em situação de rua, que estão sendo recebidas no Centro Desportivo Municipal (CDM), com alimentação, roupas doadas, kits de higiene. Santa Maria está dando um exemplo bonito. Também estamos atendendo comunidades indígenas e quilombolas. Somos todos iguais. A pandemia pega pobre, rico, todas as preferências políticas e ideológicas.

Diário - Como está a preparação para que o Hospital Regional possa ser utilizado durante a pandemia? 

Cortez - O Hospital Regional vai ser aberto. É um compromisso assumido pelo governo do Estado. Na semana passada, foi assinado um repasse de R$ 7 milhões ao Instituto de Cardiologia, que já servirá para adequações. O prefeito Pozzobom tem pressionado o Governo do Estado. O Hospital Regional tem indicação para receber leitos de UTI ainda para abril. As autoridades estão unidas. Nós poderemos avançar nos próximos dias quanto a isso. Esperamos esse aumento de leitos clínicos, de retaguarda, de suporte, aumento de leitos de UTI.

Diário - O Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) será referência em leitos de UTI durante a pandemia. A instituição tem 10 leitos desse tipo montados, mas faltam equipamentos. A prefeitura tem informação quanto a chegada desses materiais? 

Cortez - Esses equipamentos, de todos os fornecedores,foram confiscados pelo Ministérios da Saúde. A prefeitura estava comprando respiradores, e a empresa nos informou que não poderá entregar. O governo do Estado está resolvendo esta situação. Temos poucos leitos no Brasil inteiro. Por isso, pedimos à população para ficar em casa, porque é o tempo de montar a rede básica e prepará-la para receber os enfermos. Nós estamos buscando mais leitos de UTI, considerando que os materiais devem chegar, principalmente os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

Diário - Os 10 leitos no Husm são para casos graves. Como os outros quadros serão atendidos?

Cortez - Quem tem os sintomas deve procurar, primeiro, atendimento por telefone, e evitar ir à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Não vai no hospital. Temos várias iniciativas. Se, porventura, isso não foi possível, procure a unidade básica de saúde.

Diário - E quanto às igrejas, a proibição continuará?

Cortez - A doutora Jane Costa foi muito categórica em uma matéria do Diário. A hora é de ouvir os especialistas. A prefeitura, em consonância com o decreto estadual, não proibiu as igrejas de ficarem abertas, mas proibiu cultos, missas, encontros, as aglomerações. O decreto federal trouxe, infelizmente, algumas decisões que não são aceitáveis. Todas as lideranças podem fazer missas ou cultos pela internet. Estimulem isso também. Precisamos ter essa responsabilidade. Vamos estreitar o contato pelo WhatsApp, pelo telefone.

Diário - O Estado anunciou R$ 32 milhões do Ministério da Saúde para reforço. Já é possível saber a quantia que virá para Santa Maria?

Cortez - Não temos a previsão exata dos recursos. Para o repasse, são analisados três critérios, a quantidade de habitantes da cidade, a população idosa e se tem ou não Unidade de Pronto-Atendimento. Santa Maria se encaixa nos três critérios e irá receber um valor considerável. O município já fez um chamamento de profissionais, que haviam feito concurso, médicos e enfermeiros, para reforçar a rede. Estamos, também, prestes a fazer uma contratação emergencial, para reforçar. Fizemos compra de álcool em gel. 

Diário - As consultas eletivas permanecem suspensas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS)?

Cortez - Sim. Essa é uma medida necessária justamente para evitar a circulação.

Diário - O impacto econômico nesse período preocupa. Quais as medidas da prefeitura com relação a isso? 

Cortez - A prefeitura não vai se omitir, mas também queremos medidas efetivas dos governos federal e estadual. Estamos avaliando a nossa parte. Nossos impostos, o ISS e o ICMS, receitas consideráveis do município, já estão sofrendo com a diminuição. Ainda não temos os números desse levantamento, já que o comércio e demais atividades pararam a menos de uma semana. Mesmo assim, temos conversado com as lideranças empresariais e, juntos, buscamos medidas que possam dar suporte à economia, às pessoas e aos empregos. Se tivermos uma economia fragilizada, teremos muitos desempregados. Não estamos dizendo que vamos proteger os empresários. Estudamos medidas relativas ao ISS e a outras iniciativas que possam equilibrar essa balança.

Diário - O quadro já preocupa. A tendência é piorar?

Cortez - Tanto a prefeitura quanto os demais órgãos públicos vão ter uma enorme perda. Os serviços públicos precisam continuar. Vamos, por exemplo, continuar recolhendo o lixo. O município investe R$ 18 milhões por ano nessa demanda. Além disso, com as pessoas em casa, mais lixo é produzido, tanto é que as coletas aumentaram, sem falar na limpeza nas ruas. 

Diário - Haverá, ainda, medidas de contingência interna pelo município?

Cortez - Sim. Já estão sendo tomadas. Horas extras para serviços não essenciais foram reduzidas. Nenhum servidor municipal está fazendo. A diminuição das despesas da máquina pública faz frente às necessidades essenciais e básicas que precisam estar fortes quando passar a pandemia. Isso também vai nos permitir ter folga para atender o sistema produtivo local.

Diário - Já se tem uma projeção do prejuízo no que se refere à arrecadação municipal?

Cortez - Ainda não podemos precisar. No entanto, sabemos que, com a paralisação do comércio, o ISS e o ICMS param. Temos aí apenas dois dias de paralisação, inclusive da construção civil, setor importante de Santa Maria. Todas as decisões foram tomadas com as lideranças, sindicatos, empresários, funcionários? Nós também estamos preocupados. Todas essas medidas foram tomadas porque precisamos nos proteger e cuidar das pessoas que atuam em serviços essenciais. Precisamos agradecer e mandar forças aos profissionais de saúde que estão na linha de frente. Imprensa, mercados, motoristas, cobradores, policiais, guarda municipal, fiscais da prefeitura...Temos que amar e proteger essas pessoas e só conseguiremos isso se ficarmos em casa.

Diário - A prefeitura corre o risco de não ter dinheiro para pagar os salários do funcionalismo público?

Cortez - A determinação do prefeito é manter em dia os salários dos servidores. Essa é a nossa prioridade absoluta, em conjunto com as ações de saúde, evidentemente. Atraso ou parcelamento no salário nos levaria a outros prejuízos.

Diário - Por quanto tempo a prefeitura vai conseguir manter a saúde financeira em dia com os serviços parados?

Cortez - Não tem como precisar. A gente não sabe como vai se comportar a arrecadação. O tempo de retomada vai nos dar o panorama de o quanto vamos conseguir suportar. Precisamos de medidas do ponto de vista federal e municipal. Vamos fazer a nossa parte. Vai depender, também, do isolamento social. Estamos sendo o mais transparente possível para que as pessoas entendam que esse processo é construído em conjunto com os ministérios públicos federal, estadual e do trabalho, município, universidades, câmara de vereadores, toda a rede de hospitais, a 4ª Coordenadoria Estadual de Saúde e demais instituições. A responsabilidade é de todos. Se as pessoas ficarem em casa, talvez possamos achatar essa curva e retomar nossa economia e empregos de forma segura.

Diário - E quanto às aulas no município? O semestre pode ser suspenso? Há como os estudantes da rede municipal estudarem on-line?

Cortez - Trabalhamos com a possibilidade de retomar as aulas, mas em prazo seguro. Como muitos alunos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, não temos a perspectiva de aulas on-line. Além disso, muitas pessoas ainda não têm acesso a computador e à internet.

Diário - Existe uma estimativa de redução de 90% de fluxo de passageiro nos transporte público de Santa Maria. A prefeitura estuda subsidiar as empresas com relação a esse prejuízo das empresas?

Cortez - O transporte coletivo é uma concessão do município. Estamos trabalhando em um processo de licitação. Sabemos que essas empresas estão em um momento difícil, devido a essa drástica redução, mas a prefeitura não tem saúde financeira para subsidiar esse setor, visto que temos os compromissos com os setores de limpeza, transporte escolar, entre outros. Destaco que a primeira questão agora é a rede hospitalar. Reforço que as empresas estão sendo solícitas, mantendo as operações mesmo com esses prejuízos e com as exigências que aumentaram, como não transportar idosos e reforçar a higienização.

Diário - Com o fechamento de bares, boates e shows na cidade, a cultura sofreu um grande impacto. O que a prefeitura planeja em relação a esse setor?

Cortez - Analisamos a prorrogação de prazos de vários projetos culturais e estudando alternativas para essa área, visto que muita gente vive disso. Vamos precisar da nossa cultura para que Santa Maria tenha conforto e alegria na retomada da rotina depois desse momento. O município não pode bancar tudo, mas não iremos deixar nenhum setor sozinho.

Diário - Como funciona são definidos os casos suspeitos de coronavírus? Quem são as pessoas que entram para essa lista?

Cortez - São todos aqueles que têm o conjunto de sintomas relacionados ao coronavírus, não apenas sintomas de gripe, por exemplo. O único laboratório credenciado pelo Ministério da Saúde para fazer a validação oficial é o Lacem, que fica em Porto Alegre. Por isso é que demoram as confirmações. Isso também nos impõe ao isolamento. A gente não sabe onde está seguro. Os médicos afirmam que há mais pessoas infectadas, no entanto, como em todo o Brasil, Santa Maria precisa lidar com a espera pela confirmação.

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