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Foto: Pedro Piegas (Diário)
No terceiro depoimento desta terça-feira, o ex-chefe dos bombeiros de Santa Maria narrou como foi o trabalho de salvamento na boate Kiss na madrugada do incêndio. Gerson da Rosa Pereira era chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros. Além disso, o bombeiro desabafou sobre as acusações de fraude processual que precisou responder.
Ele foi condenado (em primeira instância) a seis meses de detenção revertidos em serviços comunitários em 2015. Em dezembro de 2018, prescreveu a condenação por fraude processual. Hoje, não é mais considerado condenado, nem tem de cumprir qualquer tipo de pena. Reservado, até por recomendação militar, Gerson pouco falou sobre a Kiss e os processos nos últimos oito anos. Dessa vez, aproveitou o depoimento para dar a sua versão.
- Foi ridículo dizer que eu fiz aquilo. Dizem que eu forjei documentos e causei o incêndio na Kiss. Quando coloco meu nome no Google, tenho vergonha de mim mesmo. Quem não me conhece deve pensar que sou o pior marginal. Teve bombeiro narrando que o coleguinha perguntava para o filho se o pai dele era bandido - defende-se.
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A respeito do alvará de funcionamento da Kiss, Gelson confirmou que estava vencido. Mas, segundo ele, conforme a legislação da época, a casa noturna poderia continuar aberta.
- O alvará estava vencido desde agosto de 2012. Na época, isso não impedia nada, podia continua operando. Mas, o proprietário tinha que dar entrada pedindo a renovação - informou.
O juiz Orlando Faccini Neto perguntou, ainda, se artefatos pirotécnicos eram permitidos em locais como casas noturnas e de quem seria a função de fiscalizar as espumas colocas na boate.
- Revestimentos de qualquer natureza não era atribuição dos bombeiros. Bombeiros se preocupam com saída de emergência, iluminação. Hoje, com a nova legislação, passou a ser também nossa atribuição - analisa.
A NOITE DA TRAGÉDIA
Gerson conta que estava em casa quando, pouco depois de 2h, foi acionado para trabalhar junto à equipe de salvamento. Como chefe do Estado Maior, era um espécie de sub-comandante geral. O comandante não estava em Santa Maria e, por isso, Gerson precisou assumir a coordenação.
- Quando me ligaram, falaram em 30 óbitos na boate. Já fiquei muito preocupado. Eu fui para o comando para ter uma ideia do que estava acontecendo e, depois, para o local da tragédia. Eu imaginava uma situação difícil, mas não da forma como presenciei. A impressão que dava era de um descontrole, descoordenação e falta de liderança, o que é natural, dada a circunstância - descreve o bombeiro, relatando que havia diversas equipes de órgãos policiais e de salvamento no local, mas não trabalhavam de forma organizada.
Por mais de uma vez, o ex-chefe do Estado Maior se emocionou e precisou pausar o depoimento. Em um dos momentos, lembro das filhas:
- Minhas filhas iriam nesta festa, mas não foram.
Em outro trecho, o juiz pediu para Gerson descrever o que encontrou dentro da boate, especialmente na área dos banheiros, onde foram encontrados vários corpos.
- Eu não tenho condições de descrever. Mesmo trabalhando na área da segurança, essa cena é muito pesada até para mim - destacou.
TREINAMENTO
O magistrado também questionou Gerson sobre os treinamentos de bombeiros e outros órgãos para atuarem em situações extremas.
- Tenho a impressão que foi o maior incidente do Rio Grande do Sul, do Brasil, do mundo, totalmente diferente daquilo que a gente estudou e se desenvolveu tecnicamente.
AS MORTES
A queima das espumas e gases tóxicos dentro da boate dificultaram o trabalho dos bombeiros, conforme Gerson:
- As pessoas não morreram carbonizadas pelo fogo. A morte foi por asfixia, muito instantânea, rápida e letal.