‘O abraço da minha mãe curava’, conta filha de Ana Souto’, vítima de feminicídio em São Gabriel

Mirella Joels

‘O abraço da minha mãe curava’, conta filha de Ana Souto’, vítima de feminicídio em São Gabriel

Fotos: Reprodução

Ana Souto Esteves, 33 anos, teve a morte confirmada na noite da última quinta-feira (6). Ela estava internada no CTI da Santa Casa após ter sido atingida por um disparo de arma de fogo no domingo (2), em frente a uma casa noturna localizada na Rua Carlos Pereira, em São Gabriel.

“Ela tinha uma missão, morreu com a idade de Cristo e foi sepultada em uma Sexta-feira Santa”, diz Cecília, mãe de Ana Souto

Ao lado da mãe Cecília. Fotos: Arquivo pessoal

Ao lado da mãe, com os irmãos Antônio e Carolina

Quem pensa em Ana, se recorda da bondade. Filha mais velha de três irmãos, Antônio e Carolina, ela sempre se importou com o próximo e costumava se doar para cultivar as relações com a família e amigos. 

Mãe de Marya Elizabeth, 15 anos, José Augusto, 12, Isadora, 5, e Leandro Miguel, 4, se doava para ver os filhos bem e felizes. Inclusive, trabalhava como faxineira, mas não em tempo integral, para poder passar mais tempo com os pequenos. Um dos planos que Ana tinha para o futuro era conseguir terminar a casa que tinha começado a construir e que pretendia deixar para os filhos.De acordo com a mãe de Ana, Cecília, a filha mais velha cultivava a proximidade e tinha um cuidado especial com ela:— Todo dia me chamava no WhatsApp e dizia “bom dia, mãe, como é que a senhora passou?”. Já perguntava do chimarrão e avisava que ia tomar junto. Chegava aqui de manhã, depois de deixar as crianças na escola, de tardezinha… Era minha companheira. Mesmo aos 33 anos, nunca saiu da minha volta — relata. 

Cecília ainda herdou uma missão que Ana pediu enquanto estava internada na Santa Casa: ela ficou encarregada de cuidar dos quatro netos. 

— Não sei como vai ser minha vida daqui para frente. A única coisa que me mantém de pé são os anjinhos que ela me deixou, os quatro filhos dela. Ainda ontem de noite meus netos me pediram para ver a estrelinha que a mãe deles se transformou. Eu me levantei da cama e fui com eles para mostrar a estrelinha no céu — conta, emocionada

Cecília percebe que o jeito de ser trouxe aprendizados para quem convivia com ela: 

— Ela tinha uma missão, morreu com a idade de Cristo e foi sepultada em uma Sexta-feira Santa. Ela sempre achava que, por pior que fosse o problema, que Deus ia resolver. Era uma coisa de cada vez, um dia após o outro e sempre mantendo a esperança — comenta. 

“O abraço da minha mãe curava”, relata a filha Marya

Com a filha Marya Isadora

Com os filhos Isadora e Leandro Miguel

Guerreira e super-heroína são alguns dos adjetivos que Marya Elizabeth, 15 anos, usa para descrever a mãe. Marya percebe que, além de Ana ser uma figura muito querida no bairro em que elas moravam, ela acolhia as pessoas com uma escuta atenta e ajudando quem precisava. Para a filha mais velha de Ana, uma das lembranças mais recentes da mãe é o abraço:— Quando eu perdi um amigo, a primeira coisa que minha mãe fez foi me abraçar. Ela não falou nada e me abraçou por quase meia hora e a dor foi diminuindo. O abraço da minha mãe curava — relata.

Além de ter uma boa relação com os filhos mais velhos Marya Elizabeth e José Augusto, Ana também era uma mãe carinhosa para os filhos mais novos Isadora e Leandro Miguel. Quando a mãe chegava em casa, os pequenos corriam para abraçar ela no portão. Tanto a filha Marya, quanto a mãe de Ana, Cecília, querem fazer o possível para manter a lembrança viva:

– A gente vai sempre mostrar uma fotinho deles juntos, algo para que eles não se esqueçam da mulher forte que ela foi. Sempre que pudermos, vamos falar o quanto a mãe era incrível – fala Marya.

“Era a irmã que não tive”, relata amiga

Ana gostava de tomar chimarrão e amava comer massa e preparar cueca virada, hábitos que se intensificavam quando estava entre família e amigos. Uma das pessoas com quem dividiu momentos, histórias e também refeições especiais com Ana, além de cultivar uma amizade por cerca de 14 anos, foi Rafaela Silveira. 

— Ela era a irmã que não tive. O pouco que ela tinha, ela usava para ajudar todo mundo. Nunca demonstrava tristeza e sempre tentava ajudar os outros, mesmo quando estava em momentos difíceis — comenta, com emoção.Ela se recorda do bom humor da amiga-irmã, que, além de desejar bom dia no WhatsApp diariamente, também compartilhava histórias do cotidiano com entusiasmo, como da vez em que ganhou uma galinha e comentava sobre a rotina com o bichinho.

— Nossa última conversa não aconteceu. Eu mandei “bom dia” porque todo dia ela me mandava também e naquele dia eu não recebi de volta. Fiquei apreensiva e infelizmente aconteceu essa fatalidade — relata. 

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