Cerca de 200 pessoas, entre servidores, representantes sindicais e estudantes, reuniram-se em audiência pública no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na manhã desta quinta-feira. O motivo do evento era alertar e apresentar à comunidade o plano orçamentário da universidade, frente ao bloqueio de R$9 milhões impostos pelo governo federal ainda no mês de maio. Durante cerca de 30 minutos, o reitor, Luciano Schuch, apresentou números dos últimos anos e os impactos e cortes que precisaram ser feitos para seguir com o funcionamento da instituição até agora.
Inicialmente, o valor do corte era de R$ 19 milhões, representando um terço do recurso anual da UFSM, que havia sido aprovado no início do ano pelo Conselho Universitário, no valor total de R$ 59 milhões, para pagamento de contratos terceirizados, contas de água, luz e telefone. Porém, após reuniões com reitores de todas as universidades do país, metade do valor conseguiu ser liberado, e o congelamento atual é de R$ 9 milhões, que precisarão ser readaptados para os próximos seis meses do ano.
— Se seguir essa redução de servidores, técnicos administrativos em educação, funcionários terceirizados, recursos para projetos, a nossa universidade e as universidades do nosso país vão virar uma grande escola, um grande colegião. Não vai mais se fazer ensino, pesquisa e extensão. É isso que acontece a cada ano, a precarização dos nossos serviços — desabafa Schuch.
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Durante a explanação, o reitor deixou clara a possibilidade de os cortes afetarem os investimentos do ensino da universidade. Uma realidade que já é enfrentada nos âmbitos de pesquisa e extensão, dado que faltam recursos para participação em congressos e eventos nacionais e internacionais, além da redução de 19% das bolsas de mestrado e doutorado (262 alunos afetados), que representavam R$ 5,5 milhões por ano investidos em programas de pesquisa.
— Essa redução do orçamento tem nos impactado e impedido a gente de crescer e, realmente, transformar a universidade. O número é o menos importante para nós. O que interessa para nós é um aluno que tenha sucesso e transforme a sociedade, é um projeto que vai até a comunidade, é a produção científica que é feita com esse recurso, isso que é diferença para nós — complementa o reitor.
A preocupação também é sentida por um dos grupos mais afetados, os estudantes. Para Luiz Eduardo Bonetti, representante estudantil no Conselho Superior da UFSM, o bloqueio de R$ 9 milhões do orçamento pode decretar o fechamento da instituição, uma vez que a verba garante os serviços básicos de manutenção e funcionamento dos campi:
— A conta de luz e a conta de água são serviços que afetam diretamente o fato de estarmos aqui estudando. Então, a realidade que estamos enfrentando é essa, de que a UFSM pode fechar a qualquer momento por não conseguir fazer a sua manutenção.
Impacto dos cortes na comunidade
Uma reunião pública na Câmara de Vereadores da cidade está marcada para o dia 20 de junho, com o mesmo objetivo de abrir o debate para a comunidade quanto ao impacto dos cortes da UFSM na economia local e regional. A recente redução de R$ 2 milhões em contratos de trabalhadores terceirizados da portaria e da vigilância do campus causa impactos diretos no setor econômico da cidade, pois além de aumentar o desemprego, são salários que deixam de ser investidos aqui.
– É uma renda a menos que deixa de circular na cidade, porque o trabalhador da empresa terceirizada gasta seu dinheiro aqui, no comércio e nos serviços de Santa Maria. Há uma perda direta no aspecto econômico, além, é claro, do social — explica Ascísio dos Reis Pereira, um dos membros da diretoria da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm).
Além dos servidores terceirizados, outros 269 técnicos administrativos em educação (TAEs) também deixaram de atuar na universidade. Os cargos de TAEs aposentados não foram repostos, o que significa menos força de trabalho e vagas extintas. A situação tem impacto de R$ 24,3 milhões a menos de salários circulando na região.
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Eduarda Costa, [email protected]