PLURAL: quem põe a mesa hoje?

Redação do Diário

A coluna Plural desta quinta-feira traz textos sobre o tema Direito e sociedade. Os textos da Plural são publicados diariamente na edição impressa do Diário de Santa Maria. A Plural conta com 24 colunistas.

Noemy Bastos AramburúAdvogada, administradora judicial e palestrante

Até a década de 1990, sentar à mesa era algo corriqueiro, era o momento em que a mãe apresentava orgulhosa receitas novas, o pai contava suas conquistas, e os filhos falavam da escola, enfim, todos falavam de suas alegrias, e também de seus medos e derrotas. Neste momento, a figura do pai/herói era reforçada, a mãe trazia o carinho e a certeza de que tudo daria certo e seria resolvido, ao mesmo tempo, em que os filhos sabiam que aquele momento era especial para a família, pois eram ouvidos e compreendidos com qualidade.

Não precisávamos pagar para sermos ouvidos, não precisávamos buscar nos estranhos a atenção eb a compreensão, e as brincadeiras eram espontâneas, sem necessidade de buscar palavras “certas” para não sermos mal-interpretados. Estamos todos aqui, a mesa, o pai, a mãe, o filho, as receitas novas, e etc., porém uma pergunta não quer calar: o que não está mais aqui? Alguns dias atrás, enquanto assistia a um canal da Net que mostrava reforma e compra de casas num determinado país, percebi a enorme diferença de hábito daquele país para o Brasil: aquelas pessoas se preocupam com cozinha grande, com mesa com capacidade para todos os membros da família, enquanto que nós, ficamos preocupados com o número de vagas na garagem ou o número de suítes, não nos importando com os “cubículos” de cozinha que nos apresentam. Realmente, por que precisamos de uma cozinha grande se cada um come no seu quarto?

Meu pai, que faleceu em 1995, já dizia, “enquanto as famílias comerem juntas e cozinharem juntas, se manterão unidas”. Realmente não se pode nadar contra a maré, nem se deve; porém, devemos buscar alternativas ou atrativos para se voltar à mesa, nela os valores são aprendidos, as tradições são passadas de pai para filho.

A sociedade, desumana e cruel, é resultado desta lacuna, da falta de união e de diálogo, dentro do lar. A primeira sociedade que temos contato é a nossa casa, ali aprendemos que devemos respeitar o outro, que o diálogo traz a decisão adequada, que devemos dividir. Nesta sociedade ouvimos pela primeira vez a palavra “não”, porém ela vem com amor, isso prepara o caminho para aceitarmos o não fora de casa, aprendemos a ter limite e não sermos egoístas. Infelizmente, alguns imóveis possuem aglomerados de pessoas que vivem sob o mesmo teto, não vivem em lares, mas em casas.

Os menores e os maiores que ali vivem são meros hóspedes, que entram e saem, que dormem e acordam, que comem sob o mesmo teto, não são uma família pois não são ligados por amor, não moram num lar pois lar é um lugar que tem paz, que atrai pelo ambiente de segurança, regado pelo respeito e amizade.

Não precisamos do réveillon para projetos novos, mas de uma consciência de que vale a pena mudar, vale a pena lutar por nossos filhos. Que a mesa volte a ser ocupada, que nossos filhos voltem a gritar em volta da mesa a música que toda a mãe gosta de ouvir: “mãe! mamãe! mãezinha! mamis! nona!

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