Volta às aulas na UFSM impulsiona o comércio de Santa Maria

Bibiana Pinheiro


Foto: Mirella Joels (Diário)
Foto: Mirella Joels (Diário)

Em Santa Maria, cidade universitária, a impressão é de que no período de aula do Ensino Superior, a cidade fica mais movimentada, principalmente, no início do ano letivo. Comerciantes, empresários e imobiliárias aguardam um aumento no fluxo de clientes no período, e neste ano não foi diferente. Em média, os negócios tiveram um incremento de cerca de 30%. Em contrapartida, a avaliação dos setores apontam para uma quebra nas expectativas,com números que não ultrapassam os de 2022. 

Há quem chegue ao município próximo ao início das aulas, que nas instituições particulares se iniciaram entre a segunda e terceira semana de fevereiro, e na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) dia 20 de março. E outros que se antecipam para a organização de um período que dura, em média, quatro anos.

As primeiras compras 

Chuveiros, tomadas, tampas de vaso, torneiras de pia, esses são os utensílios mais procurados pelos recém chegados a um novo imóvel, sem falar de geladeira, fogão, escrivaninha e máquina de lavar roupa. Itens que pertencem à lista do top 10 de procura em lojas, briques e ferragens no mês de fevereiro e março em Santa Maria, no momento em que a cidade recebe os alunos de Ensino Superior para o início das aulas. 

Além dos estudantes, é época de servidores públicos, como docentes e militares, chegarem e até retornarem à cidade. Mais pessoas significa, também, mais consumo em uma economia que depende do setor. Ademir José da Costa, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Santa Maria (Sindilojas Região Centro), evidencia que os alunos movimentam direta e indiretamente a economia. 

– A movimentação das universidades e faculdades é um importante elo econômico para o município. A partir de março, a nossa economia aumenta, com certeza, acima de 30% com o comércio funcionando plenamente. O quadro de funcionários públicos também é uma fatia importante. 

Fotos: Nathália Schneider (Diário)
Fotos: Nathália Schneider (Diário)

Movimentaçãocomeça em janeiro

Em três estabelecimentos que a reportagem visitou, estudantes ou pais estavam pesquisando ou comprando algum móvel e utensílio. Para a proprietária de um dos briques mais antigos da cidade, Debora Dutra, 53 anos, a movimentação começou bem antes, ainda em fevereiro. Ela tem seu negócio familiar no centro da cidade, e já sabe os períodos de mais correria. 

– Se você tivesse vindo antes, em fevereiro, veria um entre e sai de gente que tu ficaria louca de tantas pessoas para entrevistar. Começa (o movimento) em janeiro e tem seu pico no início de fevereiro. Agora (março), já acalma. 

Nestes três primeiros meses do ano, Debora mensura um crescimento de vendas em 40% a 60%. Em um dos últimos dias de março, mês considerado calmo por ela, houve três entregas de itens a novos moradores da cidade. 

A equipe também acompanhou as compras da estudante Alicia Nedeff, 19 anos. Ela percorria lojas na Rua do Acampamento, logo após comprar o último móvel que faltava para mobiliar o apartamento que divide com sua irmã, Pietra. Vindas de São Gabriel, estão na cidade desde janeiro. 

– Eu vim para fazer cursinho de Medicina. Minha irmã iniciou na UFSM no curso de Engenharia de Produção. Estou tendo aula desde fevereiro – detalha Alicia. 

As vendas deste ano foram menores que 2022

Em vários setores da economia houve uma melhora evidente em 2022, comparado ao período de pandemia. Um deles é o comércio, como aponta o presidente do Sindilojas de Santa Maria. Jari Rodrigues da Silveira, 39 anos, e sua esposa Mônica tocam um conhecido brique na Avenida Presidente Vargas, e sentem a diferença: 

– O movimento deu uma queda na pandemia, mas agora com o retorno dos estudantes deu uma melhorada no movimento. Este período com certeza teve um aumento de no mínimo de 50% nas vendas, e este ano surpreendeu demais.  

O período de março também é positivo para Elen Lambert, 52 anos, proprietária de uma ferragem em Camobi. O período de retorno das aulas tem bastante movimento. Seria cerca de 30% a mais. Os ganhos são incertos, ainda que no mesmo setor. As causas são diversas para que uma loja veja o mesmo período como positivo e outra, como negativo. Carlos Jesus Marciel Quevedo, 61 anos, que trabalha em um dos briques de Camobi na extensão da Avenida Evandro Behr, indica que comparado ao ano passado se esperava bem mais para 2023.  

– O ano passado, pós-pandemia, acho que muitos alunos tinham levado as coisas deles (para casa) e tiveram que reconstruir tudo de novo. E agora não, a maioria já estava aqui, então diminuiu bastante o movimento. 

O comerciante Carlos Jesus Marciel Quevedo
O comerciante Carlos Jesus Marciel Quevedo

Nas contas de Carlos, visitariam a loja cerca de 200 famílias no mês de março. Neste 2023, menos de 80 apareceram para dar uma olhada nos preços, o que representa 40% a menos de vendas. A ferragem próxima a entrada da UFSM também sentiu a diferença no fluxo de clientes neste ano, em relação a 2022. O dono da ferragem, Guilherme Dutra, 29 anos, explica o comparativo.

– Em 2022, abríamos mais do que o nosso horário para atender a demanda. Acreditamos que seja pelo retorno do EAD. Este ano não foi preciso. 

Conforme Anderson Rodrigues, Gerente Regional Região Centro da Deltasul, o retorno das aulas em Santa Maria é esperado como uma outra data durante o ano, como o Dia das Mães, o Black Friday e  final de ano. 

Comércio 

  • Sindilojas: a partir de março, comércio cresce 30% com o funcionamento pleno do retorno às aulas 
  • Em média: um aumento de fluxo de 30%
  • Brique da Debora, centro: 40% a 60% de aumento nas vendas nos três primeiros meses do ano, o principal público é estudantes. Eles são seguidamente recomendados pelas imobiliárias. 
  • Brique do Jair, Centro: No período de início das aulas, o aumento é de 50% nas vendas. 
  • Ferragem de Elen, Camobi: Seria cerca de 30% a mais de movimento neste período de aulas. 
  • Brique do Carlos, Camobi: Em 2023, em relação a 2022, as vendas caíram cerca de 40%. Se 200 pessoas visitariam em março deste ano, 80 procuraram o estabelecimento. 
  • Loja do calçadão: Início de março é o período mais movimentado. O público estudantil representa cerca de R$ 300 a R$ 400 mil da sua meta mensal de R$ 1 milhão. 

Móveis e suas formas de pagamento 



Na avaliação de Davi, gerente de um brique no Centro, o custo-benefício de comprar geladeira, fogão e máquina de lavar roupa de segunda mão é alto, já que são poucos anos na cidade com estes pertences. Ao seu ver, os três itens equivalem ao valor de uma máquina de lavar nova em loja. Ao ser questionados sobre quanto custaria estes itens básicos no local, a proprietária do mesmo brique de Davi indica que é bem difícil mensurar. 

  • Brique da Debora, Centro: Com R$ 3 mil os produtos básicos como produtos de geladeira, fogão e máquina de lavar podem ser comprados
  • Brique da Mônica, Av. Presidente Vargas: Entre R$ 2 mil e R$ 4 mil  os produtos básicos ao escolher os melhores produtos de geladeira, fogão e máquina

Conforme a atendente Daiane da Deltasul, uma das lojas no Calçadão, a forma de pagamento, muitas vezes, é à vista, já que os pais já se programam e acabam comprando o pacote de quarto e cozinha. Em contrapartida, a subgerente de outra loja, Suelen Lanes,  indicou que o cartão é a forma mais recorrente para os estudantes e seus pais finalizarem suas compras. 

Moradia

A situação em 2020 era de desespero para aqueles negócios que dependiam da circulação contínua de público para manter seus negócios. As dificuldades para pagar os aluguéis e cumprir com seus compromissos financeiros estava latente. 

A presidente do Secovi Centro Gaúcho, Liziane Stangarlin, indica que no setor houve movimentação, em geral, após o Carnaval, em que as pessoas retomaram suas atividades. Assis Custódia, dono da Imobiliária Camobi, indica que os aluguéis subiram 40% com o início das aulas. 

– O estudante busca, em geral, apartamento com um dormitório. E neste ano, todos os apartamentos mobiliados que estavam disponíveis foram alugados – explica Custódia. 

Para ele, o movimento deste público é rotativo, e pouco mais de ano após ano. Para Giuliano Cancian, os contratos para aluguel crescem de 50% a 60%: 

– Os estudantes, militares, funcionalismo público são os responsáveis por este aumento no fluxo dos nossos aluguéis. 

Este público é parte fundamental da economia local, e esteve presente em 2022, após retorno do sistema a distância da UFSM. Giuliano reitera que houve maiores vendas em 2022 por este motivo. 

Restaurantes 

A alimentação é outro setor importante para Santa Maria. Conforme Adriano Costenaro, diretor de logística do aplicativo Delivery Much na cidade, de março para abril há um incremento de 12% de incremento nas vendas no serviço de entregas em casa. Com mais de 50 mil usuários, e mais de 300 lojas na plataforma, eles planejam um ano estável.

– 2023 não deve demonstrar grandes crescimentos de volume, embora algumas sazonalidades como essa de Santa Maria (retorno das aulas) que a gente está falando. Mas no ano como um todo, a gente deve ter um cenário estável frente a 2022 – detalha Costenaro. 

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

16ª Fecoarti  terá shows regionais e nacionais em Santiago Anterior

16ª Fecoarti terá shows regionais e nacionais em Santiago

Próximo

Aos 25 anos, Unicred Ponto Capital alcança 7,5 mil associados no país

LEIA MAIS
Economia