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Um ano depois, caminhoneiros não veem os resultados da greve

Joyce Noronha

Foto: Renan Mattos (Diário)

Em 20 de maio do ano passado, os caminhoneiros iniciaram uma greve que parou o Estado e o país. Um ano depois, a categoria avalia que os resultados da paralisação, de 10 dias, foram poucos e perceptíveis por um curto período.

O caminhoneiro Luis Henrique de Sousa, 49 anos, é contratado de uma empresa e conta que o acordo entre grevistas e governo federal se esvaiu rápido demais, em menos de quatro meses. Ele lembra que o preço do diesel, logo após a greve, era cerca de R$ 2,40, e agora a média é de R$ 3,70. Para ele, uma diferença de R$ 1,30 por litro, que no final da viagem pesa mais para os caminhoneiros. Por isso, Sousa diz que, para melhorar a situação da categoria, não é a tabela de frete que precisa ter valores reavaliados, mas sim os impostos de combustíveis.

- Se encarecer mais (a tabela de frete), todos vão pagar, porque o preço de tudo vai subir. Ou as pessoas acham que isso não influencia? O nosso trabalho está no mercado, na indústria, no comércio... Se reduzir imposto do combustível, vai baratear para o consumidor e para nós também - avalia Sousa.

O colega de empresa e também caminhoneiro Samuel Dutra, 40, diz que além do frete e dos impostos, o transporte de carga inclui pagamento de pedágios, que para ele são "fora da realidade no Estado". Ele conta que fica na estrada de 15 a 20 dias e que as rodovias estão deploráveis com pedágios altíssimos. Estradas ruins aumentam o tempo da viagem, o que reduz a comissão dos caminhoneiros, segundo Dutra.

Quem faz viagem interestadual, como o caminhoneiro Daniel Collares Nunes, 48, diz que o cenário não é promissor e salienta que a tabela do frete não é cumprida. Ele é funcionário de uma transportadora e viaja até São Paulo, com carga de soja, e volta para o Rio Grande do Sul com arroz. Conta que, além dos gastos com a viagem, como combustível e alimentação, há a manutenção e as prestações do veículo, o que também reduz o valor final a ser recebido pelo caminhoneiro.

- Antes sobrava para gente, em valor, uns R$ 7,5 mil. Agora, se sobrar R$ 4 mil depois da viagem é lucro. A revisão de um caminhão como o meu é R$ 4 mil e é feita a cada 30 mil quilômetros, e a gente corre 15 mil km por mês, então é curto tempo de revisão para revisão. Mais a prestação do caminhão, entende? - explica Nunes.

AUTÔNOMOS

A situação fica mais complicada para quem não é contratado por empresas, como conta o caminhoneiro Vanderlei Viana, 47. Ele trabalha há 25 anos como autônomo e diz que a tabela de frete não é usada e que o aumento constante do diesel reflete nas condições de trabalho deles.

- Falam em uma nova greve, mas se reparar bem, já está aí. Olhando para os postos, só tem caminhão parado, o porto (em Rio Grande) também, tudo parado. Agendamento sai de vez em quando. Então, como a gente vai viver? Não tem como. E para nós, autônomos, é pior ainda, porque se deu ruim, deu e acabou, é tudo com a gente, não tem salário, não tem outra renda - diz Viana, que costuma ser contratado, como terceirizado, de uma transportadora de peças de concreto.

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Ele salienta que o setor de carga que ele trabalha, que não é do ramo alimentício, ainda tem mais movimento nas estradas, mas ainda assim, reforça que o preço do diesel hoje é um grande complicador.

Nova greve dos caminhoneiros chegou a ser cogitada este ano no país, mas até o momento, não há nada concreto.

COOPERATIVAS E TRANSPORTADORAS DA REGIÃO DESTACAM SITUAÇÃO NO RAMO

Os reflexos da greve dos caminhoneiros, de maio de 2018, são sentidos nos setores que dependem do trabalho de transportadoras e autônomos. Mesmo com os caminhoneiros reforçando que a tabela do frete não é usada, o diretor comercial de grãos da Cooperativa Agropecuária Júlio de Castilhos (Cotrijuc), Luiz Cesar Moro, diz que a alta de preços da tabela foi o mais prejudicial.

- O custo para as transportadoras subiu muito, cerca de 5%, e isso diminui o repasse para o produtor. Dependendo do mercado e do produto, essa redução ao agricultor é muito grande.

Outra mudança para a cooperativa, conforme ele, foi o aumento da frota de caminhões, que antes da greve eram quatro. Depois da paralisação, a Cotrijuc optou por comprar mais quatro veículos e, nos próximos meses, planeja comprar mais dois. Contudo, Moro salienta que o volume da cooperativa é muito grande e que oito caminhões não são suficientes para escoar produtos. Para dar conta da demanda, a Cotrijuc contrata vagões da linha férrea e terceiros, transportadoras e caminhoneiros autônomos.

O responsável pelos transportes da Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel), José Otávio Ferreira da Costa, também vê o aumento da tabela de frete como o principal problema pós-greve dos caminhoneiros. Ele conta que a Cotrisel pensou em aumentar a frota própria, composta por cerca de 15 caminhões, mas salienta que 95% do transporte dos produtos é feita por terceirizados. Ele ressalta que os produtores foram os mais prejudicados com a greve dos caminhoneiros, já que a alta tabela de frete influencia no valor repassado aos agricultores.

- Quando teve greve, a soja era R$ 75, teve dias que bateu mais de R$ 80 e era livre negociação do frete. Hoje, tem a tabela, que precisa ser cumprida, e a saca de soja é R$ 63. O principal é o frete - avalia Costa.

FRETES

O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de Santa Maria (Sindisama), Paulo Rogério Brondani, diz que a principal falha é em relação à fiscalização da tabela de frete. Ele reforça que a tabela acaba não sendo usada, pois os embarcadores não cumprem, já que a regulamentação é falha.

Brondani diz que transportadoras e autônomos aceitam essas condições, pois precisam trabalhar. Mas fora isso, o aumento constante do diesel complica mais a situação da categoria.

- Ano passado, o Sindisama tinha muitos mais associados, sei que essa redução ocorreu porque as transportadoras estão fechando e sei de mais algumas que não vão conseguir manter as portas abertas por muito tempo. Já caiu 5% o número de sócios e, por mais que eu não queira, acredito que vai cair mais - diz.

Está no Supremo Tribunal Federal a ação em que a Confederação Nacional da Indústria alega que a lei do frete é inconstitucional, pois fere os princípios da livre iniciativa e livre concorrência (ao tabelar preços).

COMO FOI

  • De 20 a 30 de maio de 2018, caminhoneiros de todo o país pararam ou foram obrigados a parar, o que fez faltar combustíveis, alimentos e produtos à população em geral
  • Para acabar com a greve, o governo Temer fez a tabela do frete e subsídio no diesel, que baixou R$ 0,46, de R$ 3,85 para R$ 3,39 em Santa Maria. Até o fim de 2018, a União gastou mais de R$ 8 bilhões para bancar o diesel. Quando o subsídio acabou, em janeiro, o petróleo estava em baixa, e o diesel quase não subiu (era R$ 3,42 na cidade). Como o petróleo voltou a ter alta, o diesel estava em R$ 3,70 em 16 de maio

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