prejuízo

Setor de turismo tem queda de 80% em um ano de pandemia

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Reprodução
Afetada pela ausência de excursões, a empresa Efal Turismo vendeu a maior parte da frota. De 20 ônibus, restam 12. Vacinação anima setor

Imagine que você vive em um regime de subsistência, em um lugar afastado da cidade, come o que planta, cria os animais que cozinha. Em certa noite, passa um furacão, chove forte, com granizo. Na manhã seguinte, você vai contabilizar o estrago e se depara com quase nada do que tinha para se manter. Assim é a realidade de algumas empresas que prestam serviço ao setor do turismo em Santa Maria.
A pandemia afetou fortemente as agências de turismo e de aluguel de ônibus e vans. Houve queda de 80% no faturamento entre março de 2020 e março de 2021, de acordo com a Associação de Hotéis Restaurantes e Agências de Viagens e Turismo (Ahturr). Muitas empresas tiveram que mudar rotinas, dispensar funcionários e vender parte da frota de ônibus. A vacinação contra a Covid-19 chega como um raio de sol após a tempestade para um setor que já começa a se reerguer.

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Para viajar pelo Brasil ou pelo mundo com conforto, sem enfrentar ligações demoradas, ter que planejar passeios, reservar hotel, existem as agências de viagens e turismo. Mas o segmento, que movimentou R$ 238,6 bilhões no Brasil em 2019, sofreu uma queda de mais de R$ 55,6 bilhões em 2020. A pandemia foi um golpe duríssimo para muitas empresas que estavam direta ou indiretamente ligadas ao turismo.
Segundo o site da Cadastur, vinculada ao Ministério do Turismo, em Santa Maria há 38 agências de turismo, 27 guias de turismo e 42 transportadoras turísticas. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor deixou de faturar R$ 261 bilhões em 2020 e fechou 397,1 mil postos formais de emprego ano passado.

PREJUÍZO LOCAL

Segundo Emerson Nereu, presidente da Ahturr, a arrecadação mensal das empresas do segmento caiu 80% durante o primeiro ano pandêmico e houve recisão de contrato de 50% dos funcionários.
- A maioria das agências de viagens e turismo e empresas de transporte de pequeno porte já trabalha com quadro reduzido de funcionários (de cinco a 15) e estagiários (um a três). Dos funcionários que permaneceram trabalhando, cerca de 40% obtiveram ajuda financeira do governo federal, através dos benefícios da Medida Provisória (MP) 936, com redução de carga horária e rescisão temporária de contratos. E apenas 20% das empresas obtiveram ajuda financeira do governo, como o Pronampe, por exemplo - informa.

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Segundo Emerson, uma das saídas das agências foram as viagens comerciais:
- As empresas mantiveram seus negócios operando mais com viagens de compras de lojistas da cidade e, ainda assim, a maioria operou com o sistema de delivery, o cliente fazia os pedidos nas fábricas de outras cidades e as empresas trabalhavam com a logística de retirada e entrega - diz Nereu.

IMPACTO

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Murilo Bairros comenta que a perspectiva para o restante de 2021 e início de 2022 é de otimismo, apesar do tombo no ano passado

Murilo Bairros, franqueado da empresa CVC em Santa Maria, diz que a baixa local na venda de pacotes foi semelhante à nacional, em torno de 30%. No país, a rede de viagens CVC teve prejuízo de R$ 1,15 bilhão somente no primeiro trimestre de 2020. Após o susto do ano passado, o início da vacinação deu fôlego para que a empresa voltasse a girar capital e vender pacotes de viagens:
- Sobre viagens, a CVC quase não opera com terrestre, apenas aéreo e marítimo, nesse segmento, tanto nas nacionais quanto nas internacionais, houve uma queda de 2019 para 2020 de 65% no número de embarques, chegando a vender por um terço do valor habitual. O setor deu uma pequena retomada no início de 2021, subindo a procura em torno de 20% em janeiro e fevereiro, números que despencaram novamente em março de 2021 devido à bandeira preta no Estado.

O administrador informa, também, que o fechamento de alguns países para turistas brasileiros e a burocracia na entrada de outros fizeram com que a clientela buscasse destinos pelo Brasil, com forte procura por localidades nordestinas como Maceió e Porto Seguro.
- Com a vacinação, principalmente de idosos, que são nossos clientes mais fortes, já começamos a vender pacotes de viagens para o fim do ano e início do ano que vem. A expectativa é de que o setor turístico vá se recuperando a curto e médio prazo. Já há viagens marcadas para diversos lugares do país, pois podemos trabalhar com prazos de datas maiores - revela Bairros.

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Redução foi de 90% em aluguel de ônibus

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)
Camila Grellmann da Fan Turismo decidiu mudar a loja física que tinha para um espaço mais em conta para reduzir custos

Segundo a empresária Camila Grellmann, da Fan Viagens, a maior parte das empresas relacionadas ao turismo foi afetada financeiramente devido à pandemia. Ela conta que, de março a setembro, praticamente não houve venda de pacotes turísticos e foi preciso se reorganizar para continuar mantendo as atividades, com a empresa caindo de 1,1 mil clientes em 2019 para apenas 152 em 2020.
- Nós ficamos na mesma sala comercial até março de 2021. Tenho uma colaboradora e utilizamos todas as medidas cabíveis que o governo ofereceu, como por exemplo, suspensão de contrato das viagens. Busquei uma nova alternativa de espaço físico para reduzir custos, já que, mesmo antes da pandemia, a maioria dos clientes não ia mais até a empresa. A maior parte do atendimento já era feito online. As pessoas que adquiriram produtos turísticos com agências e tiveram suas viagens impactadas pela pandemia, tiveram todo o suporte dos profissionais e conseguiram resolver sua situação da melhor maneira possível - explica.

O produtor cultural Márcio Grings fazia, desde 2010, excursões para shows nacionais e internacionais realizados em Porto Alegre. Com a paralisação dos eventos, ele teve essa atividade também parada, com uma baixa de arrecadação de renda, levando em conta que eram pelo menos uma viagem por mês, com dois ônibus em cada evento. Para conseguir realizar as excursões, Grings contava com o apoio de uma pessoa que também era remunerada.
- Em 2018 e 2019, tivemos uma média de sete excursões por ano. Mas, em 2017, foram 13. Acredito que entre 2020 e 2021, certamente teríamos mais de 10 excursões, o que daria no mínimo umas 400 pessoas transportadas até os grandes eventos. Não tenho ideia quanto de faturamento perdemos, mas batemos no zero e tive que partir para outra atividade. O que posso dizer é que as excursões da Grings Tours sempre foram o ponto alto do meu faturamento anual, e isso deixou de existir - lamenta.

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O empresário Ilton Maffini, proprietário da Efal Turismo, conta que 2019 foi o melhor ano desde a crise de 2015. Com serviço de ônibus para excursões de diversos tipos, como shows, jogos de futebol, eventos religiosos, excursões escolares, concursos, a empresa fazia uma média de 70 viagens por mês, somando quase mil por ano.
- A agenda de 2020 seria melhor que a de 2019, pois tinha muita coisa programada. E não teve nada, foi um golpe muito forte e a queda foi de 95%. Em 2020, de março a agosto, nenhuma viagem - conta.

Maffini revela que, em agosto, fez apenas uma viagem. Entre outubro e março deste ano, ocorreram de três a quatro viagens por mês. O resultado da queda refletiu no faturamento.
- Quando vi que não tinha nada marcado pela frente, decidi rescindir contratos e vendi oito ônibus. Eram 25 colaboradores. Acho que enquanto não voltar a UFSM e as aulas presenciais, os serviços de viagens, pois são fontes de muitas viagens e excursões, a situação das empresas desse setor não vai estabilizar - avalia o empresário.

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">SETOR LOCAL

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, Ewerton Falk, garante que a prefeitura de Santa Maria está preocupada com a retomada do setor, que foi bastante afetada pela pandemia. Esse resgate dependerá da união do segmento regional.
- As características da cidade são o turismo de negócios, com alta taxa de ocupação por representantes comerciais, e o turismo de saúde, de educação e de eventos. Temos que fortalecer os eventos acadêmicos, comerciais, de saúde, religiosos e, obviamente, ampliar a relação com os municípios vizinhos para fortalecer a cadeia do turismo como um todo - afirma o secretário.

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Turismo nacional perdeu R$ 55 bi no ano passado

Segundo dados da Fecomércio de São Paulo, o turismo brasileiro perdeu R$ 55,6 bilhões em 2020, em relação a 2019. O resultado de R$ 113,2 bilhões foi a pior receita desde que a entidade começou a fazer o estudo, em 2011, e representou uma queda de 33% em comparação com o que o setor faturou em 2019.
O estudo aponta quedas de 50,8% no setor aéreo e 36% nos serviços de alimentação e alojamento, como hotéis e pousadas. Em seguida, os setores turísticos que mais sofreram foram as atividades culturais, recreativas e esportivas, que viram o faturamento cair 27,6%; as empresas de transporte terrestre, com 12,9%; assim como as locadoras de veículos e agências de viagens, que registraram queda de 12,1%.

EXTERIOR

Os viajantes brasileiros estão proibidos de entrar em 15 países em função da Covid-19. Países como Portugal, Inglaterra, Austrália, Canadá, Itália e Alemanha, têm restrições severas ou estão fechados para passageiros brasileiros.
Segundo Murilo Bairros, da CVC em Santa Maria, as viagens estão totalmente liberadas dentro do Brasil. No entanto, com voos reduzidos, hotéis operando com menor capacidade, obedecendo aos protocolos de segurança. As viagens internacionais são as mais prejudicadas, mas já há liberação para entrar em mais de 90 países.

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