reportagem especial

Setor de serviços é responsável por gerar metade dos postos de trabalho em Santa Maria

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

A gênese da matriz econômica de Santa Maria remonta ainda o começo do século 20 quando, à época, o setor da prestação de serviços e, inclusive, o comércio já se tornavam protagonistas da economia de uma pacata cidade, encravada no centro do Estado, mas que já revelava sua vocação. Santa Maria teve, na década de 1930, o primeiro grande ciclo de desenvolvimento com a ferrovia. Mas viu, à época, o vagão da economia descarrilar depois de uma mudança do governo que aposentou o modal. Foi o ocaso de uma era.

Coube, então, à cidade se reinventar econômica e financeiramente. Veio, na sequência, a aposta de fazer de Santa Maria uma referência educacional no Ensino Superior. Nascia ali, naquele momento, o embrião do que seria a UFSM e a Universidade Franciscana (UFN). Acontece que em todos esses momentos, Santa Maria - favorecida pela posição geográfica e por ser o maior município da Região Central, sendo uma espécie de satélite para tantos outros do entorno - tornou-se uma referência na prestação de serviços.   

O Diário, nesta matéria especial, aborda as perspectivas que o 2020 reserva à economia local ao observar os ventos que sobram em âmbitos nacional, estadual e, inclusive, internacional. Especialistas e economistas ouvidos pela reportagem apostam que a melhora do mercado interno é o oxigênio que dará fôlego aos setores produtivos para este ano. Tudo isso casado às projeções do próprio mercado e do governo que apontam que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar na casa dos 2%, o que é um alento no entendimento da maioria. 

E é aí que Santa Maria tenta pegar carona nessa ligeira onda de reversão das dificuldades encontradas na década passada. Com a experiência de ter sido diretor do Bank Boston no Brasil por 15 anos, Julio Krauspenhar, é um otimista comedido quanto ao presente:

Sorteio vai definir as duas feiras que serão realizadas neste ano em Santa Maria

- Tudo, absolutamente tudo, impacta a todos: cenário interno, política do Estado, da União, as convulsões sociais na América Latina. Tudo é cascateado. Não há redoma, ninguém fica imune. Santa Maria por mais que tenha a chamada indústria do contracheque e certa reserva de gordura para queimar, em tempos de crise, precisa estar atenta às tendências. E precisa se reinventar sem deixar suas origens econômicas. Mas, principalmente, se colocar aberta ao que há de mais moderno em termos de economia criativa e isso, é óbvio, no âmbito tecnológico.

O consumo das famílias, puxado por um estímulo provocado pelo governo federal ao liberar os saques do FGTS, deu uma ligeira injeção de ânimo ao comércio local. Porém, como na economia é o chamado "conjunto da obra" que influencia o todo, Krauspenhar atenta que não há uma única "tábua de salvação". 

REPRESENTATIVIDADE
Ao considerar os dados do IBGE Cidades, Santa Maria concentra quase 85% do Produto Interno Bruto (PIB) no binômio serviços e comércio (outro braço forte da economia local). Juntas empregam, ao menos, 10 mil pessoas na cidade. 

Ao abrir os números, o estudo "Perfil das cidades gaúchas", que é de 2019 (feito pelo Sebrae), aponta que o setor de serviços representa por 49% na participação que considera o número de empresas que geram postos de trabalho. O comércio vem, na sequência, com 36%. Os números são ligeiramente diferentes do que fora divulgado pela Agenda 2020, ainda em 2017, que apontou a participação por setor na geração de postos de trabalho na seguinte proporção: serviços (59,1%), comércio (25,4%), indústria (10,7%), construção civil (3,9%), agropecuária (0,9%).

Em 2019, ônibus tiveram redução de 1,1 milhão de passageiros: -5,2%

Ao longo deste mês, o Diário trará uma série de matérias quanto às perspectivas e projeções dos demais setores que integram a economia santa-mariense. 

QUEDA
Ainda que o setor de serviços seja o grande motor da economia local, em todo o 2019, ele gerou 362 empregos com carteira de trabalho assinada. Ficando atrás apenas do comércio que, no mesmo período, abriu 388 empregos. Porém, o ano que passou para o serviços não foi nada promissor. Isso porque, a efeito de comparação, no acumulado de 2018, o setor criou 1.079 vagas. Ou seja, de um ano para outro, houve uma queda de 33,5% junto ao segmento. Reflexo de uma combinação de anos de retração e à demora de reformas por parte do governo - que inibem investimentos - e que, agora, vão sendo "desatadas", resume Krauspenhar.

ENREDO
Porém, há "um mesmo enredo que se repete ano após ano". Ele explica: o Brasil, nos últimos anos, demonstrava que conseguiria viabilizar uma recuperação cíclica. Ou seja, a economia do país voltaria a respirar ares de normalidade e, dessa forma, ter uma aceleração mínima satisfatória. Porém, "como no Brasil nada é certo e previsível", sublinha o administrador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, será preciso observar o calendário com cautela, mas sem perder o otimismo. O que vale para Santa Maria. 

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Para não se ter uma nova década perdida

O professor do departamento de Economia e Relações Internacionais, Daniel Coronel, observa que o país, o Estado e o município se veem inseridos em um processo de estagnação, iniciado ainda em 2014. Apenas para dar dimensão do turbilhão de acontecimento que reverberaram na política e, por tabela, na economia, ele cita três fatores que contribuíram para desestabilizar ainda mais o cenário interno: o impeachment de Dilma Rousseff (PT), a polarização política na eleição presidencial entre Bolsonaro e Haddad e, ainda, a greve dos caminhoneiros. Por isso, os sinais, ainda que tímidos, de uma melhora da economia devem, sim, ser comemorados. Mas, ele ressalva, que essa ligeira sobrevida precisa ser celebrada com cautela e de forma contida:

- (A economia) dá sinais de melhora e há, inclusive, uma retomada do crescimento econômico com os investimentos. Porém, em anos anteriores, se viu cenário semelhante. Agora, porém, temos a reforma (da Previdência) concluída e outra (Tributária) despontando. Ou seja, são sinais e ações que dão indicativos de uma reversão desse processo de estagnação.

Ao observar a década perdida (2010 a 2019), o economista fala da necessidade de Santa Maria diversificar a matriz produtiva e ele resume isso com um exemplo:

- Veja o que é de Santa Maria, na época de férias, em que o comércio fica minguando, às moscas. É uma forma de não ficar tão dependente de commodities.

A médio e longo prazo, o doutor em Economia Aplicada afirma que Santa Maria tem a possibilidade real de alavancar a economia local com a consolidação do ecossistema tecnológico e empreendedor com as startups e incubadoras:

- Há uma ambiência que desponta nesse sentido e que tem tudo para ajudar a diversificar a matriz econômica do município.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Momento é de transição, avalia presidente da Cacism

À frente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism), Luiz Fernando Pacheco, avalia que o 2020 tende a ser melhor do que fora os últimos anos. Contudo, ainda "está longe de ser um ano bom", ressalva. Entendimento que ele justifica:

- Há alguns setores que, de fato, dependem da conjuntura nacional e estadual. O que impacta na nossa engrenagem. Temos o funcionalismo federal, com renda, e que mantém a roda do consumo. Mas, ao mesmo tempo, temos a situação dos servidores do Estado que recebem os salários parcelados. É por tudo isso que (o empresariado) ainda não tem a confiança necessária para retomar investimentos.

Pacheco afirma que cabe a lojistas, comerciantes e empresários buscarem ferramentas e soluções que se mostrem atrativas e competitivas frente à concorrência do próprio e-commerce, cita como exemplo:

- Vivemos, de forma geral, um mercado que se transforma permanentemente. A forma de prestação de serviços mudou e temos hoje uma infinidade de demandas que são prestadas e acessadas por meio de aplicativos. Além do comércio, da forma tradicional como era feito, passa por uma profunda transformação. A venda de tênis, por exemplo, pode ser feita por sites. É comum a pessoa ir na loja física e experimentar (o tênis) e comprar no site. Então, são tempos que exigem criatividade e capacidade de reinvenção.

QUALIFICAÇÃO
O economista e professor da Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma), Herton Goerch, destaca que tanto o setor de prestação de serviços quanto o comércio da cidade têm buscado qualificar e atender ao público local e também da região.

Porém, ao analisar a atual conjuntura - política, econômica e social -, Goerch diz "não haver qualquer sinalização que possa alterar o cenário do momento". Ou seja, um crescimento, no máximo, que reflita o que os indicadores oficiais apontam.  

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