Evento juridico

Advogado das operações Lava-Jato e Rodin critica delações premiadas

José Mauro Batista

Reconhecida como instrumento jurídico bastante usado por políticos e empresários acusados na Operação Lava-Jato, a delação premiada tem gerado polêmica, principalmente no meio jurídico, por livrar corruptos da cadeia em troca de informações que ajudem a chegar em outros culpados. Um de seus críticos é o advogado Lúcio Santoro de Constantino, 51 anos, defensor de réu na Operação Lava-Jato, que palestrou na noite de terça-feira, em Santa Maria.

Curiosamente, Constantino atuou como defensor do empresário Lair Ferst, pivô da Operação Rodin, que investigou fraude nos exames de carteira do motorista envolvendo o Departamento Estadual de Trânsito do RS (Detran-RS), empresas e as fundações de apoio da Universidade Federal de Santa Maria (Fatec e Fundae). Lair foi um dos precursores da delação premiada e se livrou da prisão por colaborar com a Justiça.

– A delação ou colaboração premiada é um acordo sigiloso, mas a imprensa divulgou o caso do Lair. Na época, já existia a previsão legal e fui muito criticado, inclusive por colegas de Santa Maria. Muitos diziam que era um suicídio jurídico e fiquei muito preocupado. No final se viu que foi o melhor negócio, a melhor escolha. O Lair foi condenado a 35 anos de prisão e restou isento da pena. Então, valeu a pena – justificou Constantino, que é professor universitário. 

As promessas das duas chapas que concorrem à direção do Sinprosm    

O advogado reitera ser crítico da delação ou colaboração premiada, mas como se trata de um instituto legal reconhecido como válido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), afirma que sempre irá usá-lo em favor de seus clientes.Antes da palestra no 5º Debate Jurídico promovido pela BMR Eventos, pela Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma) e pelo Diretório Acadêmico do Direito da instituição, Constantino falou com o Diário.

Entre os assuntos abordados, disse que o pensa do juiz Sérgio Moro e do polêmico ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. O evento segue hoje à noite, com três palestras, entre elas a da procuradora do Ministério Público Federal Jerusa Burmann Viecilli, que atuou na Rodin e atua na Lava-Jato. A palestra dela está prevista para as 21h20min.

Diário de Santa Maria  – Como o senhor vê esses acordos de delação hoje?
Lúcio de Constantino – Com o juiz Sérgio Moro, esse instituto jurídico se refinou e tem critérios objetivos e subjetivos mais definidos. O fato é que começamos a nos deparar com um mundo novo e devemos estar preparados para as novidades. Agora, é preciso deixar claro que o juiz não provoca a delação premiada, o juiz só age mediante provocação.
O grande problema é tentar fazer acordo com o Ministério Público, que, pela sua natureza própria, não é negociante, tornando difícil uma composição. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma barganha com conceituações próprias de composição.

Auditores fazem pente-fino em dinheiro aplicado em projetos federais em Santa Maria

DiárioMas o senhor tem se manifestado contra a delação premiada. Por quê?
Constantino – Sou totalmente contra, porque a delação, no meu ponto de vista, é eticamente incorreta, mas como advogado sou obrigado a preservar os direitos do meu cliente.

Diário – Qual sua opinião sobre o juiz Sérgio Moro?
Constantino – Espetáculo. Levantaríamos o nível do Judiciário com juízes que têm formação, e a formação faz diferença. Um juiz de primeiro grau que já tinha conhecimento, que já conhecia os procedimentos americanos, começa a investigar doleiros a partir de um posto de gasolina e se descobre uma fraude de bilhões envolvendo empreiteiras e a Petrobras.

Diário – Qual o futuro da Lava-Jato?
Constantino – O grau de corrupção no Brasil é muito elevado. A Lava-Jato tem muitas ramificações e deve perdurar por muitos anos. E veja só, foi premiando criminosos que essa operação começou a prender. A partir das primeiras delações, a Lava-Jato avançou e se transformou no que é.

Diário – Como o senhor vê o STF e as polêmicas envolvendo o ministro Gilmar Mendes?
Constantino – O STF tem julgadores extremamente preparados, mas há um erro total quando algum de seus membros vulgariza uma opinião. Isso traz uma insegurança jurídica. O ministro Gilmar Mendes fez uma declaração contra o Janot (Rodrigo Janot, procurador-geral da República) totalmente imprópria. Sou contra magistrado dar opinião, se quiser fazê-lo, então largue a toga. Tanto é que há pedidos de impeachment contra ele.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Depósito de R$ 350 dos salários causa protesto de servidores

Próximo

Voto (direito ou dever?) e as finanças pessoais

Economia