Foto: Beto Albert (Diário)
Você se questiona por que os gastos no supermercado ficaram maiores ultimamente, mesmo comprando a mesma coisa? A resposta pode estar no preço dos alimentos, especialmente da carne bovina. Nos últimos quatro anos, a fonte essencial de proteína na dieta da maioria das famílias subiu acima da inflação.
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Levantamento feito pelo Diário revela que, entre setembro de 2020 e setembro de 2024, a maioria dos cortes aumentou bem mais do que a inflação oficial. A pesquisa considera os preços médios de cada corte.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nesses quatro anos é de 30,03%. Dos sete tipos de carne pesquisados pela reportagem, apenas dois acompanharam o IPCA: a picanha (aumentou 31,41%) e o coxão mole (31,52%).
Os preços dos demais cortes dispararam. Para comprar um quilo de costela para o churrasco, o consumidor santa-mariense precisa desembolsar, hoje, R$ 16,75 a mais. O valor médio passou de R$ 23,48 para R$ 40,23 – um aumento de 71%. Se o preço da costela tivesse acompanhando a inflação, custaria hoje R$ 30,53, em média.
A maminha está em segundo lugar, com aumento de R$ 54,48% no período. Em seguida vem o filé mignon, que subiu 52,76%.
Exportações
A disparada dos preços da carne de gado já não é de agora. Em 2022, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou pesquisa em que apontou que o valor da carne subiu mais do que o dobro da inflação entre março de 2020, em plena pandemia, e abril de 2022.
Nesse período, a inflação oficial foi de 19,4%. Já o preço médio das carnes aumentou 42,6%, segundo o Ipea.
No mesmo estudo, o instituto apurou que as exportações de carne bovina do Brasil para China cresceram 30,4% no período pesquisado, o que reduziu a oferta no mercado interno e levou ao aumento no preço para os consumidores.
O empresário Gilberto Cremonese, presidente do Sindigêneros, sindicato que congrega os supermercados de Santa Maria, afirma que as exportações de carne vermelha influenciam nos preços do alimento mercado nacional. Trata-se de um cenário complexo. Para o consumidor, há aumento. Para o produtor, há queda nos preços.
– O que a gente sabe é que os criadores da pecuária se queixam que o preço do boi baixou. Mas, com mais exportação, mais carne de qualidade sai do país e menor quantia fica, encarecendo o consumo – diz.
O economista e professor Alexandre Reis aponta diferentes fatores para a alta da carne nos últimos anos. As enchentes no Estado e a atual seca no centro do país afetam os rebanhos e encarecem a produção. Além disso, há a dificuldade logística, com fretes mais caros. Reis não acredita que os preços irão baixar.
– Não acontece só com a carne. A escalada de preços internos na economia brasileira está muito grande – aponta.
Compare os valores
As médias de preço do quilo (R$)*
Período | Costela | Maminha | Agulha com osso | Alcatra | Coxão mole | Picanha | Filé mignon |
Setembro de 2020 | 23,48 | 36,27 | 16,84 | 36,44 | 32,39 | 48,29 | 47,78 |
Setembro de 2024 | 40,23 | 56,03 | 25,39 | 51,93 | 42,6 | 63,46 | 72,99 |
Quanto aumentou | 16,75 | 19,76 | 8,55 | 15,49 | 10,21 | 15,17 | 25,21 |
Alta no período** | 71,33% | 54,48% | 50,77% | 42,50% | 31,52% | 31,41% | 52,76% |
*Em 2020, a pesquisa foi feita em oito estabelecimentos da cidade. Em 2024, em três locais
**A inflação medida pelo IPCA no período de setembro 2020 a agosto 2024 foi de 30,03%
Consumo de carne vermelha diminuiu no país
Com os preços elevados, especialmente durante a pandemia, os brasileiros passaram a comer menos carne bovina. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2020, o consumo médio per capita foi de 29,9 quilos. A quantidade diminuiu nos anos seguintes, ficando em 20,3 quilos em 2021 e em 28,2 quilos em 2022. Muito longe dos 35,5 quilos que eram consumidos em 2018.
A contadora Silvia Montero, 56 anos, afirma que os cálculos não batem facilmente quando o assunto é consumo da carne. Em casa, ela opta pelos cortes mais em conta, mas que sejam de qualidade.
– Hoje eu peguei o coxão de dentro. O pedaço está barato e é melhor para fazer bife ou picadinho. Mas é só assim, quando está em promoção. A gente cuida os preços. É a melhor forma – contou Silvia, na última quarta-feira, enquanto fazia compras em um supermercado de Santa Maria.
A expectativa da Conab é que, ainda em 2024, o consumo de carne vermelha volte a crescer e fique acima de 30 quilos por pessoa. A projeção são 32 quilos, o mesmo patamar de 2023. O motivo é o aumento da oferta do produto no mercado. A projeção da Conab é que produção nacional deste ano deverá passar de 10 milhões de toneladas – algo que não acontecia desde 2007.
Por outro lado, o economista Alexandre Reis pondera que os salários não acompanharam os aumentos dos alimentos, o que leva a população a substituir a carne vermelha por outras, como a de frango. Na pandemia, até mesmo o ovo foi consumido como fonte de proteína.