Em quatro anos, cortes de carne sobem de 31% a 74% em Santa Maria, aponta levantamento feito pelo Diário

Bibiana Pinheiro e Marcos Fonseca

Em quatro anos, cortes de carne sobem de 31% a 74% em Santa Maria, aponta levantamento feito pelo Diário

Foto: Beto Albert (Diário)

Você se questiona por que os gastos no supermercado ficaram maiores ultimamente, mesmo comprando a mesma coisa? A resposta pode estar no preço dos alimentos, especialmente da carne bovina. Nos últimos quatro anos, a fonte essencial de proteína na dieta da maioria das famílias subiu acima da inflação.


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Levantamento feito pelo Diário revela que, entre setembro de 2020 e setembro de 2024, a maioria dos cortes aumentou bem mais do que a inflação oficial. A pesquisa considera os preços médios de cada corte.

 
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nesses quatro anos é de 30,03%. Dos sete tipos de carne pesquisados pela reportagem, apenas dois acompanharam o IPCA: a picanha (aumentou 31,41%) e o coxão mole (31,52%).


Os preços dos demais cortes dispararam. Para comprar um quilo de costela para o churrasco, o consumidor santa-mariense precisa desembolsar, hoje, R$ 16,75 a mais. O valor médio passou de R$ 23,48 para R$ 40,23 – um aumento de 71%. Se o preço da costela tivesse acompanhando a inflação, custaria hoje R$ 30,53, em média.


A maminha está em segundo lugar, com aumento de R$ 54,48% no período. Em seguida vem o filé mignon, que subiu 52,76%.


Foto: Beto Albert (Diário)


Exportações

A disparada dos preços da carne de gado já não é de agora. Em 2022, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou pesquisa em que apontou que o valor da carne subiu mais do que o dobro da inflação entre março de 2020, em plena pandemia, e abril de 2022.

 
Nesse período, a inflação oficial foi de 19,4%. Já o preço médio das carnes aumentou 42,6%, segundo o Ipea.


No mesmo estudo, o instituto apurou que as exportações de carne bovina do Brasil para China cresceram 30,4% no período pesquisado, o que reduziu a oferta no mercado interno e levou ao aumento no preço para os consumidores.

 
O empresário Gilberto Cremonese, presidente do Sindigêneros, sindicato que congrega os supermercados de Santa Maria, afirma que as exportações de carne vermelha influenciam nos preços do alimento mercado nacional. Trata-se de um cenário complexo. Para o consumidor, há aumento. Para o produtor, há queda nos preços.

 
– O que a gente sabe é que os criadores da pecuária se queixam que o preço do boi baixou. Mas, com mais exportação, mais carne de qualidade sai do país e menor quantia fica, encarecendo o consumo – diz.

 
O economista e professor Alexandre Reis aponta diferentes fatores para a alta da carne nos últimos anos. As enchentes no Estado e a atual seca no centro do país afetam os rebanhos e encarecem a produção. Além disso, há a dificuldade logística, com fretes mais caros. Reis não acredita que os preços irão baixar.


– Não acontece só com a carne. A escalada de preços internos na economia brasileira está muito grande – aponta.


Compare os valores

As médias de preço do quilo (R$)*


Período
Costela
Maminha
Agulha com osso
Alcatra
Coxão mole
Picanha
Filé mignon
Setembro de 2020
23,48
36,27
16,84
36,44
32,39
48,29
47,78
Setembro de 2024
40,23
56,03
25,39
51,93
42,6
63,46
72,99
Quanto aumentou
16,75
19,76
8,55
15,49
10,21
15,17
25,21
Alta no período**
71,33%
54,48%
50,77%
42,50%
31,52%
31,41%
52,76%

*Em 2020, a pesquisa foi feita em oito estabelecimentos da cidade. Em 2024, em três locais
**A inflação medida pelo IPCA no período de setembro 2020 a agosto 2024 foi de 30,03%


Consumo de carne vermelha diminuiu no país

Com os preços elevados, especialmente durante a pandemia, os brasileiros passaram a comer menos carne bovina. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2020, o consumo médio per capita foi de 29,9 quilos. A quantidade diminuiu nos anos seguintes, ficando em 20,3 quilos em 2021 e em 28,2 quilos em 2022. Muito longe dos 35,5 quilos que eram consumidos em 2018.


A contadora Silvia Montero, 56 anos, afirma que os cálculos não batem facilmente quando o assunto é consumo da carne. Em casa, ela opta pelos cortes mais em conta, mas que sejam de qualidade.



Contadora Silvia Monteiro, 56 anos, pesquisa preços para garantir a melhor carne que esteja dentro da alguma promoção Foto: Beto Albert (Diário)


– Hoje eu peguei o coxão de dentro. O pedaço está barato e é melhor para fazer bife ou picadinho. Mas é só assim, quando está em promoção. A gente cuida os preços. É a melhor forma – contou Silvia, na última quarta-feira, enquanto fazia compras em um supermercado de Santa Maria.


A expectativa da Conab é que, ainda em 2024, o consumo de carne vermelha volte a crescer e fique acima de 30 quilos por pessoa. A projeção são 32 quilos, o mesmo patamar de 2023. O motivo é o aumento da oferta do produto no mercado. A projeção da Conab é que produção nacional deste ano deverá passar de 10 milhões de toneladas – algo que não acontecia desde 2007.

 
Por outro lado, o economista Alexandre Reis pondera que os salários não acompanharam os aumentos dos alimentos, o que leva a população a substituir a carne vermelha por outras, como a de frango. Na pandemia, até mesmo o ovo foi consumido como fonte de proteína.

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