reportagem especial

VÍDEOS: incertezas que adiam eventos e esvaziam datas durante a pandemia

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style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Isolado, restrito, suspenso, fechado, adiado. Expressões que fizeram do primeiro semestre de 2020 um período abreviado no tempo. No ano em que a exceção virou a regra, e o estranhamento passou a ser, por exemplo, avistar uma pessoa sem máscara pelas ruas, as consequências de uma crise de sanitária global a pandemia do novo coronavírus _ deixaram muita coisa para depois: de abraços entre duas pessoas a celebrações em grupo. Eventos de toda ordem foram remarcados. Um dos mais emblemáticos são as Eleições, que na última terça-feira, tiveram uma nova data aprovada pelo Senado. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que adiou o pleito municipal de 2020, de outubro para novembro, sem a extensão de mandatos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores foi tomada para reduzir os riscos à saúde da população. O primeiro turno, 15 de novembro e o segundo em 29 de novembro. A proposta ainda precisa ser aprovada pela Câmara dos Deputados e encaminhada ao Congresso Nacional. 


Em Santa Maria, decretos marcaram desde 18 de março, o abre e fecha a abertura parcial do comércio e dos serviços não essenciais para tentar evitar a propagação da Covid-19. Passados alguns dias, foi um sistema de distanciamento controlado encampado pelo governo do Estado que passou a prevalecer na rotina das cidades.

Em paralelo, grandes feiras, como é a Feira do Livro, festas tradicionais, formatura, casamentos, marcos religiosos, incluindo a Romaria da Medianeira e até campeonatos esportivos, entre eles, os jogos pela Divisão de Acesso, fase que garante que duas equipes integrem à Elite do Futebol Gaúcho, mudaram de data ou ainda aguardam por definições.

Um segundo semestre chega rodeado de incertezas e readaptações.

"O IMPACTO DA AUSÊNCIA DA FEIRA DO LIVRO NA CIDADE É INCALCULÁVEL" data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Da sala de casa, Télcio Breazolin, 63 anos, ameniza a saudade da troca literária estabelecida na Feira do Livro de Santa Maria reorganizando os próprios títulos e revisitando suas obras favoritas. Já são três décadas de envolvimento com a feira que se consagrou o maior evento literário do centro do Estado e a segunda com mais edições na América Latina, ficando atrás apenas da de Porto Alegre, que já ocorreu 64 vezes. Neste ano, a 47ª edição ainda não pôde ser realizada, em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

Entre abril e maio, meses em que geralmente a feira acontece, a Praça Saldanha Marinho é transformada em um espaço democrático de cultura, inclusão, lazer e informação. São estandes repletos de milhares de livros a serem comercializados, apresentações culturais, contação de histórias e trocas que extrapolam os dias do evento. Somente no ano passado, foram vendidos 52.755 exemplares em 16 dias de atrações. Mas o valor e o simbolismo da feira vão além das cifras.

- O impacto da ausência da Feira é incalculável neste primeiro semestre. Não é somente o que acontece na praça, mas todas as consequências na cidade, o efeito multiplicador da divulgação da produção local e de encontro de escritores. Mas também um espaço de incentivo à leitura, de busca por conhecimento que envolve adultos, crianças, escolas. Tem pessoas que vão pela primeira vez, outras que voltam. Tem quem se projeta fora daqui e quem vem de fora expor seus trabalhos à cidade. A feira vai muito longe - enfatiza Brezolin, que é presidente da Câmara do Livro de Santa Maria.

Segundo a Superintendência de Comunicação da prefeitura, a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, liderada pela produtora cultural Rose Carneiro, adiantou que será "preciso se reinventar". Conforme informações repassadas pela pasta, os eventos estão sendo repensados com novos objetivos, focos e resultados, possivelmente, voltados quase que totalmente ao ambiente virtual.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

A Feira do Livro e a Tertúlia Musical Nativista são exemplos de eventos com grande impacto econômico e cultural, e a secretaria deve explorar as ferramentas como lives, podcasts, bate-papos online e vídeos para manter eventos e artistas em evidência.

- Presencialmente está difícil, mas teremos de nos adaptar a esse momento ímpar na história da cultura da cidade e do mundo, que também serve para a gente refletir. Vamos fazer alguma coisa, teremos um intercâmbio cultural, mas de uma outra forma que ainda estamos discutindo - pontua Brezolin.

EVENTOS TRADICIONAIS SEGUEM EM DISCUSSÃO
As comemorações de datas como Semana da Pátria e Semana Farroupilha, ambas no mês de setembro, ainda não têm definição de quando e como vão ocorrer. Segundo a prefeitura, nos próximos dias haverá uma reunião da comissão executiva de cada evento para dar andamento aos trabalhos e verificar de que forma serão realizados neste ano.

- Ficou decidido entre os coordenadores e o Movimento Tradicionalista Gaúcho que cada região fará o acendimento e a distribuição da Chama Crioula como desejar. Ainda teremos uma reunião em que vamos conversar com os diretores da parte campeira e das cavalgadas para alinhavarmos a situação do desfile - diz o coordenador da 13ª Região Tradicionalista (13ª RT), Paulo Simon.

"SÃO 35 PESSOAS QUE DEPENDEM DO INTER-SM" data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Santa Maria deparou com seus clubes e academias de portas fechadas desde março e, hoje, os que funcionam devem obedecer restrições. Os esportes coletivos, as escolinhas de futebol, os jogos de associações de vôlei e basquete, os treinos do Santa Maria Soldiers e do Universitário Rugby estão suspensos. A prática da canoagem na cidade também está interrompida. A situação da barragem do DNOS, no Rio Vacacaí-Mirim, que fica localizada no Bairro Campestre do Menino Deus, ainda foi agravada pela seca do Rio Vacacaí prejudicando a rotina tanto de atletas quanto dos apreciadores de Stand Up Paddle (SUP). Até as peladas nos campinhos tiveram de ser adiadas.


E se para quem pratica atividades esportivas os dias se arrastam, para quem vive do esporte, as esperas decorrentes da chegada do novo coronavírus preocupam.

O caso mais emblemático da cidade é a suspensão da Divisão de Acesso, cenário que obrigou o Inter-SM, representante local no campeonato, a driblar despesas e criar alternativas. Tudo feito para garantir que os 35 funcionários, incluindo 26 jogadores, tenham o básico para passar o período de isolamento social junto de suas famílias.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Desde o dia 18 de março, todos foram dispensados da Baixada. Os salários de abril e maio contaram com benefício do governo federal, por meio da modalidade de suspensão contratual. Em junho, houve a redução de 75% da folha. O clube não sabe como pagará as folhas de julho e agosto.

- Estamos com deficiência de arrecadação de patrocinadores, de ingressos, do dinheiro que vem da copa e das mensalidades. Hoje, temos uma pequena arrecadação, que vem praticamente de dois patrocinadores. A inadimplência dos mensalistas chega a 95%, porque não tem futebol e é jogando que se arrecada. Estamos até nos virando com uns materiais de construção que ganhamos para pinturas, e manutenções aqui e ali. Mas nossa preocupação maior é com os atletas. Tem esposa de jogador grávida, outro que sustenta a mãe e o irmão mais novo, e outras situações. Se não voltarem os jogos, não teremos como fazer absolutamente nada. São 35 pessoas com carteira assinada que dependem do Inter-SM - relata o presidente do clube, Jauri Daros.

A volta da Divisão de Acesso chegou a ser marcada pela Federação Gaúcha de Futebol para 8 de agosto, mas foi adiada. O clube torce que a pandemia dê trégua para recomeçar o campeonato ainda em setembro.

SONHO ADIADO data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: reprodução

A cena esportiva que amarga a interrupção de eventos também adia sonhos. Com as Olímpiadas previstas somente para 2021, uma das possíveis representantes regionais na competição, a judoca Maria Portela, 32 anos, atleta da Sogipa, de Porto Alegre, desabafa e procura manter o otimismo.

- Eu estava em plena preparação para meu último ciclo olímpico. Todas as competições foram canceladas e veio a dúvida se a Olimpíada sairia ou não. Fiquei muito ansiosa e apreensiva. O adiamento em um ano requer um novo planejamento e adaptações dentro do que havia sido programado. Nesse período, sigo com circuitos físicos, trabalho com orientações online com preparador físico, comissão técnica, fisioterapeuta e psicóloga, até por uma questão de saúde mental. Apesar de não ter previsão de retorno aos treinos, porque judô é um esporte de muito contato, o sonho continua - afirma a atleta.

EXPECTATIVA POR FORMATO DA ROMARIA DA MEDIANEIRA data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Um aspecto é indiscutível: a 77ª Romaria da Medianeira sai em 8 de novembro de 2020, independentemente de qualquer contexto, segundo assegurou o vigário-geral da Arquidiocese de Santa Maria e coordenador da Romaria, padre Ruben Natal Dotto. Porém, se haverá a peregrinação de romeiros pelas ruas da cidade ainda é um ponto a ser discutido e que dependerá do quanto a Covid-19 estará controlada.

Conforme padre Dotto, a exemplo das cerimônias de Corpus Chirsti, neste ano, é possível renovar a fé de diferentes maneiras.

- Não arrastamos multidão, mas andamos com o Santíssimo pelas ruas abençoando as pessoas, que saíram às sacadas , nas calçadas e na frente das casas, além de recolhermos 500 quilos de alimentos a pessoas necessitadas. Não foram feitos os eventos de maneira tradicional, mas procuramos vivenciar a fé de casa e redescobrindo nossos valores, fazendo com que as pessoas redescobrissem a vivência em família. Esse primeiro semestre foi assim. Para o segundo, esperamos que a pandemia passe, e que a Romaria, saia. Talvez, em novo molde, mas a manifestação vai acontecer para vivermos a devoção à Nossa Senhora Medianeira, a padroeira do Rio Grande do Sul e , manter viva a esperança em tampos difíceis. Essa é a função da fé.

Com procissões desde 1943, a Romaria da Medianeira reúne, todos anos em Santa Maria, milhares de fiéis de todo Brasil e outros países. No ano passado, foram 450 mil pessoas, segundo a organização do evento. Até o momento, a realização das missas obedecem as medidas de prevenção e distanciamento social da cidade.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

FEICOOP DEVE SAIR EM NOVEMBRO OU DEZEMBRO
A projeção para que a Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop), que geralmente ocorre no mês de julho, seja realizada em novembro ou dezembro deste ano. A informação é da coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança, irmã Lourdes Dill. A pendência da data é em relação a dois fatores:

- Depende da data das Eleições e, claro, se a situação do coronavírus vai melhorar. Mas, temos esperança de realizar a 27ª Feicoop em 2020 e 45ª Feira da Primavera - afirma irmã Lourdes.

Somente no ano passado, 302 mil pessoas visitaram a feira, no Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter, no Parque da Medianeira e na Escola Irmão José Otão. 

FESTAS E FORMATURAS ADIADAS
Com oito instituições de Ensino Superior, dezenas de escolas municipais, estaduais e particulares, Santa Maria tem contado, ao longo dos últimos anos, com forte atuação do ramo de formaturas e eventos, como aniversários e casamentos. As cerimônias movimentam uma cadeia de serviços que tem sido prejudicados pela pandemia. Em uma só festa, podem estar envolvidos serviços de decoração, floricultura, bufê, fotografia, aluguel de salões, garçons, rede hoteleira e tantos outros.

Jaqueline Mello, 43 anos, é organizadora de eventos ou event planner há 18 anos e, há sete, montou a própria empresa, a Primore Assessoria e Eventos, que atende Santa Maria e região. Os últimos meses têm sido de readaptações e expressiva redução nas demandas de trabalho:

- Tivemos uma queda de 86,36% nos eventos comparando-se ao ano passado. Estamos tendo que gerenciar diferentes perspectivas. As debutantes que têm aniversário entre março e julho deste ano, e que por ventura tiverem que adiar para o ano seguinte, terão de ressignificar seus 15 anos. Surge aí uma nova visão do evento: comemorar os 16 anos, como é feito nos Estados Unidos (EUA), por exemplo. Casamentos estão sendo adiados. Mas os mais afetados são as formaturas de inverno, que ocorrem em julho e agosto, que precisaram transferir sua recepção em função do adiamento da colação. Do curso de Odontologia, por exemplo, tivemos que postergar pela terceira vez. 

Atualmente, Jaqueline busca conscientizar seus clientes sobre a importância de remarcar seus eventos e não cancelar. Para ela, a fase deve passar, mas depende fundamentalmente da prevenção e consciência coletiva:

- Há um colapso em diversas atividades decorrente de todo esse cenário, mas acreditamos que, com diálogo, prudência e racionalidade, iremos, aos poucos, voltando à normalidade.

*Colaborou Carmen Staggemeier Xavier

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