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Foto: Renan Mattos (Diário)
Da infância nos anos 1990, Jéssica Espindola lembra de sair de casa para ir à Escola Municipal Hylda Vasconcellos e ter de dar meia volta por não conseguir cruzar no único caminho possível por conta da água que passava dos joelhos. A solução era voltar no colo do pai. Muitos de seus colegas assistiam às aulas embarrados e molhados em dias de chuva forte. Anos depois, quando optou pelo Técnico em Enfermagem, vestir branco e chegar ao estágio e, mais tarde ao trabalho, com a roupa limpa, era um desafio. Hoje, aos 27 anos, é pela própria saúde que a jovem reivindica mínimas condições de deslocamento. Ela passa por um tratamento oncológico, depende de cuidados domiciliares e aplicação de medicamentos três vezes ao dia.
É lá, a oito quilômetros do Centro da cidade, que Jéssica e pelos menos outras 40 famílias de uma região do Bairro Campestre do Menino Deus só conseguem sair de suas casas para trabalhar, ir à aula, ao mercado ou ao médico se passarem pela principal via de acesso que têm: a Travessa Espindola.
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Foto: Renan Mattos (Diário)
Travessa Espíndola em dia de forte chuva
- Eu estava grávida de oito meses quando começaram os sintomas. Fiz cesárea e depois, veio o diagnóstico do timoma - um câncer no timo (glândula do sistema linfático). Junto tive acúmulo de líquido no pericárdio, em volta do coração. Passei por seis procedimentos, quimio e radioterapia e, agora, dependo de atendimento domiciliar três vezes ao dia, pois é um caso complexo. Não quero ter de voltar ao hospital porque uma estrada não permite que eu esteja em casa com minha família e receba meu tratamento dignamente.
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A via fica às margens do Rio Vacacaí-Mirim. Em dias em que a chuva cai mais forte, o nível do rio sobe e transborda a única ponte sobre a Travessa Espindola, já que as tubulações que existem no local não dão conta de dar vazão à água.
Nos últimos dias, as consequências causadas pela chuva associada ao descaso com a travessa resultaram na demissão de Élton Ramos, 63 anos.
- Eu trabalhava há cinco anos em uma empresa de limpeza. Faltei dois dias porque com a chuvarada, não passava a pé e me colocaram para rua. E agora, a prefeitura vai me ajudar? - questiona.
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Restou aos moradores da região fazerem até uma "vaquinha", arrecadar fundos e largar cargas de pedra sobre a via, que não conta com a passagem do transporte público. O caminhão do lixo passa três vezes na semana.
- As crianças não têm um ônibus para ir para aula. A vida toda pedimos atenção para esse trecho, mas somente somos lembrados em época eleitoral, durante a campanha. Não falo só por mim, temos pessoas acamadas, cadeirantes e idosos aqui perto - protesta Jéssica.
Na última quarta-feira, a reportagem do Diário cruzou por uma equipe de profissionais de saúde da Unimed. Eles voltavam da casa de Jéssica, após o segundo atendimento do dia. Os relatos eram de preocupação.
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- Temos dificuldade de chegar. É uma que paciente precisa muito ser medicada e está tudo alagado - disse um técnico da equipe que não quis ter seu nome divulgado.
Por meio da Superintendência de Comunicação da prefeitura, foi informado que já havia uma ação prevista para a Travessa Espindola e que foi adiada por conta da chuva. Assim que o tempo permitir, uma equipe da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos deverá trocar a tubulação estreita por outra de diâmetro maior para dar mais vazão na água da chuva, além de abertura de valas, desentupimento de bueiros e outras manutenções necessárias.
