Foto: Renan Mattos (Diário)
Elas participaram do primeiro campeonato e os primeiros toques de bola do mais antigo time de futebol de campo feminino: a equipe Índia do Grêmio Atlético Imembuy em 1978.
Somente quase quatro décadas depois, é que Maria Marinho, a "Tuca", 55 anos, e Sonia Marinho,49, poderão assistir a uma Copa do Mundo de Futebol Feminino, democraticamente, em TV aberta. É que a Rede Globo, maior emissora do país, que alcança uma audiência de 100 milhões de pessoas, fará, pela primeira vez, a transmissão dos jogos ao vivo. O torneio, sediado na França, começa na próxima sexta-feira, e a nossa Seleção estreia no dia 9 de junho, diante da Jamaica.
De Porto Alegre, Taiane Flores, a santa-mariense que joga no Sport Club Internacional, espera ansiosa. Ela aposta no placar de 1 a 0, com gol de Marta. Já concentrada para o jogo, Andressinha (Andressa Marchry), craque convocada para a Copa e descoberta em peneiras na região quer fazer bonito em campo.
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A atmosfera que antecede as partidas faz bater mais forte os corações de torcedores ou de quem está ou já esteve em contato com bola. Na edição deste fim de semana, o Diário traz uma reportagem especial que faz um resgate da modalidade no Coração do Rio Grande, uma panorama da atual situação do esporte no município e relatos de jogadoras, pesquisadoras e dirigentes.
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"Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país", dizia o decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941. O artigo foi criado durante a Era Vargas e, somente em 1979, a lei foi finalmente revogada. Mas, o futebol feminino acabou sendo regulamentado alguns anos depois. À época, as primas Sonia Marinho, 49 anos e Maria Marinho, 55, a popular "goleira Tuca", desconheciam essa legislação. Se conhecessem, aliás, é bem possível que a ignorassem. É que elas, desde a infância, já corriam campo afora no Bairro Medianeira e até "fugiam de casa" para jogar bola. Tinham até um bordão: "Com as primas em campo, não existe placar em branco". A paixão pelo esporte envolvia toda a família e foi graças à mobilização coletiva que elas formavam aquele que seria o primeiro time feminino de futebol de campo de Santa Maria.
- No dia 14 de abril de 1978, foi fundado o time feminino do Grêmio Atlético Imembuy - Equipe Força Índia. No começo, ninguém sabia jogar, e o treinador João Carlos nos ensinou até como bater na bola. Tudo dependia de nós mesmas. Fazíamos pipoca e amendoim para juntar dinheiro e comprar fardamento, que, no início, era emprestado da equipe masculina. A nossa primeira farda teve números pintados à mão - lembra Tuca.
A atividade passou a movimentar a mulherada na cidade. Pouco tempo depois, um novo time surgia junto de uma saudável rivalidade: o Medianeira Futebol Clube, vinculado à empresa Transportes Medianeira. O auge das meninas de chuteira veio com a 1ª Copa Pepsi de Futebol Feminino, em 1981, com 16 equipes presentes.
Time do Inter-Sm na década de 1980
Já nos idos de 1982, o tradicional Inter-SM convidou algumas atletas para que formassem um time feminino no clube, o qual, veio a se consagrar no ano seguinte, Campeão Feminino do Interior.
- Sair do amador para jogar um estadual era algo muito bom. Bateu um arrependimento por desmancharmos tudo que construímos, mas por outro lado, jogamos no Beira Rio, no Olímpico, coisas que, na época, não teríamos condições. Foram momentos inesquecíveis, ganhamos do Inter (PoA) e do Grêmio na baixada. O clube financiava nosso time, mas tínhamos uma copa dentro do estádio para tiramos dinheirinho para as viagens - explica a goleira.
A alegria durou pouco, segundo as jogadoras. O time delas não dava o mesmo retorno que o masculino.
- Aconteceu que fomos para o Riograndense (praticamente todo o time!) do dia para noite. A minha posição era: "onde precisava". Fomos bem recebidas. Lá, sempre foi difícil, mas tínhamos todo apoio. Infelizmente, também acabou por falta de verba - conta a ex-jogadora Sonia.
Os anos posteriores foram de vácuo na modalidade e partidas improvisadas. Na década de 1990, o campeonato Citadino deu uma sobrevida aos times, mas que não perdurou. Restavam os jogos de futebol 7, com times menores. Em 2013, a Copa Verão não seguiu com edições anuais.
Time feminino do Riograndense na década de 1980
Paixão atemporal
Hoje, as primas vivem de saudade e lembranças da época de ouro do futebol de campo. Nunca se afastaram. Assistem aos jogos, leem, debatem. Tuca acompanham os jogos do filho, e Sonia, das netas.
- Desde a época em que começamos a jogar, melhorou. Mas muito porque partiu das próprias atletas, que também dirigiam os times. A gente realmente de estar ali e essa paixão nunca mais parou. Tenho amizades de 30, 40 anos, que o esporte me deu - diz Tuca.
Tuca, goleira de times da cidade
Sonia, também saudosa, é crítica em relação à baixa adesão da modalidade na cidade:
- Dizem que não tem time. Mas se sair campeonato, aparece mulher para jogar. Eu, que "fugia de casa" escondida da mãe, hoje me encanto vendo os pais trazendo as filhas para jogar. E olha o tamanho da nossa universidade (UFSM). Não era para ter uma equipe de futebol feminina? Tem ônibus, alojamento, estrutura. Olha como é em países como Estados Unidos e Alemanha. Eles investem nas meninas desde o colégio. Por que aqui não pode ser assim?
Sonia, jogadora de vários times da cidade
Futebol feminino de campo
- 14 de abril de 1978 - 1º time de futebol feminino de Santa Maria - Grêmio Atlético Imembuy - Equipe Força Índia
- 1981 - 1ª Copa Pepsi de Futebol Feminino
- 1982 - 2ª Copa Pepsi de Futebol Feminino
- 1982 - Inter-SM forma um time feminino
- 1983 - Meninas do Inter- SM saem campeãs do Interior
- 1984 - Formado o time feminino do Riograndense
FOTOS: Renan Mattos e arquivo pessoal/ Maria Marinho, "Tuca"
